A João Silvério Trevisan
Ontem eu reconheci João Silvério Trevisan. Digo que reconheci, não que assisti a uma fala de, ou tanto menos que conheci João Silvério Trevisan. Ontem, eu o reconheci.
Recebido com aplausos, João começa sua apresentação se esquecendo de usar o microfone que, segundos antes, pousa sobre a mesa de centro do palco. As falas precisam ser gravadas, então se forma um ligeiro rebuliço, que ele sequer percebe. A intermediadora ergue o microfone em sua direção, mas ele se mantém impassível. Fico tenso, fico constrangido, projeto nele o meu medo de envelhecer. Será que, tendo ele a idade que tem, a conversa seguirá nesse ritmo?
Eu e meu etarismo quebramos a cara. Quando o problema se resolve e sua voz passa a ressoar pelas caixas de som do auditório, sou arrebatado de imediato. João se articula com a autoridade de quem enfrentou preconceitos atrozes e com a doçura de quem já não precisa provar nada a ninguém. Há nele uma inteligência elegante, um intelecto sensível que só a sobreviventes é reservado. Diante das perguntas que lhe fazem, ele realiza proezas que vão desde saltar de Freud a Butler com a desenvoltura de um ginasta a relatar carnavais passados com o vigor de quem samba e sua e grita ali, na avenida. Que juventude, que grande força. Sua linha de pensamento serpenteia errática até que, de repente, num quase susto, se fecha sobre si mesma em conclusões que ninguém na plateia, nem em canto algum, ousaria contestar. Seu carisma hipnotiza e amolece o duro público curitibano, que ri confortável quando João usa expressões como dar o cu ou reproduz a fala de uma entrevistada que descreveu Guimarães Rosa como uma grande bichona de cara pintada.
João é generoso também. Não tem medo de compartilhar histórias pessoais. Conta que, no dia anterior, perguntava ao namorado o que seria de sua vida sem Gal (nenhum de nós sabe, João). Conta que, muitos anos antes, precisou se autoexilar nos Estados Unidos para fugir da perseguição pela ditadura militar. Conta que, ainda antes disso tudo, lá no começo, caiu numa emboscada. Homens de sua família o levaram para o que ele achava ser um passeio inocente, um momento de diversão. Já no caminho, se deu conta de que havia algo de errado. Terminaram jogando o menino no meio de um rio. Riram enquanto ele se afogava, anunciaram que aquilo era para ver se ele virava homem de verdade. João se debateu sozinho até conseguir se segurar no capim ribeirinho. Mais confuso do que nunca, mais atento do que nunca, saiu da água sob a promessa de se tornar, sim, um homem – um homem diferente daqueles que, por brutal desumanidade, haviam acabado de tentar matar uma criança.
Aqui cabe um parêntese. Descobri essa semana que, durante a Feira de Literatura de Paraty, eu participaria de uma mesa de debate sobre Autoria e Publicação LGBTQIA+. Recebi a notícia com um grito alto. Depois, exultante, corri para agarrar o pescoço do meu namorado. Por fim, como quase sempre, fiz piada: vou chegar lá dizendo que sim, sou a favor do apagamento gay na literatura – tudo, claro, ao melhor estilo do meme Amo Os Gays, Trato Como Se Fosse Gente Normal.
Faço humor porque, levadas muito a sério, as questões sérias da vida podem perder a seriedade. Mas, às vezes, para que se mantenha autêntica a nossa história, é preciso ter a coragem de abrir mão da ironia. Encarar de frente as nossas dores não para ficar triste, mas para conferir dignidade ao nosso sofrimento.
De volta ao auditório, respiro fundo, cerro os olhos, agarro com força os encostos da cadeira onde estou sentado. O relato de João faz minha memória retumbar. Nunca sofri violência física, em grande parte graças às batalhas e conquistas da geração dele, mas não é só o corpo que se machuca – e eu também fui muito machucado. Não gosto de assumir um tom lamurioso acerca da minha infância, até porque, de resto, cresci rodeado de afeto e de privilégios raciais, sociais e econômicos. Tampouco gosto de me vitimizar. Mas eu sou gay. E assumir isso passa também, de alguma maneira, por assumir que, se há dois lados no jogo cruel da homofobia, eu certamente não estou no time dos algozes.
Quando criança, frequentei psicólogas que adorava. Não sabia a exata razão para estar lá, mas, muitos anos depois, me revelaram, com uma risada de escárnio, que era pra descobrir se eu era viado. Eu tinha seis anos quando, por ordem dos meus pais, a Tia da alfabetização chegou para mim e me disse que eu estava proibido de brincar com as meninas. Só poderia brincar com os meninos. Sem entender os exatos porquês, fiquei com muita vergonha. Baixei a cabeça e, dali em diante, passei muitos recreios sozinho dentro da sala de aula.
Já tive que ouvir familiares muitíssimo próximos afirmarem que remédio bom pra viado era bala ou que, para limpar de verdade um cruzeiro gay, só incinerando – de preferência com os viado tudo dentro. Uma tia aterrorizava minha mãe a cada desmunhecada minha, alertando que o Pedrinho ia acabar dando pra viado (ok, com essa aqui foi particularmente difícil não fazer piada). Na mesa do almoço de sábado, família toda reunida, precisei fazer coro a cada piadinha escrota que ouvi – assim talvez eu fizesse parte do grupo de lá, assim talvez eu fosse mais aceito. Orei de joelhos para que um deus sem tanto amor assim afastasse de mim o demônio da homossexualidade e segurei o choro – e, às vezes, o vômito – a cada vez que me masturbei sob imagens ou pensamentos pecaminosos.
Era, como em quase tudo na neurose, uma demanda de amor. Uma barganha. Pedrinho era o menino querido dos parentes. Pedrinho era o menino bom, estudioso, de espírito cordato. Se eu me mantivesse comportado o suficiente – se eu falasse com voz menos anasalada, se eu andasse com menos requebrado, se eu endurecesse a munheca, se eu parasse de gritar fino – talvez eu não perdesse a posição de preferidinho da família, talvez eu não fosse condenado à danação eterna de perder o amor de quem parecia me amar tanto.
Mas não se escapa de quem se é, e isso a gente só aprende a duríssimas penas. Nada disso funcionou. Que bom. Expulso do Paraíso, parei também de viver no Inferno. Se paro para ponderar bem, não foi um preço tão alto assim. Nunca é.
No final de sua fala, João propõe uma celebração conjunta. Sugere que a plateia cante Carinhoso em homenagem a Gal. Obedecemos. Desafinamos, erramos a letra, perdemos o compasso. Mas estamos emocionados, continuamos vivos, vibramos de amor por quem queremos amar e, o mais difícil de tudo, o mais importante de tudo, nos tornamos capazes de abraçar aquilo que somos.
Reconheci a João porque reconheci a mim. Repito aqui o que lhe falei quando subi ao palco e ele foi generoso o suficiente de se levantar e receber meu abraço: ô, João, quando eu crescer, quero ser igualzinho a você.
Data de Lançamento: 23 de janeiro
Kasa Branza, dirigido e roteirizado por Luciano Vidigal, conta a história de Dé (Big Jaum), Adrianim (Diego Francisco) e Martins (Ramon Francisco), três adolescentes negros que vivem na periferia da Chatuba, em Mesquista, no Rio de Janeiro. O filme apresenta a relação de cuidado e amor entre Dé e sua avó Dona Almerinda. Sem nenhuma estrutura familiar, o rapaz é o único encarregado de cuidar da idosa, que vive com Alzheimer, e da subsistência dos dois. Vivendo sob o peso dos aluguéis atrasados e do preço dos medicamentos da avó, um dia, Dé recebe a triste notícia de que Dona Almerinda está em fase terminal da doença. O jovem, então, decide aproveitar os últimos dias da vida dela junto com os seus outros dois melhores amigos.
Data de lançamento: 23 de janeiro.
Data de Lançamento: 23 de janeiro
Em Paddington – Uma Aventura na Floresta, o adorável urso Paddington retorna ao Peru para visitar sua querida Tia Lucy, acompanhado pela família Brown. A viagem, que promete ser uma reunião afetuosa, logo se transforma em uma jornada cheia de surpresas e mistérios a serem resolvidos. Enquanto explora a floresta amazônica, Paddington e seus amigos encontram uma variedade de desafios inesperados e se deparam com a deslumbrante biodiversidade do local. Além de garantir muita diversão para o público, o filme aborda temas de amizade e coragem, proporcionando uma experiência emocionante para toda a família. Bruno Gagliasso, mais uma vez, empresta sua voz ao personagem na versão brasileira, adicionando um toque especial ao carismático urso. Com estreia marcada para 16 de janeiro, o longa promete encantar as crianças nas férias e já conquistou o público com um trailer inédito que antecipa as aventuras que aguardam Paddington e a família Brown no coração da Amazônia.
Data de lançamento: 23 de janeiro.
Data de Lançamento: 23 de janeiro
Uma missão importante é comprometida por um passageiro indesejado num avião a mais de 3000 mil metros de altura. Em Ameaça no Ar, um piloto (Mark Wahlberg) é responsável por transportar uma profissional da Força Aérea que acompanha um depoente até seu julgamento. Ele é uma testemunha chave num caso contra uma família de mafiosos. À medida que atravessam o Alasca, a viagem se torna um pesadelo e a tensão aumenta quando nem todos a bordo são quem dizem ser. Com os planos comprometidos e as coisas fora do controle, o avião fica no ar sem coordenadas, testando os limites dos três passageiros. Será que eles conseguirão sair vivos dessa armadilha?
Data de lançamento: 23 de janeiro.
Data de Lançamento: 23 de janeiro
Em Anora, longa dirigido e escrito por Sean Baker, acompanhamos a jovem Anora (Mikey Madison), uma trabalhadora do sexo da região do Brooklyn, nos Estados Unidos. Em uma noite aparentemente normal de mais um dia de trabalho, a garota descobre que pode ter tirado a sorte grande, uma oportunidade de mudar seu destino: ela acredita ter encontrado o seu verdadeiro amor após se casar impulsivamente com o filho de um oligarca, o herdeiro russo Ivan (Mark Eidelshtein). Não demora muito para que a notícia se espalhe pela Rússia e logo o seu conto de fadas é ameaçado quando os pais de Ivan entram em cena, desaprovando totalmente o casamento. A história que ambos construíram é ameaçada e os dois decidem em comum acordo por findar o casamento. Mas será que para sempre?
Data de lançamento: 23 de janeiro.
Data de Lançamento: 23 de janeiro
O papa está morto e agora é preciso reunir o colégio de cardeais para decidir quem será o novo pontífice. Em Conclave, acompanhamos um dos eventos mais secretos do mundo: a escolha de um novo Papa. Lawrence (Ralph Fiennes), conhecido também como Cardeal Lomeli, é o encarregado de executar essa reunião confidencial após a morte inesperada do amado e atual pontífice. Sem entender o motivo, Lawrence foi escolhido a dedo para conduzir o conclave como última ordem do papa antes de morrer. Assim sendo, os líderes mais poderosos da Igreja Católica vindos do mundo todo se reúnem nos corredores do Vaticano para participar da seleção e deliberar suas opções, cada um com seus próprios interesses. Lawrence, então, acaba no centro de uma conspiração e descobre um segredo do falecido pontífice que pode abalar os próprios alicerces da Igreja. Em jogo, estão não só a fé, mas os próprios alicerces da instituição diante de uma série de reviravoltas que tomam conta dessa assembleia sigilosa.
Data de lançamento: 23 de janeiro.
Data de Lançamento: 23 de janeiro
Em 12.12: O Dia, o assassinato da maior autoridade da Coreia do Sul causa um caos político sem precedentes. O ano é 1979 e, após a morte do presidente Park, a lei marcial é decretada, dando abertura para um golpe de estado liderado pelo Comandante de Segurança da Defesa, Chun Doo-gwang (Hwang Jung-min), e seus oficiais. Ao mesmo tempo, o Comandante da Defesa da Capital, Lee Tae-shin (Jung Woo-sung), acredita que os militares não devem tomar decisões políticas e, por isso, tenta impedir com os planos golpistas. Em um país em crise, diferentes forças com interesses diversos entram em conflito nesse filme baseado no evento real que acometeu a Coreia do Sul no final da década de 70.
Data de lançamento: 23 de janeiro