“O Último Duelo” conta, em trajes medievais, a antiga história da mulher que busca por justiça

Foto: Divulgação/Disney

Mesmo com senhores feudais e seus vassalos, batalhas de espada e de parecer uma típica história medieval, “O Último Duelo” se mostra atual e infelizmente uma representação muito similar a de uma mulher que hoje busca justiça.

O longa é baseado no livro homônimo escrito por Eric Jager e conta a história real de Jean e Marguerite de Carrouges que em 1386 acusaram Jacques Le Gris de ter estuprado Marguerite. A acusação resultou no último duelo judicial na França. O duelo até a morte revelava a vontade de Deus, e o homem que sobrevivesse estaria contando a verdade. 

A história do último duelo dividiu opiniões durante todos esses anos, mas assim como Jager, os roteiristas Nicole Holofcener, Ben Affleck, Matt Damon escolhem acreditar na versão de Marguerite. Embora tenha alguns erros, como a metáfora desnecessária usando um cavalo, o longa, dividido em três capítulos que leva o espectador pela versão da história de cada protagonista, tem um roteiro consistente e sensível. 

Apesar de ter escrito o roteiro, o capítulo e a performance de Matt Damon deixam a desejar. Seja pela incapacidade de manter o sotaque ou pela falta de carisma que o ator emprega em sua atuação, Jean de Carrouges, mesmo sendo um dos protagonistas e um dos “injustiçados” com o ato de Le Gris, não consegue ganhar a empatia do público. Fica claro que o intuito é que o personagem seja alguém mais simples e  até injustiçado, mas mesmo com essa narrativa Jean não consegue ganhar ninguém para o seu time. 

Foto: Divulgação/Disney

Infelizmente a monotonia e a antipatia do personagem de Matt Damon prejudicam o primeiro ato do filme e, com certeza fará com que no futuro – quando o filme chegar aos streamings – o público de casa pause e troque de título. 

No segundo capítulo as coisas começam a melhorar. Ao invés de guerras começamos a experimentar a vida luxuosa dos senhores feudais. Ainda que o ponto de vista continue masculino, desta vez acompanhando Jacques Le Gris, é possível observar através de pequenos detalhes o papel das mulheres da corte. As performances também melhoram exponencialmente. 

Adam Driver dá vida a Le Gris, um galanteador que em sua narrativa consegue convencer o público de sua integridade até o último segundo quando se revela apenas mais um homem que se vê como proprietário do corpo de uma mulher. Junto com Jodie Comer, que interpreta Marguerite de Carrouges, os atores apresentam as performances mais consistentes, que se encaixam perfeitamente na história.

Foto: Divulgação/Disney

Ben Affleck, também no segundo capítulo, traz uma interpretação impecável do Conde Pierre. Um personagem caricato, exatamente o que você espera da corte francesa da idade média. Affleck não tem medo de exagerar na sua versão de Pierre, o tornando quase um alívio cômico em alguns momentos, o que traz um respiro ao filme. 

Por fim, no último capítulo conhecemos a versão de Marguerite de Carrouges, a filha de um nobre traidor da coroa que teve como única opção casar sua filha com um escudeiro sem muitos bens. Ao contrário de seu papel em “Free Guy”, Jodie Comer parece se encaixar perfeitamente em dramas de época e traz uma representação sóbria e graciosa de Marguerite. No clímax da trama, apesar de Jean e Jacques estarem duelando, os olhos se voltam para a personagem de Comer. 

Foto: Divulgação/Disney

Ridley Scott, mais uma vez em seu elemento, não decepciona. Seja no foco nas correntes ao que envolvem os pés da personagem ou nas encenações do mesmo acontecimento, o tom que o diretor traz ao filme, junto com o trabalho dos roteiristas, consegue transmitir a seriedade da história. 

Por Deyse Carvalho
13/10/2021 19h28

Artigos Relacionados

“Venom: Tempo de Carnificina” leva o relacionamento entre Eddie Brock e Venom a um novo patamar e quem ganha é o público

“007 – Sem Tempo Pra Matar” é uma despedida segura de Daniel Craig ao agente britânico