Dia do Feirante (25/08): Feira do Largo da Ordem tem mais de mil pessoas envolvidas

Feira do Largo da Ordem. Foto: Brunow Camman / Curitiba Cult.
Foto: Brunow Camman/Curitiba Cult

Com um tamanho monumental, a Feira do Largo da Ordem também precisa de uma grande equipe para ser mantida. O evento dominical está entre as maiores feiras ao ar livre do Brasil e é referência pelo país. Para colocar de pé a feira que atrai turistas até internacionais, são em torno de 1300 pessoas envolvidas, passando por artesãos, expositores e comerciantes de produtos artísticos, artesanais e industriais. A Feira do Largo da Ordem acontece todo domingo, a partir das 9h no Centro Histórico da cidade. Celebrando essas pessoas, nesse domingo também é comemorado o Dia do Feirante (25/08).

As feiras estão entre as instituições mais antigas do Brasil. Há registros delas na Vila de São Paulo desde 1554, segundo o Senado Federal. Por séculos, foram consideradas negócios de informalidade. Foi só em 25 de agosto de 1914 que o prefeito de São Paulo da época, Washington Luiz, reconheceu esses movimentos como legítimos. Com isso, a data também ficou marcada por valorizar não só a feira, mas também quem as realiza, em todo o Brasil.

Curitiba

Curitiba tem dezenas de feiras acontecendo por vários bairros. Elas são divididas em diurnas e noturnas, gastronômicas, de comidas orgânicas e de artesanato. Algumas são sazonais, como na Praça Osório que recebe as feiras de Inverno e de Natal. O site da Prefeitura reúne uma lista com todas as feiras da cidade.

A Feira do Largo da Ordem é a mais famosa — e a maior. Começando na Rua São Francisco e indo até a Rua Martin Afonso, conta com 800 barracas com os mais diversos itens. Artesanato em madeira e crochê, livros, cosméticos, tapeçarias, utensílios de cozinha, pinturas em tela a óleo, antiguidades e bonecas estão entre as opções. Para gastronomia, além de itens coloniais e biscoitos, há quatro praças de alimentação diferentes pela extensão, indo do caldo de cana até o pierogi e o clássico pastel de feira.

Feira do Largo da Ordem. Foto: Brunow Camman / Curitiba Cult.

Feira do Largo da Ordem. Foto: Brunow Camman / Curitiba Cult.

Legalmente, a feirinha foi oficializada pela prefeitura em 1971. Nessa época, de enfrentamento da ditatura brasileira e do crescimento da cultura hippie, a Feira também tinha um caráter de trazer contracultura e servir de espaço para expressão de diferentes estilos de vida. Um dos feirantes que está lá desde o começo, Wilson Guimarães, diz que a feira começou com vinte expositores.

Hoje, referência nacional, a Feira do Largo da Ordem é considerada Patrimônio da cidade. Em 2018, o Conselho Municipal de Patrimônio Cultural consagrou-a como patrimônio imaterial, por seu relevante papel para o turismo e lazer.

Livros

Essa trajetória de meio século inspirou até não só uma, mas duas publicações. Luana Camargo e Soraia Gatti fizeram uma ampla pesquisa, publicada em 2022 no livro “Histórias e Retratos da Feira do Largo da Ordem”, com fotos de Carolina Castanho. A pesquisa inspirou ainda a história em quadrinhos “Histórias do Largo”, com roteiro de Luana Camargo e Raphaela Corsi (que também ilustra a publicação). Ambas foram distribuídas gratuitamente por Lei de Incentivo à Cultura.

As feiras urbanas são territórios que apresentam e representam a imaterialidade de manifestações e tradições orais, de expressões e práticas artísticas e culturais, de saberes e fazeres tradicionais. São também espaços essencialmente políticos, de sociabilidades entrecruzadas, em que facetas de poder e de dominação se fizeram e fazem perceber e atuar. A Feira do Largo da Ordem em Curitiba é um cenário globalizado e multicultural, local de encontros, sociabilidades e conquista de muitas lutas, histórias de vida, histórias de ofícios e técnicas, histórias de resistência e cooperação entre pessoas que dedicam sua vida à arte, ao processo de criar e permear de beleza o mundo dos humanos”, colocam Luana Camargo e Soraia Gatti no livro.

Feira do Largo da Ordem. Foto: Brunow Camman / Curitiba Cult.

Feira do Largo da Ordem. Foto: Brunow Camman / Curitiba Cult.

Entrevistas

“Histórias e Retratos da Feira do Largo da Ordem” reúne diversas histórias, revelando trajetórias familiares dos feirantes. Por exemplo, a de René Scholz, tecelão filho da primeira artesã a receber um registro na feira do Largo. Zélia Scholz foi homenageada como cidadã honorária de Curitiba, e faleceu em 2021. A tecelagem já era feita pela bisavó de René, passada por gerações até chegar às barracas da feira e construir novas histórias. Os registros do livro são marcados por tradições culturais, apresentando diferentes gerações de artesão e feirantes.

Hoje patrimônio imaterial da cidade de Curitiba, nossa Feira foi construída com a luta de muitos artesãos, artistas e cozinheiros. O chão do Largo da Ordem, centro histórico da cidade, é palco de muitas expressões, elos, sonhos e suores. Nesse local encontramos heranças em níveis pessoais e coletivos, saberes ancestrais, tradições familiares, criações e descobertas. Uma memória coletiva que foi e é tecida a partir de milhares de memórias individuais que circulam por aqui em seus quase 50 anos de existência”, completa Luana Camargo.

Muito além de lazer, a Feira do Largo da Ordem oferece histórias, traços de Curitiba em milhares de participantes que a constroem e fazem, todo domingo, acontecer uma plural celebração da arte e artesanato locais.

Por Brunow Camman
24/08/2024 09h00

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