Hoje não escrevo de casa. Da sacada deste apartamento, vejo, à extrema direita, os condomínios murados de um bairro de luxo. À frente, como um fogaréu, o vermelho-vivo do telhado das casas se espalha ao redor do Farol Novo, que eu não conhecia. Precisei jogar no Google. Descobri que foi inaugurado em 2017, quando eu ainda morava aqui. Não conheço o Farol Novo. Tampouco conheço o Velho. Muita coisa daqui eu nunca conheci.
Hoje não escrevo de casa. Da sacada, à extrema esquerda, vejo uma nesga de mar entre dois prédios. Quase se confunde com o céu, é preciso apertar o olho para, sob o sol absoluto, se divisar um horizonte entre água e firmamento. Faz calor, mas, sob o abrigo desta que não é a minha casa, não reclamo. Uma brisa constante ajuda a abrir os pulmões e, ali do lado, colibris bebem da água açucarada que meu pai lhes preparou.
De repente, escuto tsss de carne contra metal quente. É meu pai cozinhando para mim. Ele fez questão de prenunciar, ainda na quarta, que hoje, sexta, almoçaríamos feijoada. Meu pai gosta de cozinhar, e cozinha porque lhe é difícil dizer eu te amo. Para mim também é difícil, papai, por isso hoje vou almoçar sua comida como se estivesse diante de um banquete.
Hoje não escrevo de casa. Cheguei ontem de madrugada, quando, com luz tímida, o Farol Novo ainda rodopiava em sua missão de trazer de volta a terra navegantes perdidos. Uma peregrinação. Nove horas de voos e aeroportos, muitas mais horas, anos talvez, para de fato regressar. No avião, para poder guardar minha mala, precisei perguntar três vezes de quem eram as mochilas no compartimento acima dos assentos. Ninguém respondeu. Quando o comissário interveio, a dona da bagagem reagiu com gritos e palavrões, provavelmente dirigidos a mim. Quis esbravejar de volta, mas me flagrei segurando choro. Minha cidade natal me embrutece, minha cidade natal me amenina. Aqui, meu sotaque se acentua, falo ligeiro, corto o final das palavras, fico ainda mais difícil de entender. Em meio à brasa urbana, minha paciência derrete, tenho o ímpeto de acotovelar pessoas nas ruas, me revolto contra toda a civilização intertropical. Aqui, me sinto vulnerável, tenho medo da violência da cidade, tenho medo de, perto da minha família, voltar a ser o menino que um dia eu fui.
Revi-os quase todos. Minha avó está muito melhor do que eu imaginava. Caminha bem, ouve bem, fala bem, e, por tudo isso, me demoro na ilusão de que viverá para sempre. Uma de minhas tias me mandou um áudio de dois minutos se desculpando por não poder ir ao lançamento do meu livro. De propósito, não lhe dei resposta. Também tenho minhas crueldades. Uma outra se escandalizou com um conto meu, talvez nunca volte a falar comigo. Dou de ombros – tudo nessa vida tem um preço. Na saída do evento, minha irmã se queixa de que eu nunca a procuro para conversar. Eu nego, desminto, mas sei que ela fala a verdade. Seu rosto é um desconcertante reflexo do meu, e isso também me machuca. Quase tudo em matéria de família me é insuportável.
Reencontro minha mãe e ela me diz que, dia desses, levou uma queda e luxou o braço. Estava sozinha na rua e riram dela quando caiu. Não conseguiu se levantar sozinha. Precisou da ajuda de um taxista para, também sozinha, seguir até o hospital. Fico comovidíssimo, mas não sei o quanto daquilo é verdade. Antes de se despedir de mim, ela me anuncia, numa reminiscência religiosa, que ninguém é profeta em sua terra. Quero sair dali, quero ir embora o quanto antes. Quase tudo em matéria de família me é insuportável, e eu não quero voltar a ser o menino que um dia eu fui.
Hoje não escrevo de casa, mas me reuni com bons amigos. A amiga de infância ainda se recorda da redação que, escrita há mais de 15 anos, daria origem a um dos contos do livro. Quase choro. Outra amiga esteve doente e precisou desmarcar todos os compromissos, mas fez questão de comparecer ao lançamento. No dia de minha chegada, minha melhor amiga sonhou que seu carro era roubado em frente ao prédio de um ex-namorado meu. Ela me perguntou, brincando, se não seria um sinal de que ele nos odiava. Eu respondi, sério, que sim – tudo nessa vida tem um preço. Durante um café com ela, toca Moonriver, que é um pouco nossa música, e nos damos as mãos. Quase choramos. De noite, ela me apresenta sua cachaça favorita, de nome alemão, que, por pura vaidade, leio em voz alta, com pronúncia apurada. Quero que ela me ache inteligente, quero que, por isso, ela me ame mais. Na hora dos parabéns, a aniversariante aparece com minha torta favorita. Pura coincidência. Tomo isso por um sinal do universo e noticio o fato aos demais convidados. Sou o único a ganhar mais um pedaço da torta de creme de ninho com geleia de morango. Amargo, doce e azedo, tudo numa mordida só.
Hoje não escrevo de casa, mas é sobre esta casa, que não é mais minha, que eu escolho escrever. Custarei a assumir, mas sentirei saudades, Fortaleza.
Data de Lançamento: 21 de novembro
Retrato de um Certo Oriente, dirigido por Marcelo Gomes e inspirado no romance de Milton Hatoum, vencedor do Prêmio Jabuti, explora a saga de imigrantes libaneses no Brasil e os desafios enfrentados na floresta amazônica. A história começa no Líbano de 1949, onde os irmãos católicos Emilie (Wafa’a Celine Halawi) e Emir (Zakaria Kaakour) decidem deixar sua terra natal, ameaçada pela guerra, em busca de uma vida melhor. Durante a travessia, Emilie conhece e se apaixona por Omar (Charbel Kamel), um comerciante muçulmano. Contudo, Emir, tomado por ciúmes e influenciado pelas diferenças religiosas, tenta separá-los, o que culmina em uma briga com Omar. Emir é gravemente ferido durante o conflito, e Emilie é forçada a interromper a jornada, buscando ajuda em uma aldeia indígena para salvar seu irmão. Após a recuperação de Emir, eles continuam rumo a Manaus, onde Emilie toma uma decisão que traz consequências trágicas e duradouras. O filme aborda temas como memória, paixão e preconceito, revelando as complexas relações familiares e culturais dos imigrantes libaneses em um Brasil desconhecido e repleto de desafios.
Data de Lançamento: 21 de novembro
A Favorita do Rei é um drama histórico inspirado na vida de Jeanne Bécu, filha ilegítima de uma costureira humilde, que alcança o auge da corte francesa como amante oficial do rei Luís XV. Jeanne Vaubernier (interpretada por Maïwenn) é uma jovem ambiciosa que, determinada a ascender socialmente, utiliza seu charme para escapar da pobreza. Seu amante, o conde Du Barry (Melvil Poupaud), enriquece ao lado dela e, ambicionando colocá-la em um lugar de destaque, decide apresentá-la ao rei. Com a ajuda do poderoso duque de Richelieu (Pierre Richard), o encontro é orquestrado, e uma conexão intensa surge entre Jeanne e Luís XV (Johnny Depp). Fascinado por sua presença, o rei redescobre o prazer da vida e não consegue mais se imaginar sem ela, promovendo-a a sua favorita oficial na corte de Versailles. No entanto, esse relacionamento escandaloso atrai a atenção e o desagrado dos nobres, provocando intrigas e desafios que Jeanne terá de enfrentar para manter sua posição privilegiada ao lado do monarca.
Data de Lançamento: 21 de novembro
Em A Linha da Extinção, do diretor Jorge Nolfi, nas desoladas Montanhas Rochosas pós-apocalípticas, um pai solteiro e duas mulheres corajosas se veem forçados a deixar a segurança de seus lares. Unidos por um objetivo comum, eles embarcam em uma jornada repleta de perigos, enfrentando criaturas monstruosas que habitam esse novo mundo hostil. Com o destino de um menino em suas mãos, eles lutam não apenas pela sobrevivência, mas também por redenção, descobrindo a força da amizade e o poder da esperança em meio ao caos. Essa aventura épica revela o que significa ser família em tempos de desespero.
Data de Lançamento: 21 de novembro
Baseado no musical homônimo da Broadway, Wicked é o prelúdio da famosa história de Dorothy e do Mágico de Oz, onde conhecemos a história não contada da Bruxa Boa e da Bruxa Má do Oeste. Na trama, Elphaba (Cynthia Erivo) é uma jovem do Reino de Oz, mas incompreendida por causa de sua pele verde incomum e por ainda não ter descoberto seu verdadeiro poder. Sua rotina é tranquila e pouco interessante, mas ao iniciar seus estudos na Universidade de Shiz, seu destino encontra Glinda (Ariana Grande), uma jovem popular e ambiciosa, nascida em berço de ouro, que só quer garantir seus privilégios e ainda não conhece sua verdadeira alma. As duas iniciam uma inesperada amizade; no entanto, suas diferenças, como o desejo de Glinda pela popularidade e poder, e a determinação de Elphaba em permanecer fiel a si mesma, entram no caminho, o que pode perpetuar no futuro de cada uma e em como as pessoas de Oz as enxergam.
Data de Lançamento: 20 de novembro
No suspense Herege, Paxton (Chloe East) e Barnes (Sophie Thatcher) são duas jovens missionárias que dedicam seus dias a tentar atrair novos fiéis. No entanto, a tarefa se mostra difícil, pois o desinteresse da comunidade é evidente. Em uma de suas visitas, elas encontram o Sr. Reed (Hugh Grant), um homem aparentemente receptivo e até mesmo inclinado a converter-se. Contudo, a acolhida amistosa logo se revela um engano, transformando a missão das jovens em uma perigosa armadilha. Presas em uma casa isolada, Paxton e Barnes veem-se forçadas a recorrer à fé e à coragem para escapar de um intenso jogo de gato e rato. Em meio a essa luta desesperada, percebem que sua missão vai muito além de recrutar novos seguidores; agora, trata-se de uma batalha pela própria sobrevivência, na qual cada escolha e cada ato de coragem serão cruciais para escapar do perigo que as cerca.