Cerveja na Testa.docx

foto: Hay Ramos / Divulgação Seven Experience

No Brasil e Suíça, pouco antes do primeiro gol (comemorado e impedido e anulado), grudei uma long neck suada na testa. 

O jogo truncado não saia do zero a zero até que uma amiga num berro estridente me fez pular no sofá. Ela tinha esquecido do laço da sorte que usava no Brasil penta. Um negócio gigantesco de espuma que parecia o laço da Minnie – só que amarelo com estrelas verdes. Sem medo do ridículo, mesmo se fosse assistir o jogo com o pessoal do trampo ou num bar lotado, ela metia o laço (ainda que nas últimas copas ele não tenha dado lá aquela sorte).

E nesse momento pensei eu, como posso, do conforto do meu sofá, ajudar a seleção a melhorar essas jogadas que tão desencontradas pra caceta? E aí lembrei do jogo de estreia do Brasil na copa. E de que passei os dois tempos com cervejas gelando a têmpora tentando bloquear o galo que gritava pra sair. Pro Brasil, deu boa. Pra mim, não muito. A testa amassou depois cresceu. Ficou roxa depois amarela. E escondida atrás do cabelo, ainda sinto ela pulsar. 

Ainda sinto também pulsar o momento da batida patética, no meio da minha primeira Flip (que – sem querer ser emo mas já sendo – acho que nunca vai parar de pulsar dentro de mim). Confusa como criança exposta a excesso de estímulos, queria olhar pra toda a festa cultural rolando em cada esquina mas tinha que olhar pro chão pra não virar o tornozelo no patrimônio histórico das ruelas de Paraty.

Depois de uma mesa de falas que me deixou meio de perna frouxa (acho que respirei demais e o oxigênio tonteou) a ansiedade tomou conta pesado quando se aproximou a hora do jogo. 

O Brasil já entrava em campo. Percorri três restaurantes pra conseguir uma cerveja e, correndo (dentro do que se é possível correr naquelas ruas de pedra), cheguei na lateral do telão principal coberto por uma tenda enorme. 

Ainda de fora da tenda vi minha equipe. Dei um gole da cerveja de ufa, e fui no gás até eles – ignorando a porra da barra de ferro que sustentava a tenda bem no meio do meu caminho (na verdade, tenho certeza que ela mexeu de lugar). Fui de cara a la trapalhões tão forte que a tenda tremeu e ainda nem tinha sido gol. 

Como a adrenalina do momento ultrapassara os limites corporais, nada senti. Meti a cerveja na testa pra fazer compressa gelada e não deu outra, o Brasil fechou dois gols. 

Pro próximo jogo, a cerveja na testa vai desde o hino.

Por Raisa Gradowski
01/12/2022 18h08

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