Belfast é uma memória reluzente de um período trágico

Foto: Rob Youngson / Focus Features

Depois de tantos filmes de guerra e abusando da estética de produções feitas para agradar a Academia, Belfast traz uma memória reluzente e infantil de um período trágico. O longa é uma espécie de autobiografia do diretor, Kenneth Branagh, e, apesar de mascarar os reais problemas do embate entre protestantes e católicos, é um retrato emocionante e esperançoso ditado por uma criança.  

Belfast, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (10), acompanha uma família católica da classe operária da Irlanda do Norte no final dos anos 60 e no ápice da guerra civil no país. Acompanhamos o filme pelos olhos de Buddy, o caçula da família interpretado por Jude Hill, que se vê em meio de conversas de gente grande ao enfrentar os seus próprios dilemas – bem mais simples.

Com uma atmosfera lúdica, o diretor ressignifica as suas memórias, transformando um momento trágico em uma história sobre família, esperança e recomeços. Apesar de parecer uma forma de manipulação de fatos, o filme aparenta ser uma fábula escrita de forma sincera por uma criança que enxerga o lado mais simples da vida. 

O roteiro escrito por Brannagh, mesmo criticado, é democrático e capaz de encantar todos os públicos, Os personagens são construídos de forma que qualquer pessoa do cinema conhece ou tem uma avó ou uma prima parecidos com os de Buddy. 

Embora seja comum entre os filmes indicados ao Oscar, a escolha de gravar o filme em preto e branco é certeira. A fotografia de Belfast transporta audiência a uma época hoje distante tornando a história de Buddy ainda mais imersiva. 

O elenco do filme é um acerto à parte. Caitriona Balfe e Jamie Dornan, que interpretam os pais do menino, possuem uma química inegável e são capazes de cativar a empatia de quem assiste ao lidar com as escolhas de uma possível mudança, mesmo sendo apaixonados pelo lugar onde cresceram. 

Belfast, que recebeu sete indicações ao Oscar, fez jus a seu desempenho e promete levar algumas estatuetas para casa.

Por Deyse Carvalho
10/03/2022 09h00

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