Alceu Valença: bailão progressivo

Apresentações na Ópera de Arame invariavelmente possuem um clima que beira o surreal, já que o ambiente encanta até o coração mais gelado. Junte a isso mais de 40 anos de uma carreira sólida, uma desenvoltura magistral, uma simpatia grandiosa e a qualidade musical de um espetáculo hipnotizador e, bem, temos as receita pronta do que Alceu Valença aprontou em Curitiba. Venha conferir!

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ESTAÇÃO DA LUZ

Aos 69 anos, Alceu se mostra mais disposto e jovem que muito amigo de 20 que tenho. O homem não para um segundo no palco e, já nos primeiros acordes de sua primeira música, fez com que todas a pessoas presentes em um local lotado se levantassem de suas cadeiras, apreciando, dançando, cantando.

Os pés do homem-moço faziam passinhos enquanto ele cantava, criavam vida própria. No primeiro momento de diálogo com o público, o cantor não poupou o cenário musical atual, que considera vulgar, sem tanta poesia. E não é que quase concordei? Mas aí lembrei que existem bandas como essas e mais outras que deviam mais é tomar um café com ele numa tarde de domingo.

Nesse mesmo discurso, lançou, ali, uma congregação: a Igreja Comunhão da Música. Não é preciso dizer que todos ali, sem exceção, foram fiéis. Dela, participam pessoas de qualquer cor, credo, orientação sexual… Dela, participam os devotos da música de qualidade. Pretensioso? Talvez. Sem razão? Não.

Com seus trejeitos e domínio de público, trouxe narrativas, histórias que precediam uma música e outra. Alceu é tão teatral que se deitou no palco e, logo depois, imitou um cachorro, antes de Como dois animais. O público esfriou um pouco nesse momento, entretanto, voltou com tudo no refrão da música.

Houve solos de guitarra, houve desenvolvimento musical que lembrava Pink Floyd. A qualidade da equipe que o acompanha é inquestionável, e Alceu não desafina. Alceu encanta, arrepia!

No bis, ele, que não precisava de berros para voltar ao palco, incentivou todo mundo a fazer mais barulho ainda. Alceu não faz sala. Ele cria um baile pra todos. Agradeceu inúmeras vezes pela recepção calorosa, mal sabendo que quem gerava aquele clima gostoso era o poder de sua voz. Encerrou a apresentação com La belle de jour e Tropicana (morena tropicana), não deixando um parado. Saiu do palco sem despedidas nem nada logo depois.

Em dado momento do show, Alceu Valença disse que, no show dele, os artistas somos nós. Obrigado, Alceu, por nos colocar no palco junto com o que você tem de melhor: a música. Amém.

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Créditos das imagens: Gosmma/Curitiba Cult

Por Alex Franco
01/11/2015 21h10