Semana passada, minha diarista me demitiu. Eu estava deitado no sofá da sala, de férias, jogando videogame, quando recebi o comunicado. O recado na tela era curto e grosso: só para avisar que não vou mais atender você, Pedro. Reli o só para avisar e meu sangue subiu. Desde os acontecimentos da diária anterior, eu vinha esperando a melhor oportunidade para lhe avisar – eu a ela – que seus serviços não seriam mais necessários. Na minha cabeça, eu que merecia terminar nossa relação. Só que, antevendo o futuro inevitável, ela foi mais esperta e saiu na frente. Achei um desaforo, me senti humilhado. Sem querer ficar por baixo, respondi que já ia mesmo dispensá-la e que não gostava de ser maltratado em minha própria casa. Finalizei com um passar bem trêmulo e, cego de raiva, antes que ela terminasse de digitar uma segunda mensagem, bloqueei seu contato.
Acho que já deu para perceber que o texto de hoje será um pouco desconfortável de ler – quase tanto quanto foi de escrever. É vergonhoso, eu sei. Primeiro, pelo lado pessoal, porque agi como um adolescente, e sempre dói se perceber menos maduro do que de fato se é. Depois, sob uma ótica social, porque eu sou o patrão, e escrever a partir desse lugar de fala pode ser bastante problemático. Mas, sendo eu eu, não posso falar a partir da experiência alheia. A intenção, como de praxe, é tentar expurgar questões que me atormentam.
Ainda piora um pouco. Por ora, peço que tenhamos a coragem de continuar.
Cresci numa casa com empregadas domésticas. Até que meus pais se separassem e, ali pelo início da adolescência, nossa condição econômica decaísse consideravelmente (ao ponto inclusive de precisarmos pedir abrigo a familiares e, em certa ocasião, receber cesta básica da igreja), vivíamos com inúmeras regalias. Embora nunca tenhamos sido ricos, nosso status de classe média média nos garantia almoço de domingo no shopping, carro financiado na garagem e, no eufemismo do século, uma secretária para lavar, passar, dobrar, organizar, guardar, cozinhar, lavar pratos, arear panelas, desengordurar fogão, descongelar geladeira, varrer, passar pano, encerar, limpar banheiro, desinfetar privada, desentupir pia, cuidar do jardim, catar merda de cachorro e colocar lixo para fora.
Naquela época, empregadas domésticas não tinham quase nenhum direito. Tinham que acordar antes dos patrões para preparar seu café e dormir depois de todos – vai que o dono da casa queria tomar uma abacatada antes de se deitar? Abdicavam da convivência com filhos para cuidar da prole alheia, dormiam em quartinhos minúsculos nos fundos das residências, se alimentavam do que sobrava das refeições de estranhos, suportavam a humilhação de perguntas como mas você não viu mesmo onde foi parar meu colar de ouro? e ouviam reclamações quando, doentes, precisavam se ausentar do trabalho para comparecer a uma consulta médica.
Não era diferente na minha casa. Nem nas dos meus avós ou dos meus tios. Nem nas dos meus amigos de escola, nem na de ninguém que eu conhecia.
É vergonhoso, eu sei. É aviltante. E o mais absurdo é que, até dias muito recentes, tudo isso era considerado normal por boa parte da população. Mas, se bem que nossa herança escravagista talvez ainda demore trinta séculos para se expurgar de vez, avançamos muito na matéria. E gosto de pensar que eu também avancei. Ora, se rechaço com veemência e até denuncio meu passado familiar, se celebro marcos legislativos civilizatórios, se comemoro a conquista de direitos sociais (e humanos), se lavo eu mesmo a minha louça e, sobretudo, se me recuso a submeter alguém às explorações de um vínculo empregatício doméstico, é porque, tendo remido dívidas históricas, claramente pertenço a uma categoria de seres humanos muito superiores – alguém, por favor, me dê um troféu.
Quem dera a vida fosse assim tão simples.
O que aconteceu na tal diária anterior foi que, ao ser chamada a atenção, minha diarista gritou comigo. Haviam se passado apenas três das quatro horas contratadas, e, quando ela apareceu no quarto para me avisar que estava indo embora, eu reclamei. Com delicadeza e algum constrangimento – culpas atávicas não somem assim tão fácil –, expliquei que aceitava, como aliás sempre aconteceu, que ela saísse com até quarenta minutos de antecedência, mas uma hora seria excessivo. Afinal as janelas ainda estavam mofadas, o ralo da pia ainda acumulava limo. Ela não recebeu bem o que eu disse. Alteou a voz e, dentre outras coisas, esbravejou que, naquele dia, ainda teria que faxinar a própria casa – eu, se quisesse, que descontasse dela algum valor. Fiquei melindrado, jamais descontaria de seu dinheiro. Eu disse que, se nunca a havia tratado mal, não era justo que ela falasse comigo daquele jeito. Num tom arrependido, ela observou: a gente tá só conversando, Pedro. Finalizou o impasse afirmando que depois resolveríamos o assunto com mais calma – tudo isso enquanto levava para fora enormes sacolas azuis com o lixo que eu havia produzido durante a semana anterior.
Vergonhoso, desconfortável de ler e de escrever. A gente sempre gosta de se imaginar melhor do que de fato se é. Mais evoluído, mais justo, mais humano. Raríssimas vezes isso corresponde à realidade. Sofri o que considero uma ofensa pessoal e, por isso, me senti no direito de assumir o papel de magoadinho. Mas será mesmo que, nesse imbróglio todo, eu poderia ter qualquer tipo de razão?
Será que eu fiz certo em reclamar? Será que existe ocasião para que eu me magoe assim? Será que uma ofensa pessoal pesa mais do que anos e anos de injustiças sociais? Será que eu deixei mesmo para trás os pecados de meus antepassados? Será que, com toda a minha suposta conscientização política, eu não estou apenas reproduzindo e perpetuando iniquidades históricas? Será que eu realmente não tenho tempo nem energia para realizar meus afazeres domésticos? Será que não estou apenas relegando a terceiros atividades que, no fundo, considero inferiores? Será que eu sou uma pessoa horrível por estar escrevendo este texto? Será que eu sou uma pessoa horrível por contratar uma diarista? Será que, em sua segunda mensagem, ela não queria apenas relatar que sua dor nas costas piorou e que, por isso, não poderia mais atender ninguém?
Com esta coluna, tomei um compromisso de honestidade. Nem sempre será fácil, nem sempre será bonito. Apesar de ter perdido sono pensando no que aconteceu, reconheço que, num contexto de desigualdades seculares, insônia de classe média não passa de mimimi. Até porque sei que não vou deixar de contratar uma nova diarista – já contratei, aliás, minha casa está um brinco. Fazer, com este texto, um mea culpa: hipocrisia de neurótico ou pontapé inicial para questionar melhor o próprio lugar no mundo?
Data de Lançamento: 20 de fevereiro
Marietta Baderna – Dos Palcos aos Dicionários é um documentário emocionante sobre a história da chegada da bailarina italiana que encantou os brasileiros. Em um cenário de guerra, Marietta e seu pai precisam abandonar a Itália, por ter sido dominada pela Áustria, assim buscando refúgio no Rio de Janeiro. Nas terras cariocas, a chegada da estrela do Scala de Milão animou a elite da sociedade. No entanto, sua visão mais liberal tomou frente no julgamento da população conservadora e Marietta teve seu nome atribuído a bagunça e desordem no governo de Dom Pedro II. Repleta de curiosidades, a trama conta com a presença de especialistas da dança.
Data de lançamento: 20 de fevereiro.
Data de Lançamento: 20 de fevereiro
Entre Penas e Bicadas mostra a tragetória de Goldbeak (David Henrie), uma jovem águia, foi criada por uma família de galinhas depois de perder seus pais. Embora acolhido com amor, ele sempre sentiu que não se encaixava completamente no galinheiro. Quando seus instintos o chamam para explorar o mundo além do quintal, ele parte em busca de sua verdadeira identidade. A jornada leva Goldbeak ao Santuário de Pássaros, onde descobre sua origem, conhece outros de sua espécie e encontra um novo propósito: integrar a Patrulha Emplumada, um grupo dedicado à proteção de Avian City. Ao lado de sua corajosa irmã adotiva, Ratchet (Valkyrae), ele enfrenta desafios que o ajudam a entender o valor da coragem, do pertencimento e da família. No entanto, Goldbeak não imagina que uma conspiração sombria está em andamento na cidade. Para proteger os que ama e provar que é digno de suas asas, ele terá que voar mais alto do que nunca, enfrentando perigos e descobrindo que o verdadeiro lar está onde o coração está.
Data de lançamento: 20 de fevereiro.
Data de Lançamento: 20 de fevereiro
Milton Bituca Nascimento, dirigido por Flávia Moraes, é um documentário emocionante que acompanha a turnê de despedida de Milton Nascimento, uma das maiores lendas vivas da música brasileira. Filmado ao longo de dois anos, o longa registra os últimos shows de “Bituca”, como é carinhosamente conhecido, e captura a profunda conexão entre o artista e seus fãs. Com estreia prevista para 20 de março de 2025, a obra vai além dos palcos, apresentando cenas de bastidores e depoimentos de grandes artistas nacionais e internacionais. Esses relatos celebram a importância de Milton e o impacto universal de sua música, reafirmando seu legado como um dos maiores nomes da música global. Entre emoções e celebrações, o filme é uma despedida inesquecível de um ícone cuja obra transcende fronteiras e gerações.
Data de lançamento: 20 de fevereiro.
Data de Lançamento: 20 de fevereiro
Os 80 Gigantes acompanha a jornada da Cia dos Ventos, um grupo de teatro de bonecos fundada por um casal de bonequeiros nos anos 2000. Tadica Veiga e Joelson Cruz construíram seus bonecos gigantes inspirados no Carnaval de Antonina e, de pouco em pouco, ganharam as ruas e a comunidade local de São José dos Pinhais, no Paraná. Durante uma década, a companhia ocupou um galpão na cidade, onde guardavam os gigantescos bonecos, além de organizar um projeto social chamado O Boneco e a Sociedade, que fez a diferença para mais de 28 mil alunos. Mas, o que se tornou uma tradição familiar e um programa especial, acaba sofrendo com uma manobra política que os despeja do espaço. Sem lar para os 80 bonecos ou para a família produtora, a Cia do Vento precisa se reinventar e, logo, reconstruir o mundo fantástico e mágico desse espetáculo teatral e artesanal.
Data de lançamento: 20 de fevereiro.
Data de Lançamento: 20 de fevereiro
Em Meu Verão com Gloria acompanhamos a história de amor e carinho forjada por uma criança e sua cuidadora. Aos seis anos, Cleo é apaixonada por sua babá Gloria, que a cria e cuida desde seu nascimento. Um dia, após uma notícia trágica, Gloria precisa retornar urgentemente ao seu país natal Cabo Verde, onde vivem sua família e seus filhos. Cleo sente a infelicidade e o fardo dessa notícia e, rapidamente, pede para seu pai que traga Gloria de volta em razão de uma promessa feita entre as duas: que se reencontrem o mais rápido possível. Gloria, então, convida a pequena para conhecer o seu país e passar um último verão com ela em Cabo Verde como forma de despedida. Enquanto Cleo conhece um lado desconhecido da vida da babá e desbrava um mundo novo, Gloria precisa lidar com as questões de seus dois filhos que, querendo ou não, ela deixou para trás.
Data de lançamento: 20 de fevereiro.
Data de Lançamento: 20 de fevereiro
Em Amor Bandido, um corretor de imóveis tenta deixar seu passado sombrio para trás até que recebe uma mensagem de sua ex-parceira de crime que ele achava que estava morta. O vencedor do Oscar Ke Huy Quan encara seu primeiro protagonista, Marvin Gable, um corretor de imóveis que vive uma vida pacata nos subúrbios de Milwaukee. Ele tenta a todo custo deixar os erros cruéis que cometeu no passado. Ele será obrigado a confrontá-los quando recebe um misterioso bilhete de Rose (Ariana DeBose), sua ex-parceira de crime que ele deixou para morrer anos atrás. Agora, Marvin precisará embarcar novamente em uma missão que envolve os assassinos mais perigosos e os fantasmas de seu passado.
Data de lançamento: 20 de fevereiro.
Data de Lançamento: 20 de fevereiro
Em Brave the Dark, assombrado por traumas de infância, Nathan Williams (Nicholas Hamilton) vive preso em um ciclo de escuridão e autodestruição. Após ser preso, ele encontra uma inesperada mão estendida e disposta a ajudá-lo: seu professor de teatro, Sr. Deen (Jared Harris), que paga sua fiança e o acolhe. Determinado a resgatar Nathan de seus próprios demônios, o Sr. Deen descobre segredos devastadores que ameaçam consumir o jovem por completo. O que começa como um ato de bondade transforma-se em uma batalha desesperada para salvar Nathan de seu passado e de si mesmo. Enquanto Nathan afunda cada vez mais no desespero, o Sr. Deen precisa enfrentar seus próprios limites, questionando até onde está disposto a ir para proteger alguém à beira de perder tudo.
Data de lançamento: 20 de fevereiro.
Data de Lançamento: 20 de fevereiro
Em O Intruso, um refugiado misterioso surge nu dentro de uma mala às margens do rio Tâmisa, apresentando-se como um enigmático forasteiro. Acolhido por uma tradicional família burguesa de classe alta, ele passa a viver na casa como funcionário. Sua presença, no entanto, desenrola uma série de encontros íntimos e transformadores com cada membro da família, abalando as convenções sociais e emocionais que sustentam suas vidas. Paralelamente, descobre-se que ele é apenas um entre vários homens idênticos espalhados por Londres, todos mascarados sob diferentes identidades. O estranho não apenas provoca desejos ocultos, mas também serve como um catalisador para despertares espirituais, permitindo que a família redefina seus próprios caminhos de forma radical e inesperada.
Data de lançamento: 20 de fevereiro.
Data de Lançamento: 20 de fevereiro
Em Flow, o mundo parece ter chegado ao fim, coberto apenas por vestígios da presença humana, mas sem nenhum por perto. O gato é um animal solitário que, um dia, enquanto é perseguido por uma manada de cães, vê seu lar ser devastado por uma grande enchente. Buscando uma forma de sobreviver após a inundação, ele enfrenta diferentes ameaças, até que encontra refúgio em um pequeno barco povoado por diversas espécies. Enquanto tentam fugir de toda essa situação hostil, os animais terão que se unir apesar de suas diferenças. Nesse veleiro, navegando por paisagens místicas e transbordantes, eles passam pelos desafios e perigos da adaptação a este novo cenário pós-apocalíptico. Flow acompanha uma aventura por entre as ruínas de um mundo inundado e destruído e os sobreviventes que buscam permanecer à deriva com a ajuda e esperança de cada um.
Data de lançamento: 20 de fevereiro.
Data de Lançamento: 20 de fevereiro
O Brutalista se passa em 1947, quando o arquiteto visionário húngaro László Toth (Adrien Brody) e sua esposa Erzsébet (Felicity Jones) fogem da Europa devastada pela guerra em busca de um novo começo na América. Em sua jornada para reconstruir seu legado e testemunhar o surgimento da América moderna, eles se deparam com uma oportunidade que pode mudar suas vidas para sempre. O industrial rico e carismático Harrison Van Buren (Guy Pearce) oferece a László um sonho americano em bandeja de prata: a chance de projetar um grandioso monumento modernista que moldará a paisagem do país que agora chamam de lar. Este projeto ambicioso representa o auge da carreira de László, prometendo levar ele e Erzsébet a novas alturas de sucesso e reconhecimento. No entanto, o caminho para a realização de seus sonhos é repleto de desafios e reveses inesperados, que os levarão a enfrentar tanto triunfos quanto tragédias ao longo de quase três décadas.
Data de lançamento: 20 de fevereiro.
Data de Lançamento: 20 de fevereiro
Fé para o Impossível é o longa biográfico do diretor Ernani Nunes que vai retratar um fato na vida de Renee Murdoch, uma pastora norte-americana, que vive no Rio de Janeiro e foi brutalmente atacada por um morador de rua que a atingiu com um pedaço de madeira na cabeça em uma corrida em setembro de 2012, no bairro da Barra da Tijuca. Internada em estado gravíssimo e com baixas perspectivas de cura sob o diagnóstico de traumatismo craniano, Renee contou com a ajuda de seu marido, Philip, e com o apoio de sua família que compartilharam a luta da pastora com o mundo a fim de reunir o máximo de pessoas para uma poderosa corrente de oração pela sua recuperação, tal ato que foi concedido pelo divino. Hoje, Renee e Philip são um casal de pastores que lideram a Igreja Interdenominacional Luz às Nações, conhecida como Ilan Church, no bairro do Recreio, a partir de um movimento de implantação de igrejas pelo Brasil e são autores do livro Dê a Volta por Cima, cujo também retrata esse ato milagroso.
Data de lançamento: 20 de fevereiro.