Na última quarta-feira começou o Olhar de Cinema, festival internacional que já faz parte do nosso cenário cultural curitibano há dez anos. O festival vai até o dia 14 de outubro e tem uma seleção de mais de 70 filmes, entre curtas e longas. Além dos filmes, o calendário da edição 2021 traz entrevistas com os diretores, bate-papos com curadores e artistas que entendem do assunto.
Minhas memórias com o festival trazem sons, cheiros e sensações de aconchego. Sentar com a programação, selecionar os filmes que mais me interessam, ir ao cinema, comprar pipoca, assistir o filme e compartilhar essa experiência com uma sala de desconhecidos.
Apesar de sentir muita falta de ir ao cinema, não tem como discutir que, no cenário atual, ainda faz muito sentido manter o Olhar de Cinema online. Segurança e acessibilidade são os principais motivos que consigo elencar.
O número de casos de Covid-19 está caindo e o número de pessoas vacinadas, aumentando. Teatros, cinemas e outros estabelecimentos culturais estão reabrindo, com frequência reduzida de pessoas.
Pensando assim, o Olhar poderia ser presencial em 2021. Ao contrário do teatro e da música ao vivo, o filme é o mesmo, seja na tela do cinema, da TV, do computador ou até do celular. Dito isso, faço uma ressalva: a experiência de ver um filme no cinema e em casa é totalmente diferente.
Na faculdade de Comunicação, uma das anedotas que os professores nos contam é como a indústria do cinema praticamente decretou o apocalipse no dia em que popularizaram-se os televisores. Quem iria ao cinema quando se pode assistir um filme do conforto do próprio sofá? Mais de 60 anos depois, hoje sabemos que os cineastas não tinham o que temer.
Porém, agora que estamos com um primeiro vislumbre de manter a pandemia sob controle, é inteligente concentrar 400 pessoas em uma sala de cinema para ver um conteúdo que pode ser assistido em casa?
Não me parece muito. E, da maneira como o Olhar está organizado neste ano, entendo a edição digital como a oportunidade de viver uma experiência diferente de festival.
Eu gosto muito de cinema, de ir ao cinema e, em geral, topo assistir qualquer coisa que não seja filme de terror. Curta sobre um assunto muito específico? Pode me chamar. Documentário experimental de três horas? Conte comigo! (Mas, por favor, me deixe levar uma pipoca grande).
Mesmo assim, como a grande maioria das pessoas, eu acabo assistindo mais filmes considerados mainstream do que filmes “alternativos”. Por isso, quando vou assistir essas produções, acabo pulando os bate-papos e entrevistas, indo direto para o filme.
Desta vez, porém, os debates, seminários e entrevistas do Olhar de Cinema estão disponíveis em um canal no YouTube. Só de entrevistas tem mais de 60, quase dá uma por filme disponível. E, para mim, este formato funcionou muito bem. Coloco uma entrevista para rodar enquanto arrumo a casa, preparo o almoço ou o jantar ou quando estou trabalhando. Acabei aprendendo mais sobre os filmes na versão online do que fazia no presencial.
Outro ponto importante é a acessibilidade. Quando falamos em acessibilidade é comum pensarmos, em um primeiro momento, nas pessoas com deficiência. Neste ponto, o Olhar disponibilizou 11 filmes com acessibilidade para pessoas surdas e cegas.
Em matéria de preço, a acessibilidade também está clara: ingresso a R$ 5,00, pouco mais do que o preço de uma passagem de ônibus. Em alguns casos, como nos curtas do Programa 03, é possível comprar um ingresso e assistir todos os oito filmes da mostra.
Outro aspecto importante na acessibilidade para considerar: o deslocamento. Ir até o cinema custa, a não ser que você goste de caminhar ou more por perto do local onde o filme será exibido. Pensando em pós-pandemia, temos também um cálculo de riscos: transporte público ou compartilhado, dividir a sala de cinema com desconhecidos, voltar para casa. Em um festival online, o custo-deslocamento é zero.
Como meu foco por aqui vai sempre na arte local, me interessei muito por uma mostra específica do festival, a Mostra Paranaense.
Ela existe desde 2012 e, neste ano, conta com 8 curtas e 2 longa-metragens. Até agora, consegui assistir a um desses filmes, o longa Bia Mais Um, de Wellington Sari.
O filme foi todo gravado em Curitiba, em 2018. Ele foi produzido pela O Quadro, uma produtora local. Bia Mais Um conta a história de uma menina de 17 anos que morava no exterior e, pouco antes de começar a faculdade, volta ao Brasil.
É uma história de jovens brancos de classe média gravada em bairros que reconheci só pelas casas ao fundo ou pelas placas de rua. Me identifiquei com a história e com o sotaque das personagens, carregado no E.
O que me causou estranhamento, porém, foram os muitos momentos de silêncio das personagens. Silêncio verbal, porque as imagens pareciam não parar nunca. Interpretei comigo mesma: seria uma analogia aos tempos visuais em que vivemos? À importância que damos à imagem nos dias de hoje?
Fui atrás da entrevista com o diretor. Primeiro, ele confirmou “gostamos de fazer um filme sobre o nosso quintal, uma ideia muito presente no cinema brasileiro“. Esta parte ficou clara para mim.
E então Wellington Sari explicou que sim, a ausência de diálogos entre as personagens, por vezes, é mesmo proposital. Em vez de mostrar verbalmente o que as personagens pensam e sentem, a equipe do filme optou por trazer “sintomas imagéticos”. As grandes revelações, os grandes sentimentos, vêm por meio de imagens.
Em dez anos de Olhar de Cinema, vemos já os reflexos que o festival teve na produção cinematográfica local. Tive a oportunidade de conversar com o organizador do festival, Antônio Júnior, por telefone nesta semana e perguntei a ele como ele vê essa questão.
“[O Olhar] é o momento que mostramos o cinema do mundo para Curitiba. É a semana que as pessoas param para viver um pouco, para ir ao cinema. Os filmes acabam se tornando referência para os produtores locais. Hoje, dez anos depois, vemos filmes daqui que puxam como referência filmes que mostramos nos primeiros anos do festival“, contou o organizador.
Como público, também tenho a agradecer a determinação e o trabalho do Antônio e dos organizadores do Olhar de Cinema. São dez anos proporcionando contato com filmes que não costumamos ver em cartaz.
“O Olhar é uma experiência”, disse Antônio. “Tem que ir com a cabeça aberta para novas possibilidades. Para nós, é importante que os filmes gerem impacto, que fiquem na cabeça. O público pode gostar ou não, mas se sair do filme falando sobre ele, o Olhar cumpriu com o seu objetivo“.
E, com certeza, a seleção de filmes deste ano dá muito o que falar! Se você ainda não deu uma olhada na programação, corre no site e aproveite a experiência!
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Em A Última Sessão, acompanhamos o menino Samay em sua descoberta do mundo mágico do cinema. Nessa história sensível, em uma cidade no interior da Índia, o menino de 9 anos assiste um filme no Galaxy Cinema e sua vida muda completamente e uma paixão feroz começa. Samay passa a faltar às aulas do colégio e a roubar um pouco de dinheiro da casa de chá de seu pai para assistir filmes. Com um desejo enorme de se tornar cineasta, Samay conhece Fazal, o projecionista do cinema e os dois fazem um acordo: Samay traz para Fazal as deliciosas comidas preparadas por sua mãe, enquanto Fazal permite que Samay veja infinitos filmes todos os dias na sala de projeção. Uma amizade profunda é forjada pelos dois e, logo, é colocada a teste graças a escolhas difíceis e transformações nacionais importantes. Agora, para perseguir seu sonho, Samay deve deixar tudo o que ama e voar para encontrar o que mais deseja.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Em Marcello Mio, Chiara (Chiara Mastroianni), filha dos icônicos Marcello Mastroianni e Catherine Deneuve (Catherine Deneuve), é uma atriz que vive um verão de intensa crise existencial. Insatisfeita com sua própria vida, ela começa a se questionar sobre sua identidade e, em um momento de desespero, afirma a si mesma que preferiria viver a vida de seu pai, uma lenda do cinema, do que enfrentar a sua realidade. Determinada, Chiara começa a imitar Marcello em tudo: veste-se como ele, adota seu jeito de falar, respira como ele. Sua obsessão é tamanha que, com o tempo, as pessoas ao seu redor começam a entrar nessa sua estranha transformação, passando a chamá-la de Marcello. Em um jogo de espelhos entre passado e presente, Marcello Mio explora a busca por identidade, legado e o impacto da fama na vida pessoal de uma mulher perdida em sua própria sombra.
Data de Lançamento: 11 de dezembro
O grupo de K-pop NCT DREAM apresenta sua terceira turnê mundial nesse concerto-documentário único. Gravada no icônico Gocheok Sky Dome, em Seul, a apresentação reúne um espetáculo vibrante, com coreografias e performances extraordinárias. O filme ainda conta com cenas de bastidores, mostrando o esforço depositado para dar vida a um show dessa magnitude. O concerto se baseia na história do Mystery Lab, um conceito cunhado pelo grupo. NCT DREAM Mystery Lab: DREAM( )SCAPE dá o testemunho de uma grandiosa turnê.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Queer é um filme de drama histórico dirigido por Luca Guadagnino, baseado na obra homônima de William S. Burroughs e inspirado em Adelbert Lewis Marker, um ex-militar da Marinha dos Estados Unidos. A trama segue a vida de Lee (Daniel Craig), um expatriado americano que se encontra na Cidade do México após ser dispensado da Marinha. Lee vive entre estudantes universitários americanos e donos de bares que, como ele, sobrevivem com empregos de meio período e benefícios do GI Bill, uma lei que auxiliou veteranos da Segunda Guerra Mundial. Em meio à vida boêmia da cidade, Lee conhece Allerton (Drew Starkey), um jovem por quem desenvolve uma intensa paixão. O filme explora temas de solidão, desejo e a busca por identidade em um cenário pós-guerra, com uma ambientação que retrata fielmente a atmosfera da Cidade do México nos anos 1950.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
A Different Man, é um thirller psicológico, dirigido e roteirizado por Aaron Schimberg, terá a história focada no aspirante a ator Edward (Sebastian Stan), no qual é submetido a passar por um procedimento médico radical para transformar de forma completa e drástica a sua aparência. No entanto, o seu novo rosto dos sonhos, da mesma forma rápida que veio se foi, uma vez que o mesmo se torna em um grande pesadelo. O que acontece é que, por conta da sua nova aparência, Edward perde o papel que nasceu para interpretar. Desolado e sentindo o desespero tomar conta, Edward fica obcecado em recuperar o que foi perdido.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
As Polacas é um drama nacional dirigido por João Jardim e selecionado para o Festival do Rio de 2023. O filme é inspirado na história real das mulheres que chegaram ao Brasil vindas da Polônia em 1867 com a esperança de uma vida melhor. Fugindo da perseguição aos judeus e da guerra na Europa, o longa acompanha a saga de Rebeca (Valentina Herszage), uma fugitiva polonesa que vem ao Brasil com o filho, Joseph, para reencontrar o esposo e começar a vida do zero. Porém, as promessas caem por terra quando, ao chegar no Rio de Janeiro, a mulher descobre que o marido morreu e, agora, está sozinha em um país desconhecido. Até que seu caminho cruza com o de Tzvi (Caco Ciocler), um dono de bordel envolvido com o tráfico de mulheres que faz de Rebeca seu novo alvo. Refém de uma rede de prostituição, Rebecca se alia às outras mulheres na mesma situação para lutar por liberdade.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Do aclamado diretor Alejandro Monteverde, conhecido por Som da Liberdade, Cabrini, narra a extraordinária jornada de Francesca Cabrini (Cristiana Dell’Anna), uma imigrante italiana que chega a Nova York em 1889. Enfrentando um cenário de doenças, crimes e crianças abandonadas, Cabrini não se deixa abater. Determinada a mudar a realidade dos mais vulneráveis, ela ousa desafiar o prefeito hostil em busca de moradia e assistência médica. Com seu inglês precário e saúde fragilizada, Cabrini utiliza sua mente empreendedora para construir um império de esperança e solidariedade. Acompanhe a ascensão dessa mulher audaciosa, que, enfrentando o sexismo e a aversão anti-italiana da época, se torna uma das grandes empreendedoras do século XIX, transformando vidas e deixando um legado de compaixão em meio à adversidade.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Em Kraven – O Caçador, acompanhamos a história de origem de um dos vilões da franquia Homem-Aranha. De origem russa, Kraven (Aaron Taylor-Johnson) vem de um lar criminoso e de uma família de caçadores. Seus poderes nascem de uma força sobrenatural e super humana que o faz um oponente destemido e habilidoso. A relação complexa com seu pai Nicolai Kravinoff (Russell Crowe) o leva para uma jornada de vingança e caos para se tornar um dos maiores e mais temidos caçadores de sua linhagem. De frente para questões familiares, Kraven mostra sua potência nesse spin-off.