Se você nunca estourou um pneu do carro, só passou pela vida, não viveu.
No caso, eu, já posso dizer que vivi.
Era um dia daqueles. E das 4 da tarde em diante, tudo que eu conseguia pensar era em terminar rápido meu trabalho pra poder passar na padaria que eu amo, pegar aquele pão gostosinho e correr pra casa lanchar com a tchurma. Mas nem tudo saiu como planejei. Na verdade, quase nada saiu como planejei.
Estava na Rua Bom Jesus, no Juvevê, quando o meio-fio entrou na minha frente. E não ria, porque é verdade. Uma verdadeira pegadinha. Quase no cruzamento com a José de Alencar, uma travessia elevada e junto com ela um meio-fio atravessado na rua.
Resumindo: eu me lasquei. Fui de bico no meio-fio. O carro quicou duas vezes e todos os carros que vinham na preferencial deram uma reduzida para ver de onde vinha o barulho da freada e da batida de roda na calcada.
Minha primeira providência foi seguir bem devagar pra todos aqueles curiosos sumirem do meu caminho. Reduzi bem pra não ter que parar no semáforo ao lado de nenhum deles. Depois que me livrei dos urubus que ficaram me olhando e provavelmente falando “tinha que ser mulher”, a próxima providência foi descobrir se algo tinha acontecido no carro.
Parada no sinal, pensei: vou arrancar bem atenta pra ver se tem algum desnível à direita do veículo. Na hora que arranquei fiquei olhando pelo parabrisa e pude ver a rua subir e descer a cada giro do pneu.
Comecei um diálogo comigo mesma:
– Caramba! O que você fez, Lu?
– Calma, Lu. Você ta nervosa. Deve estar vendo coisa.
– Não, Lu. Você está certa, ele realmente está mancando.
– E agora, Lu?
– Lascou, garota.
Cheguei na rua da padaria. Encostei e desci rezando pro estrago ter sido leve. Comecei observando o pneu do lado esquerdo pra ver como é uma roda normal. Aí fui olhar a direita. O pneu estava totalmente murcho, mas, por sorte, a roda estava redondinha. Um alívio seguido de um desespero.
– Ok, Lu. A roda não está quadrada mas você continua sem ter como sair daqui com esse pneu assim.
Fiquei tão nervosa que larguei o carro lá na rua e entrei na Requinte. Pedi um capuccino e um folhado. Precisava pensar. Primeiro, descobri que o o seguro não tinha assistência para troca de pneus.
– Certo. Então vou ter que trocar esse pneu. Mas não consigo fazer isso sozinha no escuro.
Continuei meu diálogo interno.
– Vamos até um posto.
– Olha no Waze qual é o posto mais perto.
– 600 metros.
– Agora, olha no Google quanto pode rodar com o pneu vazio.
– Veja também a velocidade que você pode ir.
– Da pra ir tranquilo até o posto, sem passar de 60km.
– Vamos nessa.
Saí da padaria e olhei de novo para a roda. Não era sonho. Partiu posto. Lá fui eu com meu perneta. Quando cheguei no posto, parecendo um carro de palhaço, resolvi tentar encher o pneu antes de trocar.
– Vai que só esvaziou com o impacto.
– Verdade. Vamos tentar encher.
Parei na frente do negócio de ar. Programei 32 pressões. Mas o negócio não enchia. Aí me lembrei de ter ouvido uma vez que pneu sem pressão não enche.
– Putamerda, vou ter que trocar, não tem jeito.
Desci do carro e fiquei olhando para os frentistas tentando identificar o mais bonzinho. Achei. Me aproximei e expliquei:
– Moço, meti o carro no meio fio, o pneu estourou. Preciso trocar, mas nunca fiz isso na vida.
– Vamos lá. Quer que eu troque pra você?
– Nãoooo. É um pouquinho mais complicada a missão. Eu quero que você me ensine a trocar o pneu. Porque essa é a primeira e a última vez que eu não sei trocar um pneu na minha vida.
O moço era realmente muito gente fina e me deu um curso completo de troca de pneus. Welington, do Posto BR, na esquina do McDonalds Cabral, abraço pra você, salvador da pátria.
Aprendi desde o local correto de posicionar o macaco até coisas mais bizarras como, por exemplo, que no pneu reserva eu tinha que colocar 60 pressões.
Quem diria que da ideia de comprar um pão gostoso eu terminaria minha segunda como estagiária de troca de pneus? Mas valeu. Uma habilidade a mais pro Linkedin. Bora pra casa. Quando botei o pé pra dentro, a pior parte da história: esqueci do pão.
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