Licorice Pizza é apenas um sonho adolescente de mau gosto

Foto:; Divulgação/Metro-Goldwyn-Mayer Pictures

Até que ponto a romantização do suposto amor proibido é permitida? Aparentemente, pelo apego à nostalgia, a Academia tem deixado passar até crimes. Licorice Pizza, filme produzido, escrito e dirigido por Paul Thomas Anderson, acompanha a sem graça e bizarra  história de amor entre um adolescente espinhento e uma mulher adulta sem rumo na vida. 

Em Licorice Pizza, Gary Valentine (Cooper Hoffman), um ator mirim de 15 anos que se apaixona por Alana Kane (Alana Haim), de 25 anos, que ainda não sabe o que quer fazer da vida. Embalado pela excentricidade e leveza dos anos 70, os amigos descobrem o seu rumo na grande cidade de Los Angeles.

A magia da cidade dos anjos não consegue apagar a diferença de idade entre Gary e Alana. Muito pelo contrário, parece apenas evidenciar o problema. As crianças parecem estar em um lindo sonho americano, mas isto só é possível pela presença da protagonista que além de figura responsável também se torna motorista da turminha.

A trapaça – ou esperteza-, assim como em O Beco do Pesadelo, também é um dos combustíveis para o desenvolver da narrativa. Em outro contexto, o personagem de Cooper Hoffman seria melhor aproveitado. Mas em Licorice Pizza, Gary e seu sucesso só parecem ser mais um dos elementos do sonho de todo garoto de 15 anos. 

Nenhum sonho adolescente seria completo sem a paixão pela mulher mais velha, e é aí que Alana entra. A jovem de 25 (ou 28) anos não é nada mais que uma tela em branco para o tão esperto adolescente poder pintar e moldar do jeito que deseja. Ele a usa como garota propaganda, tenta transformá-la em atriz, motorista, até cozinheira. E essa relação entre os dois se evidencia, quando Alana decide fazer algo diferente por si e o seu até então amigo vira as costas. 

O mais preocupante é que nenhum dos personagens parece se importar com a relação dos dois, nem mesmo a própria família dos protagonistas. 

O roteiro, apesar de conter elementos que agradam o público, peca em desperdiçar o elenco talentoso a criar um desfecho desinteressante. Mesmo com o ar de coming of age, os protagonistas não parecem ter crescido. O garoto finge ser um adulto mesmo tendo atitudes de criança e a adulta da relação termina o filme do mesmo jeito que começou: sem rumo e desta vez numa relação problemática.

Mesmo com uma trama tão profunda quanto uma poça, as atuações são brilhantes. Os coadjuvantes roubam a cena, seja Bradley Cooper interpretando o exagerado Jon Peters, Sean Penn interpretando o caricato Jack Holden. As outras crianças do elenco também não deixam a desejar e acrescentam na atmosfera deslumbrante.

Acumulando mais erros que acertos, a posição entre os indicados a Melhor Filme de Licorice Pizza se torna questionável.

Por Deyse Carvalho
17/02/2022 09h00

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