A primeira vez numa sex shop

Mesmo sabendo que 1/3 das mulheres do planeta tem um vibrador pra chamar de seu, ir a uma sex shop não é uma coisa banal como ir à feira. – Atenção, atenção freguesia. Dona Luciane, chega aqui na barraca de legumes. Cenoura, quiabo, pepino, nabo. Legumes graúdos. Legumes orgânico. Legumes de qualidade. Constrangedor? Um pouco.

Na hora de sair da loja com cara de quem viu passarinho verde de silicone ultramacio que recarrega com cabo usb, vale mentalizar:  – universo conspire para que eu não seja vista saindo dessa loja pela catequista das crianças, pelo meu porteiro, por nenhum amigo do meu pai e nem pelo meu próprio pai.

Pausa cultural: você sabia que o primeiro vibrador foi criado em 1869 para fins medicinais? Mas considerando o ano da invenção, era um predestinado, né? Funcionava a vapor, foi inventado para curar uma doença chamada histeria e só era utilizado em consultório médico. Alguns anos depois, o objeto passou a ser comercializado como eletrodoméstico e ninguém precisava esconder porque, afinal, era um remédio. O vibrador foi o quinto eletrodoméstico inventado: liquidificador, geladeira, batedeira, máquina de lavar e, depois do dever, o prazer: o vibrador. Esquece. Era só para acalmar o útero, um animal que habitava o ventre feminino, segundo Platão.

Voltando à experiência da primeira vez, que eu classifico como hilária e obrigatória para todo mundo. A loja tinha dois andares. No térreo calcinhas, óleos, géis (esquisito esse plural), fragrâncias afrodisíacas, lingeries comestíveis (que fico me perguntando pra quê?), fantasias, camisinhas com sabor e textura e os pesinhos para ginástica íntima (que foi o que me levou para a loja porque todo mundo sabe que eu sou mega fitness e rata de academia, Deus me livre, mas quem me dera). Muita coisa curiosa e inimaginável.

(música de suspense)

Mas era no segundo piso que estavam os nobres membros da sex shop. Prateleiras e mais prateleiras de produtos. E eu não conseguia parar de rir. Por aí já se vê a diferença cultural que ainda existe na maneira como a mulher encara o sexualidade. O primeiro pensamento não era de – uau, quanta coisa legal. Mas de – gente, quanta coisa bizarra.

A vendedora era incrível. Apresentava os diferenciais dos produtos com tanta naturalidade, que quando você se dava conta estava com um em cada mão, ambos ligados, e você comparando os atributos da maneira mais racional possível: temperatura, níveis de vibração, flexibilidade, controle à distância por app, será que tem desconto se eu levar os dois?

É sério, tinha três mulheres na loja e cada uma estava com, pelo menos, um objeto de borracha vibrando na mão, com a tranquilidade de quem segura um desodorante.

Não éramos clientes dentro de um mesmo comércio. Éramos cúmplices. Falávamos umas com as outras e todas consigo mesmas.

– Olha esse, que engraçado.

– Acho que vou levar um menor que é mais fácil de esconder.

– Meninas, esse vem com uma linguinha giratória, ó.

– Meu marido não vai gostar da ideia, mas pergunta se a bateria dele dura 4 horas (uma delas conversando com sua própria culpa enquanto apreciava o produto).

-…

E a sua aventura em uma sex shop já rolou? Foi bom pra você?

Por Luciane Krobel
24/05/2021 10h33