Oráculo Ímpar.docx

Foto: Bruno Figueiredo/Unsplash

Preciso parar com essa mania tosca de decidir a vida no acaso. Esse próprio tema, só veio pro texto porque deu ímpar no relógio quando consultei. Explico: algumas muitas decisões – não as sérias, jamaaais as sérias – mas alguns impasses que me põem em dúvida do que fazer e me causam o mexe-mexe insuportável e incessante das pernas, deixo o acaso escolher por mim. Ou melhor, os números. 

Então é, se for pra eu escrever sobre isso quando eu olhar no relógio o número dos minutos vai ser ímpar. Deu ímpar, escrevo. Não deu, descarto (ou, se é algo que no fundo eu quero e só talvez não deva e esteja terceirizando a responsabilidade pras horas, faço a pergunta de novo mais tarde – afinal esse rolê de acaso também é de timing). 

O método é uma mistura de cara ou coroa (pela binaridade da coisa) e oráculo, com os deuses numéricos me alertando se devo ou não tomar certa atitude naqueles exatos minutos – o que funciona também pra dar uma segurada no imediatismo, por exemplo quando questiono se mando ou não uma mensagem geralmente precipitada, etc.

Então aqui tô eu, porque eram 09:39 quando olhei no relógio (duplo ímpar tem impacto maior), expondo esse meu método ridículo e certamente duvidoso de tomada de decisões e questionando que rumo minha vida teria tomado se mais pares tivesse visto.  

O porquê dessa minha preferência pelo ímpar não poderia ser mais maduro: minuto e hora e dia e mês e ano do meu nascimento são ímpares, então convenhamos que não teria como eu gostar dos pares. 

E agora escrevendo aqui e calculando o quanto tenho consultado o relógio nos últimos tempos até me veio se não deveria falar disso em terapia, afinal parece ser uma questão essa enorme dificuldade em decidir qualquer coisinha e alguma justificativa plausível flutuando no meu inconsciente deve ter. Mas aí, 09:48 – assunto descartado.

E já passaram alguns minutos com o cursor piscando e piscando e fico aqui nesse impasse sobre essa auto exposição e o quanto quero me comprometer e olho no relógio e é só não e par e não. Até que agora, às 09:51, me autorizo a encerrar esse texto

Por Raisa Gradowski
23/03/2023 16h41

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