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Foto: Emily Bernal/Unsplash

O inverno fora de época da semana passada (que na real nem tem mais isso de época pra nada com toda zoeira climática que a gente tem causado), contribuiu com um extra na inquietação intrínseca natural dos dias gelados e chuvosos: me escancarou de segunda a domingo, sinais.  

Há tempos tento me livrar desse hábito meio tosco de enxergar sinais em tudo que é tipo de situação – em especial, numéricos. Mas dessa vez, nem que eu não quisesse ver o sinal como um sinal conseguiria. Ainda mais que o tal sinal coincide com o dia que nasci. 

Mas foi assim. 

De segunda a domingo, o treze se estampava na minha cara em toda oportunidade que existia dum número aparecer. E não sei se por isso ou não, mas mesmo com o frio esbranquiçado do lado de fora, minha inquietação que nesse clima geralmente toma rumos melancólicos, rumava pruma ansiedade eufórica (daquelas boas, sabe?) cada vez que eu via no celular ou computador ou televisão ou no painel do carro ou até nas placas de rua os 13 graus.

Já na segunda, me programei para sair precisamente uma e dez da tarde de casa. Não é que eu tivesse algum compromisso com horário exato – mas é que pra mim acaba sendo sempre esse precisamente. O elevador apitava o som contínuo e estridente de alguém segurando a porta e, olhando o letreiro vermelho indicando o décimo terceiro andar, quase entrei em transe pensando que domingo estava chegando e logo também primeiro de janeiro e sorri pelo atraso (acabei entrando no elevador 13h13).

O resto da semana foi assim. A cada espiada no relógio via 13h13 (o que significa que além de tudo, alguém que eu gosto estava pensando em mim), a friaca de 13 graus enviada diretamente por São Pedro não saía dos marcadores de temperatura, a vizinha do décimo terceiro segurou mais algumas vezes o elevador berrando o apito estridente e não me irritei. 

Foi ali pela região da Treze de Maio quando fui atravessar a rua e meti o pé na faixa no exato momento em que o cronômetro do sinal verde de pedestre marcava treze segundos restantes que decidi. O churrasquinho vota-e-vem de domingo, teria treze convidados (Não deu, o povo animou demais e fechei em vinte e seis para continuar nos múltiplos).

No domingo foi tenso. No domingo foi intenso. Passei a noite dormindo e acordando pesadelando. O aumento astronômico de armas. As mortes por Covid. As vacinas ignoradas. O ódio pelo diferente. As rachadinhas. O desmonte da cultura. A desumanidade que nem envergonha. A fome. Os 51 imóveis comprados com dinheiro vivo. O garimpo ilegal. A Amazônia. A vergonha e chacota internacional. A democracia. Depois de ter visto aqueles sinais, depois de juntar toda aquela energia de mudança, esperançamos demais numa vitória iminente e nem percebemos que sim, vencemos. Esperançar. Dormir vendo no interior das pálpebras aquela palavra.

Acordei no dia seguinte ainda com a cabeça latejando pensando que a batalha foi pra prorrogação, mas que a vantagem, sim, era nossa. No relógio: 08h13. 

Por Raisa Gradowski
04/10/2022 16h57

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