Antes de entrarmos efetivamente na história de Zumbi e na da formação dos Quilombos, acredito que seja importante voltarmos um pouquinho na história do Brasil e no processo de colonização.
Vamos lá: corriqueiramente a gente fala sobre “descobrimento do Brasil”, mas me parece estranho que um território supostamente descoberto já contasse com milhares de moradores.
Estudos apontam que, quando da chegada dos portugueses, havia um número aproximado de 8 a 40 milhões de indígenas vivendo aqui com mais de mil povos de diferentes lugares e culturas.
Hoje, esses mesmos moradores precisam lutar de forma extremamente desigual e incessante para poder chamar de seu um pequeno território, quando, originalmente sempre foram os donos. Ou seja, o ‘descobrimento’ é uma visão eurocêntrica da coisa toda.
Em entrevista ao documentário Guerras do Brasil, Ailton Krenak afirma que “o Brasil nasceu da invasão: primeiros pelos portugueses, depois pelos holandeses e continuada pelos franceses, e essas invasões, elas nunca tiveram fim […]”.
Krenak é ambientalista, militante indígena e ambiental, e autor de livros Ideias Para Adiar o Fim do Mundo, O Amanhã Não Está à Venda e A Vida Não é Útil, além disso, participou da Assembleia Constituinte de 1988 e da Aliança dos Povos da Floresta, de Chico Mendes.
Durante os 100 primeiros anos da colonização dos povos originários os portugueses estabeleceram o sistema de troca, consolidaram a busca por matéria prima, intensificaram a conquista do território brasileiro e deram início ao processo de escravização indígena, iniciando assim o sistema produtivo de cana de açúcar no país.
Alguns dos privilégios jurídicos e fiscais atribuídos aos donatários o estabelecimento dos engenhos eram a “isenção de taxas sobre a produção de açúcar, exclusividade na fabricação de moendas e engenhos d’água, honrarias e títulos, escravização dos indígenas”.
Essa e outras informações sobre a trajetória da cana de açúcar podem ser consultadas em trabalho lançado pela EDUFU – Editora da Universidade Federal de Uberlândia, cujo livro foi publicado em 2020 e recebeu o título de A trajetória da cana-de-açúcar no Brasil: perspectivas geográfica, histórica e ambiental.
Pautados em justificativas baseadas na recusa da propagação da fé cristã por parte dos ‘bárbaros destituídos de moralidade’, ‘adeptos do canibalismo’ e ‘ataques violentos’ ao europeus – leia-se, defesa – se estabelece o cenário perfeito para a fundamentação da “Guerra Justa”.
Durante a colonização portuguesa os povos originários, donos desse território, foram enganados, expostos às mais diversas doenças trazidas pelos portugueses, catequizados, e na condição de escravizados foram obrigados a trabalhar até a exaustão, resultando no que se conhece hoje como o genocídio dos povos originários que, embora iniciado com a chegada dos portugueses, perdura até hoje, como exemplo a Proposta de Emenda à Constituição, a PEC 215/2000.
Outros personagens, mas segue o Modus Operandi europeu: à prática comum portuguesa baseada na mão de obra escrava.
A busca por mão de obra barata, aliados à prática comum portuguesa baseada no trabalho escravo, fez com que o continente africano fosse alvo de sequestro e do tráfico transatlântico, que ficou conhecido como uma das maiores diásporas históricas seguidas de genocídio: o período escravocrata.
Talvez você já tenha ouvido o argumento que consiste em dizer que ‘a prática de escravidão surgiu na África’. Isso é tão verdade quanto a historinha do racismo reverso, democracia racial, ou papai noel,e por aí vai.
Lembram do primeiro texto aqui da Sankofa onde falei um pouco sobre a vasta cultura, história, língua e costumes diferentes existentes no continente africano? Pois bem, em meio a toda essa diversidade, era normal rolar umas divergências entre esses povos e, consequentemente, guerras entre eles, exatamente como ocorria no continente europeu. ORA ORA!
Durante esses embates, acontecia de um povo capturar alguém da tribo rival e tornando-o prisioneiro de guerra, ou melhor dizendo, cativos. O conceito aqui é bem diferente do sentido de escravidão utilizado pelos europeus, que tinha como principal objetivo o lucro com o sequestro de mão de obra escrava.
Nesse contexto, no século XVI, Portugal além de comercializar a compra de especiarias, passou a comprar esses escravos que foram levados à Ilha da Madeira, que fica conhecida como ‘Laboratório da cana de Açúcar’, dando início à escravidão no sentido moderno, começando assim a mão de obra escrava para a produção de cana de açúcar, prática posteriormente trazida ao Brasil.
Com o extermínio da população indígena, restaram aqui imensos territórios sem povoamento e, obviamente, sem mão de obra. Sob o preceito de um ‘pecado original’, surge a justificativa cristã – de novo! – que, para remissão desse pecado, os negros poderiam sim ser escravizados, já que ‘não tinham alma’.
Destituídos de sua cultura, sua língua, recebiam um novo nome, e eram batizados de acordo com a fé cristã. Cerca de 12 milhões de homens e mulheres que foram sequestrados e escravizados chegaram à costa brasileira entre os anos de 1550 e 1850, a cada 100 pessoas recém-chegadas ao Brasil, em média 86 eram africanos.
“Ouvem-se gritos… o chicote estala. […]
Presa nos elos de uma só cadeia, / A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali! / Um de raiva delira, outro enlouquece, […]
Senhor Deus dos desgraçados! / Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura… se é verdade / Tanto horror perante os céus?”
Castro Alves in Navio Negreiro
A estimativa de tempo de vida era de 20 anos. Os negros eram obrigados a trabalhar cerca de 12/16h por dia. Sob essas condições, os escravos que conseguiam fugir dos engenhos buscavam refúgio na mata fechada, alguns em direção à Serra da Barriga, onde, por volta de 1597, surge o Quilombo dos Palmares.
O quilombo, que na língua banto significa ‘povoação’, era o espaço físico de resistência à escravidão. Eram agrupamentos criados em locais de difícil acesso, e que dispunham de armas e estratégias de defesa contra a invasão de milícias e tropas governamentais.
O Brasil colonial conviveu com centenas de comunidades quilombolas, espalhadas, principalmente, pelos atuais estados da Bahia (BA), Pernambuco (PE), Goiás (GO), Mato Grosso (MT), Minas Gerais (MG) e Alagoas (AL).
Além dessas informações, no site da Fundação Cultural Palmares você também pode fazer um tour virtual pelo Memorial Quilombo dos Palmares, e obter mais informações sobre a representatividade do 20 de Novembro, bem como desse espaço que é um dos maiores símbolos de resistência do povo negro durante a escravidão no Brasil.
Os Quilombos eram formados por vários mucambos, entre eles os mais famosos foram o Andalaquituche, Aqualtune, Macaco, Zumbi, entre outros. A invasão holandesa contribuiu significativamente para a expansão do contingente dos Quilombos, chegando a uma população de quase 20 mil pessoas, o do Macaco chegou a ter aproximadamente 6 mil habitantes.
Após quase um século de resistência frente à expedições particulares e as subsidiadas pela coroa portuguesa, em 20 de Novembro de 1695, a expedição de Domingos Jorge Velho, bandeirante paulista obtém êxito com a investida na captura e assassinato de Zumbi, que teve sua cabeça decepada e exposta, para servir de exemplo à escravos que tentassem resistência.
Vocês lembram da treta toda quando, lá em julho, atearam fogo na estátua de Borba Gato, um bandeirante? Pois é!
As comunidades remanescentes dos Quilombos continuam vivas e lutando pelo reconhecimento de suas terras em todo o território brasileiro, e hoje podem chegar a próximo de 5 mil habitantes.
No meu último texto eu fiz uma apanhado que visava trazer diversas informações que nos fizesse refletir sobre o percurso histórico da institucionalização do 20 de Novembro como marco do Dia da Consciência Negra.
Neste, totalmente lincado com o anterior, reforço a importância da luta antirracista, da influência da cultura africana vinda com a diáspora, e o quão significativo, do ponto de vista histórico e cultural, é o cumprimento da lei de n° 10.639, e que temas referente à tensões das relações raciais, racismo institucional e estrutural devem obrigatoriamente fazer parte dos debates promovidos por todos os meio de comunicação, mas apenas no 20 de Novembro, e sim, constantemente.
Na próxima semana, seguindo o fio, trago um pouco sobre Dandara, Feminismo Negro e representatividade.
Até mais!
Axé =)
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Em A Última Sessão, acompanhamos o menino Samay em sua descoberta do mundo mágico do cinema. Nessa história sensível, em uma cidade no interior da Índia, o menino de 9 anos assiste um filme no Galaxy Cinema e sua vida muda completamente e uma paixão feroz começa. Samay passa a faltar às aulas do colégio e a roubar um pouco de dinheiro da casa de chá de seu pai para assistir filmes. Com um desejo enorme de se tornar cineasta, Samay conhece Fazal, o projecionista do cinema e os dois fazem um acordo: Samay traz para Fazal as deliciosas comidas preparadas por sua mãe, enquanto Fazal permite que Samay veja infinitos filmes todos os dias na sala de projeção. Uma amizade profunda é forjada pelos dois e, logo, é colocada a teste graças a escolhas difíceis e transformações nacionais importantes. Agora, para perseguir seu sonho, Samay deve deixar tudo o que ama e voar para encontrar o que mais deseja.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Em Marcello Mio, Chiara (Chiara Mastroianni), filha dos icônicos Marcello Mastroianni e Catherine Deneuve (Catherine Deneuve), é uma atriz que vive um verão de intensa crise existencial. Insatisfeita com sua própria vida, ela começa a se questionar sobre sua identidade e, em um momento de desespero, afirma a si mesma que preferiria viver a vida de seu pai, uma lenda do cinema, do que enfrentar a sua realidade. Determinada, Chiara começa a imitar Marcello em tudo: veste-se como ele, adota seu jeito de falar, respira como ele. Sua obsessão é tamanha que, com o tempo, as pessoas ao seu redor começam a entrar nessa sua estranha transformação, passando a chamá-la de Marcello. Em um jogo de espelhos entre passado e presente, Marcello Mio explora a busca por identidade, legado e o impacto da fama na vida pessoal de uma mulher perdida em sua própria sombra.
Data de Lançamento: 11 de dezembro
O grupo de K-pop NCT DREAM apresenta sua terceira turnê mundial nesse concerto-documentário único. Gravada no icônico Gocheok Sky Dome, em Seul, a apresentação reúne um espetáculo vibrante, com coreografias e performances extraordinárias. O filme ainda conta com cenas de bastidores, mostrando o esforço depositado para dar vida a um show dessa magnitude. O concerto se baseia na história do Mystery Lab, um conceito cunhado pelo grupo. NCT DREAM Mystery Lab: DREAM( )SCAPE dá o testemunho de uma grandiosa turnê.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Queer é um filme de drama histórico dirigido por Luca Guadagnino, baseado na obra homônima de William S. Burroughs e inspirado em Adelbert Lewis Marker, um ex-militar da Marinha dos Estados Unidos. A trama segue a vida de Lee (Daniel Craig), um expatriado americano que se encontra na Cidade do México após ser dispensado da Marinha. Lee vive entre estudantes universitários americanos e donos de bares que, como ele, sobrevivem com empregos de meio período e benefícios do GI Bill, uma lei que auxiliou veteranos da Segunda Guerra Mundial. Em meio à vida boêmia da cidade, Lee conhece Allerton (Drew Starkey), um jovem por quem desenvolve uma intensa paixão. O filme explora temas de solidão, desejo e a busca por identidade em um cenário pós-guerra, com uma ambientação que retrata fielmente a atmosfera da Cidade do México nos anos 1950.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
A Different Man, é um thirller psicológico, dirigido e roteirizado por Aaron Schimberg, terá a história focada no aspirante a ator Edward (Sebastian Stan), no qual é submetido a passar por um procedimento médico radical para transformar de forma completa e drástica a sua aparência. No entanto, o seu novo rosto dos sonhos, da mesma forma rápida que veio se foi, uma vez que o mesmo se torna em um grande pesadelo. O que acontece é que, por conta da sua nova aparência, Edward perde o papel que nasceu para interpretar. Desolado e sentindo o desespero tomar conta, Edward fica obcecado em recuperar o que foi perdido.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
As Polacas é um drama nacional dirigido por João Jardim e selecionado para o Festival do Rio de 2023. O filme é inspirado na história real das mulheres que chegaram ao Brasil vindas da Polônia em 1867 com a esperança de uma vida melhor. Fugindo da perseguição aos judeus e da guerra na Europa, o longa acompanha a saga de Rebeca (Valentina Herszage), uma fugitiva polonesa que vem ao Brasil com o filho, Joseph, para reencontrar o esposo e começar a vida do zero. Porém, as promessas caem por terra quando, ao chegar no Rio de Janeiro, a mulher descobre que o marido morreu e, agora, está sozinha em um país desconhecido. Até que seu caminho cruza com o de Tzvi (Caco Ciocler), um dono de bordel envolvido com o tráfico de mulheres que faz de Rebeca seu novo alvo. Refém de uma rede de prostituição, Rebecca se alia às outras mulheres na mesma situação para lutar por liberdade.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Do aclamado diretor Alejandro Monteverde, conhecido por Som da Liberdade, Cabrini, narra a extraordinária jornada de Francesca Cabrini (Cristiana Dell’Anna), uma imigrante italiana que chega a Nova York em 1889. Enfrentando um cenário de doenças, crimes e crianças abandonadas, Cabrini não se deixa abater. Determinada a mudar a realidade dos mais vulneráveis, ela ousa desafiar o prefeito hostil em busca de moradia e assistência médica. Com seu inglês precário e saúde fragilizada, Cabrini utiliza sua mente empreendedora para construir um império de esperança e solidariedade. Acompanhe a ascensão dessa mulher audaciosa, que, enfrentando o sexismo e a aversão anti-italiana da época, se torna uma das grandes empreendedoras do século XIX, transformando vidas e deixando um legado de compaixão em meio à adversidade.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Em Kraven – O Caçador, acompanhamos a história de origem de um dos vilões da franquia Homem-Aranha. De origem russa, Kraven (Aaron Taylor-Johnson) vem de um lar criminoso e de uma família de caçadores. Seus poderes nascem de uma força sobrenatural e super humana que o faz um oponente destemido e habilidoso. A relação complexa com seu pai Nicolai Kravinoff (Russell Crowe) o leva para uma jornada de vingança e caos para se tornar um dos maiores e mais temidos caçadores de sua linhagem. De frente para questões familiares, Kraven mostra sua potência nesse spin-off.