Crítica: “A Substância”, que chega hoje (31) na Mubi, dá zoom nos horrores dos padrões de beleza

A Substância. Foto: Divulgação.
Foto: Divulgação

Um dos filmes mais comentados da temporada, “A Substância” chega hoje (31/10) na plataforma de streaming Mubi. O segundo longa-metragem de Coralie Fargeat estreou nos cinemas em setembro e ganhou as redes sociais. O “body horror”, estilo de terror que destaca mudanças corporais exageradas, é celebrado com um novo olhar, destacando a crítica aos padrões de beleza de forma nauseante.

Demi Moore entrega uma de suas melhores interpretações da carreira, refletindo até mesmo sua vida pessoal. Cada vez mais perto dos 60 anos, a personagem Elizabeth Sparkle até já ganhou Oscar. Atualmente, perde o emprego como estrela de um programa de aeróbica na TV. Com medo do fim da carreira, se submete a uma experiência clandestina de beleza, em busca de uma versão mais jovem e bonita.

Então, ela dá origem à Sue, sua versão jovem, bela e inconsequente. A cena de como a mais jovem sai de dentro do corpo da mais velha é grotesca e bem detalhada, em uma direção certeira de Fargeat. A diretora dá atenção aos mais nojentos detalhes, mostrando em zoom o lado mais horroroso dessa busca por um ideal inalcançável de beleza e de tentativa de não envelhecer para poder continuar no mercado.

As outras atuações do elenco trazem uma ótima Margaret Qualey e Dennis Quaid. Quaid equilibra bem o caricato com referências a produtores da mídia que tratam pessoas como mercadoria, em cenas e diálogos grotescos. Margaret Qualey como Sue também encanta em cenas. A produção visual é muito bem tratada pela diretora, acompanhando o roteiro, assinado também por Coralie Fargeat.

Críticas

A cena de abertura mostrando a instalação da estrela de Elizabeht na Calçada da Fama é muito criativa. Aos poucos, a grandeza do ato vai sendo esquecida, rachada. A queda do ídolo é ligada ao envelhecimento da atriz, nessa busca da mídia por alguém mais jovem, mais inocente, mais facilmente explorável. “A Substância” resgata estilos de horror físico consagrados em filmes como “A Mosca”, mas introduzem um assunto pouco explorado no terror: o abuso da imagem feminina e a crueldade da busca pela perfeição.

Ainda assim, o filme não é didático. Não se propõe a explicar críticas nem a apresentar soluções. O lado absurdo dessa procura por uma versão cada vez mais jovem de si mesma, mais aceitável e mais vendável, vai ganhando a trama, especialmente no final – que decepcionou alguns espectadores. É fora da curva, destoa um pouco do estilo narrativo que vinha sendo construído, mas não é detrimento à obra como um todo, um dos mais marcantes filmes de 2024.

Por Brunow Camman
31/10/2024 17h25

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