Há algumas semanas, eu afirmei aqui que, se me sobrecarrego de atividades, passo a viver literalmente sem ar. A muitos isso pode ter soado como uma hipérbole, a outros tantos, como a milionésima vez em que que este mui incompreendido advérbio de modo foi usado de maneira equivocada. Estarão todos errados. Nem afetação de estilo, nem mau português: condição psiquiátrica.
A primeira crise me aconteceu há uns bons três ou quatro anos. Fazia poucos meses que eu tinha espremido minha vida inteira dentro de duas malas e, cruzando um país de dimensões continentais, me mudado para o Paraná. No processo, deixei para trás família, amigos de décadas e um namoro de quatro anos que, quanta ingenuidade, achei que fosse durar, apesar da distância. Não durou. Além da solidão e da solteirice repentina, lançado eu no que claramente só podia ser uma continuação baixo orçamento de Ghost, Do Outro Lado da Vida (sim, gente, isso foi uma referência aos muitos ghosting que levei), a nova rotina me trouxe quantidades colossais de um trabalho para o qual eu não estava em absoluto preparado. Meu dia se resumia a trabalhar (ih, deu 18h e entraram mais 35 processos na caixa), ir à academia (talvez você não estivesse levando tantos ghosting assim se fosse gostoso o suficiente), comer (não, doce não pode) e dormir. Duras penas e, ainda mais grave – que Freud nos ajude! –, um grande sonho realizado. Não tinha como dar bom.
Não deu. A gente às vezes esquece que ser humano é cabeça, mas também é corpo, e que, entre uma e outro, a comunicação nem sempre funciona tão bem. Sob interferências sinápticas e ruídos linguísticos, a mensagem ou se perde de vez ou resulta críptica, misteriosa – depois, haja análise para tentar traduzir. Em constante estado de alerta, meu cérebro entendeu que eu estava em perigo, e bicho em perigo se encrespa, fica tenso, retesa os músculos, respira curto. Uma explicação mais sofisticada para o fenômeno parte de uma cilada da linguagem: soterrado de afazeres, sob o peso de toneladas de responsabilidades, meu peito se comprimiu e meu pulmão deixou de ter a capacidade de se expandir. Por mais que eu puxasse, o ar não vinha. O que se seguiu, mãos formigando e visão turva, foi nada além de uma consequência natural.
Por mais hipocondríaco que eu seja, me esforcei a vida inteira para não precisar recorrer a remédios psiquiátricos. Não porque acho que haja nisso qualquer tipo de derrota ou demérito pessoal, mas porque meu histórico familiar com psicotrópicos não é nada bom. Cresci vendo de perto o estrago que, sob abuso ou má utilização, esses medicamentos podem causar. Dependência, alterações metabólicas, letargia, brancos, ausências, efeitos colaterais de toda ordem. Estive deitado eternamente em berço nada, nada esplêndido (o divã) justo para tentar driblar fantasmas que, acumulados ou mal contornados – resolver mesmo não se resolvem nunca –, terminassem por me conduzir pelo caminho das drogas. Lutei com unhas e dentes, mas mesmo a associação livre tem seus limites. Se meu corpo se voltava contra mim daquele jeito, curto-circuitando a função mais básica de seu funcionamento, era chegada a hora de assumir que ele – que eu – precisava de ajuda médica.
Para encontrar o profissional correto, realizei uma vasta pesquisa no mais renomado catálogo médico do Brasil (o Doctoralia). Em seguida, marquei a bendita consulta com o psiquiatra mais capacitado da região (não confirmo nem nego que o médico ser bonitinho foi um dos meus critérios de escolha).
No consultório, tentei me esquivar como pude.
— Você sente raiva generalizada?
— Sim, doutor, mas é que a humanidade é irritante mesmo.
— Tremedeira?
— Sim, doutor, mas é que sofro de tremor essencial.
— Dores de cabeça?
— Mais das metafóricas, doutor.
— Bruxismo?
— Sim, doutor, mas a dentista jurou que o aparelho invisível que me custou a entrada de um apartamento logo ia resolver o problema.
— Cansaço crônico?
— Não era isso que nossos pais queriam, doutor?
— E o sono?
— Sonho mais do que durmo, doutor.
— A coluna trava?
— Só quando não tô no relaxante muscular, doutor.
— Disfunção Erét…
— Ok, doutor, o doutor me convenceu, passe logo esses remédios para cá.
Depois de gabaritar a anamnese clínica, saí do consultório com três receitinhas, duas brancas e uma azul. Logo abri mão do tarja preta, que me fazia olhar a vida distante, em câmera lenta, e do hipnótico, que, além de causar amnésia, dizem que leva os pacientes a cometerem loucuras em estado de transe (deve ser mentira – eu, pelo menos, não me recordo de nada). Ficou o ansiolítico de nome poético que, na realidade, é um medicamento contra dor neuropática. Não digo que os céus se abriram e feixes de luz divina se derramaram sobre mim ao som de líricas harpas, mas o ponto-gatilho nas costas se dissolveu, as articulações temporomandibulares relaxaram, o frenesi ralentou. E, sobretudo, voltei a respirar fundo, bem fundo, a caixa torácica se expandindo livre de constrições.
Tomei o ansiolítico por algum tempo. Quase não tive efeitos colaterais, ele me foi um bom companheiro. Mas nada é para sempre, e hipermedicamentalizar a vida não é bom: faz bem encarar que ela é dura. O que acontece é que, no precário diálogo entre corpo e mente, dor é interjeição. Sintomas nunca são fáceis de decifrar, mas estão sempre insistindo em querer nos dizer algo. Faz bem escutá-los com os ouvidos desembotados. Em tempos de neurose generalizada, não podemos mais nos dar ao luxo de varrê-los para debaixo do tapete.
Não falo, claro, das situações em que a existência mesma se inviabiliza sem os remédios – em circunstâncias assim, parar seria um erro gravíssimo. Falo de mim. No meu caso, a proposta era que eu tomasse remédio até sair da crise. Estou atualmente em pleno desmame (ainda sem saber se, de fato, a crise já passou). A respiração está um pouco mais difícil, tenho pelejado para encontrar meios alternativos de controle de ansiedade. Tudo é aposta, não há garantia de nada. Depois, num próximo texto, trago notícias sobre se tenho conseguido. Espero que sim.
Data de Lançamento: 21 de novembro
Retrato de um Certo Oriente, dirigido por Marcelo Gomes e inspirado no romance de Milton Hatoum, vencedor do Prêmio Jabuti, explora a saga de imigrantes libaneses no Brasil e os desafios enfrentados na floresta amazônica. A história começa no Líbano de 1949, onde os irmãos católicos Emilie (Wafa’a Celine Halawi) e Emir (Zakaria Kaakour) decidem deixar sua terra natal, ameaçada pela guerra, em busca de uma vida melhor. Durante a travessia, Emilie conhece e se apaixona por Omar (Charbel Kamel), um comerciante muçulmano. Contudo, Emir, tomado por ciúmes e influenciado pelas diferenças religiosas, tenta separá-los, o que culmina em uma briga com Omar. Emir é gravemente ferido durante o conflito, e Emilie é forçada a interromper a jornada, buscando ajuda em uma aldeia indígena para salvar seu irmão. Após a recuperação de Emir, eles continuam rumo a Manaus, onde Emilie toma uma decisão que traz consequências trágicas e duradouras. O filme aborda temas como memória, paixão e preconceito, revelando as complexas relações familiares e culturais dos imigrantes libaneses em um Brasil desconhecido e repleto de desafios.
Data de Lançamento: 21 de novembro
A Favorita do Rei é um drama histórico inspirado na vida de Jeanne Bécu, filha ilegítima de uma costureira humilde, que alcança o auge da corte francesa como amante oficial do rei Luís XV. Jeanne Vaubernier (interpretada por Maïwenn) é uma jovem ambiciosa que, determinada a ascender socialmente, utiliza seu charme para escapar da pobreza. Seu amante, o conde Du Barry (Melvil Poupaud), enriquece ao lado dela e, ambicionando colocá-la em um lugar de destaque, decide apresentá-la ao rei. Com a ajuda do poderoso duque de Richelieu (Pierre Richard), o encontro é orquestrado, e uma conexão intensa surge entre Jeanne e Luís XV (Johnny Depp). Fascinado por sua presença, o rei redescobre o prazer da vida e não consegue mais se imaginar sem ela, promovendo-a a sua favorita oficial na corte de Versailles. No entanto, esse relacionamento escandaloso atrai a atenção e o desagrado dos nobres, provocando intrigas e desafios que Jeanne terá de enfrentar para manter sua posição privilegiada ao lado do monarca.
Data de Lançamento: 21 de novembro
Em A Linha da Extinção, do diretor Jorge Nolfi, nas desoladas Montanhas Rochosas pós-apocalípticas, um pai solteiro e duas mulheres corajosas se veem forçados a deixar a segurança de seus lares. Unidos por um objetivo comum, eles embarcam em uma jornada repleta de perigos, enfrentando criaturas monstruosas que habitam esse novo mundo hostil. Com o destino de um menino em suas mãos, eles lutam não apenas pela sobrevivência, mas também por redenção, descobrindo a força da amizade e o poder da esperança em meio ao caos. Essa aventura épica revela o que significa ser família em tempos de desespero.
Data de Lançamento: 21 de novembro
Baseado no musical homônimo da Broadway, Wicked é o prelúdio da famosa história de Dorothy e do Mágico de Oz, onde conhecemos a história não contada da Bruxa Boa e da Bruxa Má do Oeste. Na trama, Elphaba (Cynthia Erivo) é uma jovem do Reino de Oz, mas incompreendida por causa de sua pele verde incomum e por ainda não ter descoberto seu verdadeiro poder. Sua rotina é tranquila e pouco interessante, mas ao iniciar seus estudos na Universidade de Shiz, seu destino encontra Glinda (Ariana Grande), uma jovem popular e ambiciosa, nascida em berço de ouro, que só quer garantir seus privilégios e ainda não conhece sua verdadeira alma. As duas iniciam uma inesperada amizade; no entanto, suas diferenças, como o desejo de Glinda pela popularidade e poder, e a determinação de Elphaba em permanecer fiel a si mesma, entram no caminho, o que pode perpetuar no futuro de cada uma e em como as pessoas de Oz as enxergam.
Data de Lançamento: 20 de novembro
No suspense Herege, Paxton (Chloe East) e Barnes (Sophie Thatcher) são duas jovens missionárias que dedicam seus dias a tentar atrair novos fiéis. No entanto, a tarefa se mostra difícil, pois o desinteresse da comunidade é evidente. Em uma de suas visitas, elas encontram o Sr. Reed (Hugh Grant), um homem aparentemente receptivo e até mesmo inclinado a converter-se. Contudo, a acolhida amistosa logo se revela um engano, transformando a missão das jovens em uma perigosa armadilha. Presas em uma casa isolada, Paxton e Barnes veem-se forçadas a recorrer à fé e à coragem para escapar de um intenso jogo de gato e rato. Em meio a essa luta desesperada, percebem que sua missão vai muito além de recrutar novos seguidores; agora, trata-se de uma batalha pela própria sobrevivência, na qual cada escolha e cada ato de coragem serão cruciais para escapar do perigo que as cerca.