Bolas Baoding.docx

Foto: Canva

Enquanto espero pingar uma ideia pego da caixinha retangular forrada com tecido tema oriental as duas bolinhas chinesas metálicas (agora descubro bolas Baoding) e com a ajuda dos cinco dedos começo a girá-las no sentido horário massageando a palma da mão direita. 

Pela janela aberta, o sol acende as linhas de cobre que contornam os dragões verde e branco desenhados nas bolas com fundo vermelho e a cada volta na minha palma elas cantam com seus sinos internos.

Desligo o Spotify e me atento aos sons emitidos pelas bolinhas, ao eco do impacto metálico quando se chocam os dragões dançam na minha mão no ritmo que eu controlo. 

Paro a dança e balanço uma bolinha por vez perto do ouvido tentando diferenciar os sinos. Já li que tem uma pegada sonora ying yang aí, cada uma toca suas notas, mas não distingo nada.  

Foto: Arquivo Pessoal

Volto a girá-las no mesmo sentido e quando vejo, estou numa disputa interna meio frenética tentando movimentar o mais rápido possível e causando nos dragões enjoo de tanto rodar e rodar e rodar. Não preciso nem pesquisar pra saber que obviamente uma das funções dessas tais bolinhas é trabalhar ansiedade, e eu querendo acelerar.  

Ainda olhando pras bolinhas circulando agora bastante rápido e num ritmo de coordenação até que bem razoável, enxergo nelas o tempo passando como ponteiros do relógio. Penso nos prazos estourando e eu perdida e embalada pelos sinos metálicos ying yang.

Paro o movimento. Imagino como seria bom girá-las no sentido anti-horário e o tempo voltar um tiquinho, ou passar mais devagar quem sabe. Com a ajuda excepcional do dedão da mão direita, começo a tentativa de giro das bolinhas no sentido anti-horário. Até consigo, mas o som que elas emitem vira ruído e a velocidade pra manter a coordenação (adivinha só) me deixa meio ansiosa. 

Passo as bolinhas pra mão esquerda achando que não vai rolar coordenação. Tento o giro no anti-horário. Me surpreendo: funciona. De olhos fechados, escutando a música dos sinos desejo que o tempo volte um pouco. 

Ao erguer as pálpebras, bato o olhar no relógio analógico de parede na minha esquina. Marca duas horas atrás. E aí lembro que tenho que trocar a pilha. 

Por Raisa Gradowski
03/08/2023 14h17

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