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Foto: Canva

Esses dias cheguei em casa, não lembro se era tipo hora do almoço, de tarde, tanto faz, o ponto é que cheguei em casa e como de costume fui recepcionada com piruetas e latidos pelas duas moradoras caninas. Também como de costume, dei a atenção merecida e depois de coçar a barriga de uma que rolava no chão segui pra sala. 

E foi ali, no tapete que eu vi a fotografia do desastre: um papelzinho quadrado metalizado dourado amassado e aberto, o tapete meio manchado de marrom e ali, solta no meio do caminho, uma avelã cuspida.  Imediatamente virei os olhos pra única meliante possível e pausadamente falei BE-RE-NI-CE! Ela, na hora sacou do que se tratava e abaixou o corpinho deitando no chão e levantando o olhar de tadinha que na certa é um instinto de proteção dos cães. 

Eu tinha deixado minha cestinha de páscoa (oin) em cima do baú que serve de mesinha de apoio do spot onde eu tomo café toda manhã (sou uma pessoa de hábitos) e ela foi lá e abocanhou o Ferrero Rocher e ainda cuspiu a avelã. 

Está certo que quando Berenice era bebê (às vezes eu acho que ainda é de tão hiperativa – mas isso pode ser influência minha) eu precisava afastar todas as cadeiras da mesa pra não encontrar ela sentadinha ali em cima quando eu chegava em casa, sem contar na enorme quantidade de incenso ingerido (que não deixava as flatulências mais agradáveis) e papéis de tudo quanto é tipo de importância destruídos. 

Mas essa fase já passou (ou tinha passado) e a gente sempre deixa chocolate ou bolacha ou bala ou qualquer coisa no alcance delas – e até agora, elas respeitavam.

No fim, fiquei ali esperando a hora que o estrago gastrointestinal ia dar as caras – não aconteceu. 

Alguns dias depois, na verdade ontem de noite, estávamos deitadas no sofá quase dormindo ao som da tevê quando Berenice começou a ficar desesperada latindo pra baixo do sofá. O filho dela (um macaco de pelúcia áspera e meio úmida que já costurei três vezes o pescoço) era a única coisa que justificaria aquele desespero e ele estava ali, logo do seu lado. Chegamos a pensar que tinha um bicho embaixo do sofá ou algo do tipo porque nada além do filho-macaco explicava aquele estado de latidos descompensados e intermináveis. 

Resolvi vasculhar e pa!: uma caixa destruída. De cara pensei, meu deus, Berenice virou chocólatra. 

Mas dessa vez, deu pra entender, o chocolate era língua de gato. Mal consegui brigar. 

Por Raisa Gradowski
13/04/2023 14h13

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