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Foto: Renáta-Adrienn/Unsplash

Numa estratégia muito arquitetada, enrolei até metade da segunda semana de janeiro pra ir atrás de uma agenda. 

A cada novo ano, já nos primeiros dias, estou lá eu procurando a agendinha bacana que vai me acompanhar. Esse negócio do check numa canetada é imprescindível pra acionar meu sistema de recompensas.  

Também a cada novo ano, entro naquela vibe de vou procrastinar menos (o não vou procrastinar já foi abandonado há algumas viradas – trabalho com a realidade). 

E justamente com o objetivo de procrastinar menos e pensando em estratégias para realizá-lo que decidi delimitar o que é procrastinar nessa minha concepção: não realizar as tarefas diárias obrigatoriamente listadas na agenda no começo da semana. 

Não que no final da semana, na hora de analisar o score de checks fosse ser “autopenalizada” por um mau desempenho. Mas na certa, um bom desempenho vale uma cervejinha extra. 

Assim, aproveitando o restinho de férias, esperei até o meio da segunda semana pra comprar a agenda (não tá na agenda, não é procrastinação). 

Depois de um tempo navegando por sites e mais sites com interrupções constantes e automáticas de Instagram e WhatsApp e email, escolhi uma agenda cuja capa é a representação dum painel de azulejos de Bulcão, bróder do Niemeyer (não sou cult entendida do rolê, tá escrito na contracapa – eu só gamei no painel). 

Na malandragem comigo mesma – dando uma de esperta pra cima de mim e me passando pra trás – aproveitei que recebi notificação do correio da entrega da agenda na sexta e decidi pegar na portaria só segunda. 

Segunda, como não saí da toca, pedi pra Silvi (minha conja) pegar a encomenda quando voltasse pra casa. Ela voltou dizendo que a portaria não tinha recebido. 

Estranhei. 

Parecia que o mundo estava a favor da minha enrolação (não procrastinação, enrolação) e decidi só no final do dia interfonar ver o que tinha ocorrido. No fim, minha agenda estava lá (será que foi Silvi que me passou pra trás?). Bom, nessa, deixei pra amanhã. 

Terça de manhã, finalmente fui eu buscar a tal agenda. Quando peguei o pacote, era um envelope mini. Assim que rasguei o envelope ainda atravessando a garagem, vi que eu tinha comprado uma fucking mini agenda de bolso. Segundo Silvi, o metro quadrado de papel mais caro que ela já viu. 

Considerando que o prazo de devolução expiraria em breve (já sabendo que enrolaria para solicitar a devolução e levar aos correios), rasguei o plástico da mini agenda. E tinham lá cinco linhas espremidíssimas pra cada dia – que na minha letra, se transformariam em três. 

Foi aí que pensei, tá aí. 

Quanto menos espaço pra escrever, menos tarefa pra cumprir. Talvez eu consiga de fato procrastinar menos esse ano. Afinal, estamos aí com a .docx (mas a luz da cozinha continua piscando). 

Por Raisa Gradowski
19/01/2023 14h50

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