A Willow, ainda (mas também a Hopper e Nimbus, que ficaram com ciúmes).
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A cirurgia de Willow foi um sucesso, me informa o cirurgião.
Uma descarga elétrica percorre cada fibra muscular do meu corpo enquanto o médico me explica que correu tudo bem na extração. Extração, doutor? Sim, como o ureter de um gato é fino demais para ser costurado, só houve um caminho: a retirada do rim defeituoso. Nefrectomia, no jargão técnico. Apesar disso, o risco de morte continua alto – ele faz a ressalva, mas quase não me convence. É que se reporta a mim com humanidade, e isso basta para que, por ora, todas as tensões se dissolvam e, pesado, pesado, eu afunde no colchão que, debaixo de mim, me engole com a textura de algodão doce.
(A manhã se ergue intranquila e, renovadas, as angústias se juntam a um dilema. Será que mando notícias para o ex? Consulto amigas, e uma delas me revela o óbvio: eu sabia, de antemão, o que precisava fazer. O áudio que envio é bastante bem ensaiado. Com voz suave, sugiro que ele visite Willow o mais rápido possível. É menos um convite que um alerta: vá, porque pode ser a última vez que vocês se veem.)
Willow está estável e se recupera bem. Entretanto, como os índices renais estão bastante alterados, segue enjoada e se recusa a comer. Depois de um dia, é transferida da UTI para a internação comum, onde passa por nova cirurgia, dessa vez para a inserção de uma sonda esofágica. No domingo, recebo a proposta de alta assistida, que a médica de plantão me explica que, a rigor, não é bem uma alta, mas uma medida para tentar contornar o estresse de permanecer fora de casa.
Ainda há uma miríade de remédios a se administrar – estimulantes de apetite, analgésicos, anti-inflamatórios, antieméticos, antibióticos – e uma infinidade de cuidados a se tomar. Os medicamentos devem ser esmigalhados, misturados em água e, respeitando-se uma técnica e um ângulo específicos para que o ar não entre, empurrados sonda abaixo, por onde também descerá a alimentação pastosa, seguida sempre de 5 ml de água, para higiene do tubo. A cada doze horas, a roupinha cirúrgica há de ser retirada – e, missão quase impossível, recolocada –, pois os pontos que descem do peito até o baixo ventre de Willow precisam ser lavados com soro. A fim de se evitarem infecções, o curativo do pescoço deve ser trocado diariamente: descolam-se as faixas de esparadrapo, desenrola-se a atadura, retiram-se as gazes, faz-se correr o soro, enxuga-se o soro, aplica-se a pomada epitelizante, recolocam-se as gazes, reenrola-se a atadura e recolam-se as faixas de esparadrapo.
(Recebo as instruções de olhos arregalados e respiração curta. É domingo, final de tarde, hora da ave maria, e eu sinto um medo terrível de todas as coisas. Quero fugir, quero cessar, mas não há quem enfrente os dias vindouros por mim. Quero me deitar no chão e não fazer mais nada, mas, para cuidar de Willow, só eu. Usar a sonda é difícil, limpar os curativos é difícil, organizar os remédios é difícil – ou talvez o problema seja eu, inapto até mesmo para o mais comezinho da vida. Meu corpo inteiro dói de tensão, e me sinto pulverizado por todos os cantos da casa, sem nada a que me ancorar. Gostaria de chorar. Não consigo chorar.)
Embora mantenha sua comunal indiferença com Hopper, Willow passa, sem explicações, a ser hostil à presença de Nimbus. Se ele se aproxima, ela rosna alto, arma-se em posição de ataque. Não é bom que se estresse, então me vejo obrigado a montar um pequeno refúgio em meu quarto. Água, comida, caixa de areia, tudo separado. Os outros gatos reclamam e começam eles mesmos a se estressar.
Para que minha gata alcance a cama sem precisar saltar muito alto, improviso uma escadinha com um pufe e uma cadeira. Ela dorme sobre meu peito, mal consigo me mover. Durante a noite, acordo com uma umidade quente entre as pernas. Willow havia feito xixi em cima de mim, e metade do colchão já estava molhada. Amoroso e enfurecido, tiro todos os lençóis e tento higienizar o local como o sono me permite. Volto a dormir no canto da cama. Grogue de remédios, Willow insiste em se deitar sobre mim. Eu deixo. Na madrugada seguinte, o incidente vai se repetir.
Levo minha gata à clínica para exames de rotina, que, dali em diante, serão muitos e muito constantes. Entrego-a à médica e, poucos minutos depois, ela me avisa que, por acidente, a sonda foi arrancada. Mas e agora, doutora, ela vai precisar passar por outra cirurgia? Não, o buraco da sonda se fecha sozinho. Mas e quanto à comida, que ela ainda recusa? Ah, vamos ver como fica.
(Acidente? Erro médico, isso sim. Willow é calma, é doce, não apresenta comportamentos arredios. Que veterinários são esses que não conseguem nem manipular um felino de maneira adequada? Sinto raiva, tenho vontade de gritar com todos da clínica, de chamá-los de filhos da puta burros, incompetentes e irresponsáveis. Uma amiga me pergunta se vou processá-los. Com a amargura resignada de quem sabe que, quando se depende de alguém, não se tem vez nem voz, respondo que não.)
De manhã, acordo e preparo o sachê, que sempre misturo com bastante água. É como Willow gosta. Quando, de olhinhos fechados, ela começa a comer do potinho em minha mão, fico exultante. Felicidade precipitada. No instante seguinte, me deparo com uma das cenas mais horripilantes de toda a minha vida: uma secreção amarelada e viscosa escorre pelo pescoço da minha gata. Será que é pus, meu deus? Mas de onde? Demoro um segundo a mais para entender que o líquido vaza através do que, até a tarde anterior, era o buraco da sonda. Até que eu caia em mim e me lance ao banheiro para buscar papel, Willow já terá bebido do fluido que, de tão abundante, escorre de volta para dentro do pote de comida.
Ligo desesperado para a médica. Não, doutora, aparentemente o buraco de uma sonda esofágica não se fecha sozinho. Voltamos para o hospital. Nova anestesia, nova cirurgia. A terceira em menos de duas semanas, dessa vez para colocar uma sonda do outro lado do pescoço e, claro, pontear o buraco que, quem diria, não é mesmo?, tinha permanecido aberto depois do suposto acidente na clínica. Willow sai bem da operação. Como é forte a minha gata.
(Decido mantê-la na internação até que esteja minimamente estável. Experimento um alívio gigantesco e vergonhoso por tê-la longe de mim. Ao mesmo tempo em que pondero sobre os gastos, sei que, assim, isento de tantas responsabilidades e afazeres, poderei descansar. Estou apavorado com a possibilidade de que Willow se vá, mas, para meu ainda maior horror, percebo que uma parte de mim deseja precisamente isto: que Willow morra. E se for assim pelo resto da vida? E se ela continuar a sofrer tanto? E se eu continuar a sofrer tanto? Pensamento intrusivo, clivagem do Eu, nomes vários para uma mesma e dura realidade: ser humano nenhum é herói – herói coisíssima nenhuma.)
Vou visitar Willow todos os dias, e todos os dias recebo notícias de intercorrências preocupantes. É o exame de sangue que acusa o início de quadro infeccioso, é o raio-x que sugere princípio de pneumonia, é a diarreia que se instalou e não quer ir embora. Algumas vezes, ela me recebe animada, fica em pé, passeia pelo cubículo e mia rouca – seu miado agora é rouco, quase um arrulho. Outras vezes, no entanto, a encontro abatida, em prostração mórbida, quase não interage com ninguém. Nessas ocasiões, me invade a certeza de que minha gata não vai sobreviver.
(Quanto tempo se passa nesse suplício? Gostaria muito de chorar. Não consigo chorar nada.)
Willow volta para casa. A quantidade de remédios já diminuiu substancialmente, a maior preocupação agora é fazer que ela coma. Acontece que ela não quer se alimentar, ao menos não nas quantidades prescritas pelos médicos – 240 gramas diários de ração pós-cirúrgica. 243, para ser mais exato. É um volume absurdo. Consigo lhe dar, quando muito, 60 gramas, que empurro cauteloso pela sonda e que são o suficiente para deixá-la lânguida de um jeito que não parece ser sadio. Por outro lado, se não forçasse o alimento, ela entraria em inanição. Em menos de um mês, minha gata já perdeu um quilo.
Minha irmã se hospeda aqui em casa e busca me ajudar. Entretém e desestressa os outros gatos, me ajuda a trocar o curativo da sonda, divide comigo o fardo do que, durante aqueles dias terríveis, não pode ser colocado em palavras, nem resolvido com remédios, unguentos ou bandagens. Uma noite, enquanto encho inúmeras seringas com ração, uma delas emperra. Para compensar, faço força em demasia, ao que, com a pressão acumulada, o êmbolo desliza e faz jorrar o líquido amarronzado por toda a cozinha. Bancada, prateleiras, teto. Dou um grito de ira. Minha irmã me pede calma e observa: Pedro, tu nunca, nunca poderia ter filhos.
(Não seria a última vez que eu explodiria. Alguns dias à frente, depois de minha irmã ir embora, encaixo a seringa na sonda e começo a injetar comida. Willow se incomoda e sacoleja o pescoço num tremelique rápido, ao modo de um cão a se secar. Agora há ração espalhada por todo o quarto, sobre a cômoda, sobre o chão, na parede e nos lençóis e fronhas limpinhos, trocados poucas horas antes. Grito com minha gata a plenos pulmões, até a voz falhar. Ameaço jogá-la na rua, mas, logo em seguida, como um louco, corro até ela e, num abraço, peço desculpas. Willow me olha como gatos olham quando estão em paz: com sonolenta indiferença. Ela não se afeta, mas eu sei que vou me torturar por semanas. Como as pessoas suportam ter filhos? Como as pessoas querem ter filhos?)
Questiono os médicos acerca das quantidades colossais de ração, mas eles insistem, e eu obedeço. Com ciência não se bate de frente, então faço o máximo para me aproximar da gramatura ideal. Quando me dou conta, estou empurrando comida pela sonda a cada duas horas. É exaustivo para mim e para Willow, que atravessa tudo como se alvejada por um dardo sonífero. Está catatônica. Quase não se move e dorme quase o dia inteiro.
(Quanto tempo se passa nesse suplício? Uma semana? Quinze dias? Gostaria muito, muito de chorar. Não consigo derramar nem uma lágrima.)
Num sábado de manhã, a nefrologista me liga. Quer testar uma teoria: e se a gente cortasse totalmente a alimentação pela sonda? Mas ela não vai morrer de fome, doutora? Ah, vamos ver como fica. E logo a aposta começa a se pagar. O milagre que leva Willow a procurar alimento não tem nada de extraordinário, sobrenatural, nem divino: é fome, apenas, sem mistificação. Livre do empanzinamento forçado, ela finalmente pôde voltar a ser uma gata natural, vivendo sob o império do instinto. Não era de comida que ela precisava – era de vontade de comer.
A normalidade se reinstala aos poucos, ao longo dos 45 dias que se passam desde o primeiro vômito. A sonda é desacoplada, os pontos são retirados, as últimas medicações são suspensas. Willow já não urina fora da caixa de areia, aceita a presença de Nimbus, e seus índices renais estão bons. Não perfeitos, nunca mais perfeitos, mas bons o suficiente.
(Na parede da clínica veterinária, uma frase desenhada: eles nascem aprendendo a amar do jeito que levamos a vida inteira para aprender. Não sei se é verdade, mas isso me ajuda a compreender que preciso ser mais brando comigo e que, no meio de toda a culpa, raiva, vergonha, ressentimento e cansaço, o que eu mais sinto por minha gata é amor.)
Ainda ontem Willow miou estranho, um miado abafado, como se algo em sua boca bloqueasse a passagem do som. Corri para a sala assombrado. Chegando lá, descobri um corpo estranho entre seus dentes: uma bolinha de papel. Minha gata me convocava para brincar da sua brincadeira favorita na vida. Largou o brinquedo improvisado aos meus pés e eu o joguei para longe. Willow saltou e, enquanto se engalfinhava sozinha com a bola, tive um ataque de riso. Ela vai ficar bem. Com umas três ou quatro vidas a menos, mas vai.
Data de Lançamento: 23 de janeiro
Kasa Branza, dirigido e roteirizado por Luciano Vidigal, conta a história de Dé (Big Jaum), Adrianim (Diego Francisco) e Martins (Ramon Francisco), três adolescentes negros que vivem na periferia da Chatuba, em Mesquista, no Rio de Janeiro. O filme apresenta a relação de cuidado e amor entre Dé e sua avó Dona Almerinda. Sem nenhuma estrutura familiar, o rapaz é o único encarregado de cuidar da idosa, que vive com Alzheimer, e da subsistência dos dois. Vivendo sob o peso dos aluguéis atrasados e do preço dos medicamentos da avó, um dia, Dé recebe a triste notícia de que Dona Almerinda está em fase terminal da doença. O jovem, então, decide aproveitar os últimos dias da vida dela junto com os seus outros dois melhores amigos.
Data de lançamento: 23 de janeiro.
Data de Lançamento: 23 de janeiro
Em Paddington – Uma Aventura na Floresta, o adorável urso Paddington retorna ao Peru para visitar sua querida Tia Lucy, acompanhado pela família Brown. A viagem, que promete ser uma reunião afetuosa, logo se transforma em uma jornada cheia de surpresas e mistérios a serem resolvidos. Enquanto explora a floresta amazônica, Paddington e seus amigos encontram uma variedade de desafios inesperados e se deparam com a deslumbrante biodiversidade do local. Além de garantir muita diversão para o público, o filme aborda temas de amizade e coragem, proporcionando uma experiência emocionante para toda a família. Bruno Gagliasso, mais uma vez, empresta sua voz ao personagem na versão brasileira, adicionando um toque especial ao carismático urso. Com estreia marcada para 16 de janeiro, o longa promete encantar as crianças nas férias e já conquistou o público com um trailer inédito que antecipa as aventuras que aguardam Paddington e a família Brown no coração da Amazônia.
Data de lançamento: 23 de janeiro.
Data de Lançamento: 23 de janeiro
Uma missão importante é comprometida por um passageiro indesejado num avião a mais de 3000 mil metros de altura. Em Ameaça no Ar, um piloto (Mark Wahlberg) é responsável por transportar uma profissional da Força Aérea que acompanha um depoente até seu julgamento. Ele é uma testemunha chave num caso contra uma família de mafiosos. À medida que atravessam o Alasca, a viagem se torna um pesadelo e a tensão aumenta quando nem todos a bordo são quem dizem ser. Com os planos comprometidos e as coisas fora do controle, o avião fica no ar sem coordenadas, testando os limites dos três passageiros. Será que eles conseguirão sair vivos dessa armadilha?
Data de lançamento: 23 de janeiro.
Data de Lançamento: 23 de janeiro
Em Anora, longa dirigido e escrito por Sean Baker, acompanhamos a jovem Anora (Mikey Madison), uma trabalhadora do sexo da região do Brooklyn, nos Estados Unidos. Em uma noite aparentemente normal de mais um dia de trabalho, a garota descobre que pode ter tirado a sorte grande, uma oportunidade de mudar seu destino: ela acredita ter encontrado o seu verdadeiro amor após se casar impulsivamente com o filho de um oligarca, o herdeiro russo Ivan (Mark Eidelshtein). Não demora muito para que a notícia se espalhe pela Rússia e logo o seu conto de fadas é ameaçado quando os pais de Ivan entram em cena, desaprovando totalmente o casamento. A história que ambos construíram é ameaçada e os dois decidem em comum acordo por findar o casamento. Mas será que para sempre?
Data de lançamento: 23 de janeiro.
Data de Lançamento: 23 de janeiro
O papa está morto e agora é preciso reunir o colégio de cardeais para decidir quem será o novo pontífice. Em Conclave, acompanhamos um dos eventos mais secretos do mundo: a escolha de um novo Papa. Lawrence (Ralph Fiennes), conhecido também como Cardeal Lomeli, é o encarregado de executar essa reunião confidencial após a morte inesperada do amado e atual pontífice. Sem entender o motivo, Lawrence foi escolhido a dedo para conduzir o conclave como última ordem do papa antes de morrer. Assim sendo, os líderes mais poderosos da Igreja Católica vindos do mundo todo se reúnem nos corredores do Vaticano para participar da seleção e deliberar suas opções, cada um com seus próprios interesses. Lawrence, então, acaba no centro de uma conspiração e descobre um segredo do falecido pontífice que pode abalar os próprios alicerces da Igreja. Em jogo, estão não só a fé, mas os próprios alicerces da instituição diante de uma série de reviravoltas que tomam conta dessa assembleia sigilosa.
Data de lançamento: 23 de janeiro.
Data de Lançamento: 23 de janeiro
Em 12.12: O Dia, o assassinato da maior autoridade da Coreia do Sul causa um caos político sem precedentes. O ano é 1979 e, após a morte do presidente Park, a lei marcial é decretada, dando abertura para um golpe de estado liderado pelo Comandante de Segurança da Defesa, Chun Doo-gwang (Hwang Jung-min), e seus oficiais. Ao mesmo tempo, o Comandante da Defesa da Capital, Lee Tae-shin (Jung Woo-sung), acredita que os militares não devem tomar decisões políticas e, por isso, tenta impedir com os planos golpistas. Em um país em crise, diferentes forças com interesses diversos entram em conflito nesse filme baseado no evento real que acometeu a Coreia do Sul no final da década de 70.
Data de lançamento: 23 de janeiro