Giro de Corote.docx

Foto: Canva

Dirigia pra casa domingo fim de tarde pela pista do meio dentre as três da Visconde de Guarapuava. O rádio variava entre as quatro estações salvas na procura da melhor música e o trânsito fluía com poucos carros em velocidades constantes e coordenadas, controladas pelos sinaleiros a cada intervalo de quadras. 

Na minha frente, o carro vermelho dá uma freada brusca na fechada do sinal, como quem pensa que vai dar tempo de passar no amarelo e depois realiza que não e desiste. Eu gosto de manter uma distância, então a freada não me impacta. Na pista à esquerda, um carro branco passa pelo meu lado e para na linha do sinal quase no limite da faixa de pedestres. E é aí, que ao virar a cabeça, que vejo na calçada sentado na muretinha do posto de gasolina, com uma perna pra cada lado, um carinha com uma garrafa de Corote meio cheia meio vazia, bem na frente dele. 

Ele movimenta o tronco pra frente e pega a garrafa com as duas mãos, segura por alguns segundo e lança girando no ar tentando fazer a garrafa cair em pé. Não consegue. 

Chega outro cara que também como eu estava observando mais de longe, dá um tapinha no ombro dele e senta também com uma perna pra cada lado, na frente dele mas dando espaço pra outro lançamento. 

Ele joga de novo a garrafa que gira no ar e eu nem me dou conta que estou com os olhos fixados naquele voo. De novo, a garrafa cai de lado, e eu e eles lamentamos. 

O cara não desiste, provavelmente incentivado pelo outro que fala algo que não ouço. Eu torço pro sinal demorar um pouco mais pra abrir quando ele novamente lança a garrafa. 

Dessa vez o giro parece mais alto e ela está no caminho da volta quase chegando na superfície quando um carro cruza minha frente e tapa minha visão. Passam segundos até eu ver os dois caras levantarem e se abraçarem pulando e eu quase sinto que estou pulando junto. O sinal abre e só dou partida depois de uma buzinada.   

Por Raisa Gradowski
22/06/2023 12h34

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