A Jaula traz retrato exagerado do Brasil de 2022 em suspense agudo

Foto: Divulgação/Buena Vista Brasil / Pipoca Moderna

Com o roteiro de tirar o fôlego, A Jaula, suspense estrelado por Chay Suede e dirigido por João Wainer, traz esperança para o futuro do gênero do país. A adaptação do filme argentino 4X4 de 2019 aborda pautas sócio-econômicas e políticas ancoradas no dilema que é fazer ou não justiça com as próprias mãos.  

No longa, Chay Suede interpreta Djalma, um jovem ladrão que encontra um alvo fácil: um carro de luxo numa rua pacata. Para o azar do protagonista, o carro se transforma em um cárcere comandado por seu dono, um ginecologista famoso que, cansado de ser assaltado, decide dar uma lição no rapaz.

Por ter apenas 1h41min o filme aproveita cada segundo como se fosse o último. Em cada cena o roteiro provoca o público nem que seja com uma singela frase. Até a propositalmente rasa construção dos personagens é desenvolvida ao redor dessa premissa. Em A Jaula, o ladrão e o médico são representações de um recorte social e é isso que dá rumo à narrativa.

Sendo um retrato do período em que foi feito, o filme abusa dos absurdos envolvendo a violência, a mídia, a corrupção da polícia e dos valores sociais. Em uma imitação dos programas policiais, o respeito aos direitos humanos é posto à prova e assusta gerando um resultado não muito distante da realidade onde o desejo de se tornar um herói do povo tem se tornado ainda mais comum.

Chay Suede entra em sintonia com seu personagem trazendo uma performance visceral, diferente dos papéis de bom moço que frequentemente assume nas novelas da vida. O longa abrange o leque do ator junto com as possibilidades que podem ser exploradas no cinema nacional.

Alexandre Nero, apesar de interpretar um personagem subversivo, parece trazer uma versão mais irada do Comendador, protagonista da novela Império. Talvez esse seja o motivo da escolha do ator, mas talvez uma opção não tão óbvia traria melhores resultados. 

Foto: Divulgação/Felipe Silva

Infelizmente, A Jaula talvez chegue apenas no pare na bolha desconstruída, que já repete e protagoniza os debates do longa. Mesmo assim, o filme ainda se destaca em ser intensamente brasileiro – não do jeito que gostaríamos.

Por Deyse Carvalho
15/02/2022 13h20

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