“Tivemos que nos reconstruir de diversas formas”, diz Isaac Hanson em entrevista exclusiva, vem conferir!

Foto: Jonathan Weiner

Tem quem os conheça pelo hit “MMMBop”, lançado em 1997, single de estreia que fez o grupo catapultar ao mainstream. Tem quem tenha ouvido “Save Me” na trilha sonora da novela Laços de Família, de 2000, que fez com que a música ganhasse vida mais no Brasil do que em qualquer outra parte do mundo. Essas duas afirmações são sobre a banda Hanson, formada em Tulsa, nos Estados Unidos, pelos irmãos Isaac, Taylor e Zac, que desembarcam para uma série de sete shows no Brasil em outubro deste ano. Poucos sabem que o grupo seguiu uma trajetória única e duradoura no mundo da música, criou a própria gravadora e manteve uma parceria forte com os fãs. “Tivemos que nos reconstruir de diversas formas”, aponta o guitarrista Isaac em entrevista exclusiva ao Curitiba Cult na tarde desta terça, 9 de março.

Depois do enorme sucesso comercial de “Middle Of Nowhere”, lançado na estreia do grupo em uma grande gravadora, em 1997, a banda passou por diversos percalços na indústria da música. Por conta das grandes fusões que aconteciam na época, eles se viram em uma gravadora que não entendia o conceito, mensagem, e aquilo que queriam transmitir. Estavam presos contratualmente, sem conseguir lançar um novo álbum. Optaram, então, por seguir o instinto e abrir a própria gravadora, 3CG Records, que segue firme desde então. “Nos apoiamos em duas coisas: em nós mesmos, no que achávamos que devíamos ir atrás. E a segunda, apostamos em nossos fãs”, ressalta Isaac. “Sabíamos que o relacionamento que tínhamos com as pessoas era pessoal e real, e se pudéssemos nos apoiar nisso, o futuro iria existir e ele poderia ser brilhante”, completa.

E ainda bem que o fizeram. Durante todos esses anos, foram 12 álbuns lançados (contando dois trabalhos temáticos de Natal e dois independentes, lançados antes de 97). Entre o principal tema da banda, a ideia de transmitir uma mensagem positiva por onde passam. Para Isaac, a ideia que o trio quer transmitir é simples: “juntos, mas diferentes”. “Fomos colocados nesse mundo por uma razão, com um set único de habilidades, tarefas e oportunidades. Mas podemos também, apesar das nossas diferenças, estar juntos. Espero que as pessoas sejam inspiradas por isso nas suas vidas. Entendendo e apreciando o valor das diferenças”, inspira Isaac. 

A nova turnê – em Curitiba, o show acontece em 12 de outubro – é encabeçada pelo projeto RGB – Red, Green, Blue – no qual cada um terço do foi escrito e produzido por um dos irmãos, separadamente. Nesta sexta-feira, 11, é lançado o segundo single, “Write You a Song”, do próprio Isaac, escrito para a sua filha mais nova. “Agora, ela tem uma música para que ela nunca se sinta sozinha”, contou sobre a canção, que trata sobre se “apegar ao que realmente importa”. Trabalhar separadamente depois de 30 anos de banda foi desafiador e importante para o guitarrista. “Isso nos ensinou muito sobre nós como indivíduos e muito sobre a banda também”, explica.

Para a série de shows, a maior turnê brasileira do grupo até hoje, montar o set list com um número tão grande de canções inéditas – além do trabalho que chega este ano, o grupo lançou em 2021 outro álbum, “Against The World”, o qual não ganhou uma turnê própria por conta da pandemia – é uma tarefa árdua. “Eu diria que mesmo que você seja um fã desde 1997, ou se está vindo pela primeira vez, terá algo para se conectar com certeza”, garante Isaac.

Sei que eu, Angela, que escrevo esta matéria, sou suspeita a falar. Eu sou uma das fãs desde 1997 que acompanha o grupo até hoje. O que posso falar é que a experiência de um show do Hanson é única. E vale a pena aproveitar a oportunidade para dançar, curtir e se emocionar. O papo com o guitarrista Isaac foi incrível, e segue abaixo, na íntegra, pra você aproveitar comigo!

Estamos na véspera do lançamento do segundo single do novo projeto RGB – “Red, Green, Blue” – e essa é a sua música. Para os fãs, você já mencionou que a música traz uma mensagem que é próxima à história da banda. Qual seria essa mensagem?

Essa música provavelmente traz o tema de músicas como “Penny & Me” e “MMMBop”, porque ela trata sobre esses momentos preciosos na sua vida e como as músicas são como um álbum de fotos de emoções. Elas te levam para um lugar especial, e elas ficam com você para você não se sentir sozinho. Então você sempre tem essa pessoa, ou essa experiência, com você onde quer que esteja. Então é a partir daí que essa música vem. Ela partiu literalmente de uma conversa que eu tive com a minha filha, até então com sete anos, ela vai fazer oito no dia do lançamento da música. E é uma música escrita para ela. Ela me disse: “papai, você nunca me escreve nenhuma música, eu não tenho uma música”. E eu disse pra ela: “mas tem essa música, e essa música. Elas não são pra você?”. E ela respondeu: “essas não são as minhas músicas”. Então, agora, ela tem uma música para que ela nunca se sinta sozinha, e para que ela sempre tenha um pedaço de mim. A música foi escrita com o meu amigo Paul McDonald, que é um fantástico cantor e compositor, um incrível ser humano e um cara muito talentoso. Nós escrevemos basicamente junto com a minha filha. Ela estava com a gente bastante naquele dia. Então nós colocamos todas as nossas memórias, experiências, sentimentos, muitas coisas pessoais. Seja para um relacionamento amoroso, ou um relacionamento de pais para filhos, eu acho que a música ainda vale. É sobre se apegar ao que realmente importa.

Agora que seus filhos estão mais velhos, você diria que é influenciado também pelo que eles ouvem e pelas experiências deles, não somente as suas?

Eu tenho uma situação bem interessante, pois o meu filho mais velho é um “esnobe da música”. Ele não gosta de música atual. Ele só gosta de músicas antigas. Ele gosta de rock como Led Zeppelin, Aerosmith, ele ama muitas bandas dos anos 80, Guns ‘N Roses, bandas como Foreigner. Ele é muito como o pai dele nesse sentido, eu sempre gostei das coisas antigas. Ao mesmo tempo, meus dois mais novos gostam de música mais moderna, especialmente a minha filha. Ela gosta de Dua Lipa, Charlie Puth. E eu também adoro eles, então entendo muito. Honestamente, se eu tivesse a chance de trabalhar ou escrever com qualquer um dos dois, eu iria em um segundo. Porque ambos são artistas que eu particularmente gosto muito. Existe uma área maior de coisas, então estamos sempre ouvindo.

Voltando ao projeto novo, RGB – que seria como misturar cores para trazer algo novo, eu diria. Isso é algo que vocês pensaram para criar esse novo álbum? E também, tem uma razão específica para a escolha de cores de cada um, e quão difícil foi trabalhar separadamente ao invés de em grupo? 

Eu diria que uma das coisas é que isso nos ensinou muito sobre nós como indivíduos e muito sobre a banda também. Eu não esperava que o álbum fosse tão emocionante para mim como ele foi. Eu sabia que seria como um processo de encontrar a alma de alguma forma, mas eu não esperava o tanto que seria. Foi difícil e muito importante para mim pessoalmente. Para nós, a escolha das cores, é interessante perceber, são as nossas cores favoritas da infância. Também é um formato de cores nos quais os pixels da televisão são vermelho, verde e azul, e isso faz todas as cores. Então nós imaginamos que essa seria uma ótima mensagem a se passar. Diferente, único, mas juntos, nós fazemos todas as cores do arco-íris. Somos uma unidade, mas somos indivíduos. Eu acho que essa é a história do álbum. Nós falamos sobre essa ideia algumas vezes ao longo dos anos, e eu provavelmente fui o primeiro a falar: “ei! E se a gente fizesse um álbum assim?”, e todo mundo olhava para mim com aquela cara de: “sim, mas acho que daria muito trabalho”. Ele não estava batendo com todos. E aí aqui estávamos nós, fazendo coisas que nunca fizemos antes, seguindo o mantra da música “I Was Born”, vá fazer as coisas que você nunca fez antes, seja a pessoa que você nasceu para ser. E eu acho que a gente decidiu cair em cima disso nesse álbum. Nós nunca fizemos projetos solo, todo mundo nos pergunta isso. Nós recebemos essa pergunta constantemente. E a resposta rápida era: nós nunca tivemos a necessidade de fazer. Nós estamos felizes e orgulhosos do que nós fazemos. Nós estávamos adiando a turnê, todas essas coisas, e finalmente dissemos: o álbum que sairia em 2020 saiu em 2021, não conseguimos fazer a turnê dele, “Against The World”. Sou muito orgulhoso desse álbum. Mas fez sentido, celebração 30 anos, três anos de espera, três partes.

Essa nova turnê vai ser provavelmente a maior que vocês já fizeram no Brasil, são sete shows. Você disse que irão trazer as músicas desse trabalho, “Against The World”, as músicas do RGB e hits de toda a carreira. Isso são muitas músicas (risos). O que vocês consideram importante na hora de criar um set list? E o que as pessoas podem esperar dessa turnê?

É difícil dizer exatamente. Nós conversamos sobre algumas coisas diferentes, e estamos no processo de formar o que esse show irá ser. Eu acredito que nós devemos ir para a linha do tema de vermelho, verde e azul, e achar formas únicas de fazer isso. Mas eu também diria que mesmo que você seja um fã desde 1997, e não foi em um show nos últimos 15 ou 20 anos; ou se você é um fã que já veio a muitos shows ao longo do caminho. Ou se você está vindo pela primeira vez – terá algo para você se conectar com certeza. Somos muito sortudos por termos fãs que ficaram com a gente por tanto tempo, e somos muito orgulhosos de todas as partes da nossa vida e da nossa carreira, gostamos de mostrar todas as partes. Mas vai ser difícil. Nós provavelmente vamos mudar o set a cada noite. Nós fazemos isso muito, e eu acho importante, pois mantém a nós mesmos renovados, e também mantém a plateia envolvida. Nós sempre queremos que as pessoas tenham um motivo para vir aos shows. Queremos que eles pensem: “ah, será que eles vão tocar aquela música que eu amo na próxima vez?”. 

Vocês estão fazendo com que os fãs queiram ir a todos os shows (risos).

Ah, eu espero sim, tomara!

Falando em fãs, vocês já passaram por muita coisa ao longo dos anos. De terem um sucesso estrondoso com “MMMBop” até terem muitas dificuldades e desafios com a indústria da música, criaram o próprio selo…

E tivemos que nos reconstruir de diversas formas!

Uma coisa que vocês sempre tiveram durante todo esse período foi o relacionamento com os seus fãs. Eu acredito que vocês foram provavelmente um dos primeiros artistas a estreitarem o relacionamento entre artista e fã com o fã-clube, o site hanson.net, e etc. As pessoas estão sempre muito próximas de vocês. Você acredita que isso ajudou a mantê-los motivados, e assim viver de música por todo esse tempo?

Para mim pessoalmente começa por ter um genuíno respeito pelas pessoas que vem nos ver. Começa por isso. Você não consegue fazer isso por 30 anos e fingir. Tem que vir de um lugar honesto. Eu acho que nós provavelmente sempre quisemos ser criativos, não temos medo de nos desafiar e fazer coisas diferentes, e queríamos partir de um lugar honesto. O primeiro lugar honesto é respeito e gratidão pelas pessoas que nos assistem. Seja quem vem a um show, quem compra um álbum, uma camiseta, entra no fã-clube, se torna membro. Seja o que for. E é aí que começa. O que nós fizemos foi tentar achar formas de fazer esse relacionamento valioso tão duradouro quanto pudéssemos. Tem o nosso site hanson.net, que em 2000 se tornou um fã-clube de membros, não só um site. Tivemos uma revista do fã-clube antes disso. Isso foi muito difícil inclusive de manter pelos problemas com a nossa gravadora. Estávamos presos sem conseguir finalizar um álbum e não tínhamos nada para escrever na revista (risos). “Desculpa, ainda estamos esperando”.

É daí que surgiu o “em breve” tão famoso…

Exatamente! E o que é ótimo de agora é que não temos esse problema. Nós entramos em duas coisas: primeiramente, em apostar em nós mesmos, no nosso instinto, que nós achamos que devíamos ir atrás. E isso significou que tínhamos que começar uma gravadora, e fazer coisas das quais tínhamos medo. E a segunda coisa na qual estávamos apostando era nos fãs. Pessoas como você. Pois sabíamos que o relacionamento que tínhamos com as pessoas era pessoal e real. E sabíamos que se pudéssemos nos apoiar nisso e priorizar esse relacionamento, o futuro iria existir e ele poderia ser brilhante. E é por isso que fazemos as coisas para o fã-clube. Todos os anos lançamos cinco músicas só para o fã-clube. Não importa o que está acontecendo, sempre fazemos isso. Fazemos tantas coisas. Não vendemos Meet & Greet’s (encontros com a banda), por exemplo. Se você é um membro do fã-clube, vamos pegar o seu nome de um chapéu e você talvez possa vir nos conhecer. Mas não gostamos da ideia de que a pessoa pudesse “comprar o nosso tempo”. Isso se torna muito impessoal. 

E às vezes a pessoa que é o seu maior fã não tem a chance de te conhecer.

Exatamente! Eu acho que essa é a coisa mais importante: gratificar entusiasmo e encorajar envolvimento e conexão, e não fazer disso um relacionamento transacional. “Olha, os seus 15 minutos valem 100 dólares”. Você é uma pessoa, com uma alma, uma mente. Queremos conectar com você, e não fazer disso um ingresso.

Após esses últimos dois anos de pandemia, qual lição você diria que foi a maior que você aprendeu. Muitas coisas mudaram. E o que podemos esperar do futuro, sei que tem muito acontecendo em 2022, mas podemos esperar por ouvir Hanson por muitos e muitos anos?

Eu aprendi muita coisa, a maioria eu não vou dizer. Uma das coisas que eu sou muito grato é por ter passado muito tempo com a minha família. Mas foi um tempo muito estressante. Não pudemos fazer o nosso trabalho, nossa vida foi colocada em pausa de formas muitas complicadas. Sentimos como se tivéssemos perdido a nossa voz, e perdido a nossa oportunidade de estar com as pessoas e conectar com elas. Mas, ao mesmo tempo, não acho que teríamos feito esse álbum sem esse tempo. Eu acho que isso apareceu de uma forma muito positiva na criação desse álbum.

Você me perguntou no início da entrevista qual é a mensagem dessa banda. Eu acho que eu diria que é “juntos, mas diferentes”. É importante reconhecer que você pode ser diferente de outra pessoa. Talvez até bater de frente com isso. Talvez quando você coloca verde e vermelho junto, isso se torna uma cor muito feia. Ninguém gosta dessa cor. Seja como for, estou usando como uma analogia para dizer que nós todos somos indivíduos desse mundo com coisas importantes para fazer que só nós podemos fazer. Fomos colocados nesse mundo por uma razão, com um set único de habilidades, tarefas e oportunidades. E fazer o melhor disso é muito importante. Mas podemos também, apesar das nossas diferenças, apesar das nossas dificuldades, estarmos juntos. Podemos achar uma forma de ser uma unidade. E eu espero que seja possível acharmos muitas formas no mundo de sermos isso como uma banda, e espero que as pessoas sejam inspiradas por isso nas suas vidas. Entendendo e apreciando o valor das diferenças, e estarmos juntos mesmo quando não concordamos.

 

SERVIÇO – HANSON EM CURITIBA

Quando: 12 de outubro de 2022 (quarta-feira)

Onde: Live Curitiba (Rua Itajubá, 143)

Horário: 21h

Quanto: os ingressos variam de R$ 260 a R$ 520, de acordo com o setor e modalidade escolhidos

Pista Premium (Lote 1) – R$ 520,00;
Pista (Lote 1) – R$ 260,00; Camarote (Coletivo) – R$ 420,00

Vendas: através do site Uhuu e no Shopping Crystal

Por Angela Antunes
11/03/2022 20h01

Artigos Relacionados

Princesa punk, Avril Lavigne volta ao trono com o novo álbum “Love Sux”

Originalidade e bom-humor: o que faz do McFly uma das maiores bandas do século!