Saiu Tudo do Ar.docx

Foto: Jeremy Bezanger

WhatsApp saiu do ar. E Instagram também. E Facebook também. O tropeço do Mark nos cabos e fios, deu um respiro. Involuntariamente atualizando informações, na maioria das vezes irrelevantes, os dedos já estão com câimbra. No pescoço, vira e mexe torcicolo, de tanto se dobrar para desinformações. Faz tempo que tudo está fora do ar – e há quem diga que o problema é justamente o excesso de conexão.  

Mas resistir ao poder de sedução desses algoritmos que gritam com notificações, não é fácil. Já vejo vindo lá na esquina uma onda de detox de redes sociais, com todo mundo deletando os aplicativos, mas mantendo a conta (também não dá para ultrapassar o limite da desconexão). Parece que o único jeito de não dar só uma olhadinha no Insta quando se consulta as horas, é vencer por W.O. Está na hora de voltar a usar relógio de pulso. Analógico.  

De mãos, e dedos, atados, tentei os benefícios da ausência de distrações instantâneas para focar na escrita dessa crônica. Mas nem o boicote internacional às interações sociais foi capaz de controlar meu instinto de verificar o celular. Já foram três, as vezes que, sem nem perceber, rolei a página do Instagram. Ainda: Não foi possível atualizar o feed.

E pensando no Instagram, olho para o lado e vejo um álbum com fotos antigas reveladas. Ainda jogado sobre a mesa, pois recentemente, como bela jovem velha que me tornei, tinha enviado fotos das fotos no grupo “Tudo junto (L)”. Ou muito elaboradas e pensadas, ou todo mundo espremido, se esticando na ponta do pé (pelo menos eu), querendo aparecer um pouquinho. Tinha que fazer valer as vinte quatro, ou em tempos mais ousados trinta e seis, poses. Mas sempre acabava um olho fechado, uma cara de espanto, ou uma luz estourada bem na testa de alguém, pintando um reflexo de raio branco. Não queria pegar o celular, mas abro o Whats só para dar uma olhadinha nessas fotos antigas. Sempre tem alguma que não vi – as fotos eram pra gente e não pro mundo. Continua “Conectando…”

Acho entre os arquivos compartilhados, também fotos de bilhetes. Não preciso nem ler a assinatura para saber quem escreveu. A letra dos amigos, dos antigos, eu reconheço só de bater o olho. Pena que agora a letra de todo mundo varia só entre Calibri, Segoe UI, FixedSys, dependendo de onde o escrito foi deixado. Bons tempos os de conversas em escritos de caderno. E por falar em saudosismo, fui só dar uma fuçadinha e a página do Face, continua dizendo Erro ao carregar a página

Percebo então que mesmo sem as redes, minhas mãos não param de procurar o celular. Tá tudo fora do ar e eu não paro de verificar atualização inexistente. O jeito é apelar para a dica de deixá-lo fora do alcance – e já aproveitar para dar uma carguinha. Coloco o aparelho para carregar na outra ponta da sala. 

Agora sim consigo focar. Chega de distrações e verificações compulsivas e automáticas e involuntárias de qualquer novidade ou atualização. Chega de estar constantemente conversando, conectando, consumindo. Chega de focar mais na tela de um aparelho do que na tela desse texto.  Opa, esqueci da dica de silenciar – o Zap voltou.  

Por Raisa Gradowski
05/10/2021 14h13

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