Seu último filme e de longe o mais polêmico de toda a sua filmografia, A Idade da Terra foi lançado na década 1980, por Glauber Rocha e considerado pelo cineasta Michelangelo Antonioni como uma lição de cinema moderno. Paralelamente, na Terra do Tio Sam surgia de forma avassaladora o cinema queer no momento de crise de AIDS. Se a doença naquele período era remetida exclusivamente a casais gays, hoje em dia o bafafá não mudou muito. O fato é que o Cinema Queer se transmutou. Para quem pensa em Almodóvar como maior referência, aqui pelo tupiniquim as produções têm ganhado cada vez mais abertura em espaços de exibições para a alegria de todxs.
“Foi o primeiro filme da pós-retomada que abraçou de forma assumida uma identidade LGBT marginal (negra, pobre, ligada ao crime e à transgeneridade) com uma postura de empoderamento”, sugere o cineasta recifense e fundador do coletivo Surto Filmes & Deslumbramento Chico Lacerda sobre o filme Madame Satã, de Karin Ainouz.
“Se o estopim do cinema queer foi a AIDS, atualmente, há o descentramento destas identidades, com uma maior aposta na transgenidade e na exploração dos limites do corpo e das práticas eróticas, na tentativa de transcender as identidades hegemônicas”, define o recifense que esteve em cartaz durante a Mostra New Queer Cinema, na Caixa Cultural, em Curitiba com o filme Estudo Em Vermelho. Em novembro, ele estreia na capital o seu mais recente trabalho, o curta-metragem Virgindade, durante a Après la Liberté — Mostra Cinematográfica Tropical Tupiniquim.
O filme Virgindade foi premiado na 43ª edição do Festival de Cinema de Gramado na categoria Montagem e recebeu o troféu Cachaça Cinema Clube na categoria Melhor Filme, durante o 26º Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo.
O Curitiba Cult aproveitou a passagem da Mostra New Queer Cinema e aproveitou para bater um papo com o Chico Lacerda sobre o movimento queer, provando que todo este contexto vai além de qualquer estereótipo entre homens de salto, transgênero, purpurina e Donna Summer.
Curitiba Cult: Você está estreando em Curitiba com o filme Estudo em Vermelho e, em 1887, era lançado o livro A Study in Scarlet (Arthur Conan Doyle), em que o personagem do investigador Sherlock Holmes aparece pela primeira vez na literatura. A tradução brasileira do livro leva o mesmo nome de seu filme. Existe alguma relação?
Chico Lacerda: Não, nenhuma. Foi difícil pensar no título do filme, não me vinha nada à mente. Mas, como rola todo esse questionamento a respeito da relação entre alta e baixa cultura, eu queria algo que parodiasse a alta cultura, então veio o Estudo em Vermelho: “estudo” remetendo àquela ideia de um estudo antes da obra final, própria da pintura e das belas artes. Veio também o subtítulo (em um prólogo, dois atos e um número musical), puxando também pra essa pompa erudita. Junto com isso a referência ao Sherlock Holmes, algo que fica a meio caminho entre alta cultura e cultura popular, literatura policial e de suspense que tá sempre nessa zona cinza, desperta a desconfiança do erudito.
Como Estudo em Vermelho foi selecionado para a mostra NQC?
Foi o Aleques Eiterer [cineasta], que tá na produção da mostra, quem convidou. Sei que o Denilson Lopes, um dos organizadores, já curtia o filme desde que viu em Tiradentes, no ano passado. Enfim, não sei exatamente como rolou, mas fiquei feliz de ele passar junto [no mesmo dia] com o Poison, do Todd Haynes. Acho que ambos têm uma relação muito próxima com a paródia.
Dos seis filmes nacionais exibidos na mostra NQC, cinco são produções do nordeste do país. Por que você acredita ter existido este “nivelamento”?
Boa pergunta. Não identifico uma especificidade nesse sentido no nordeste, talvez seja somente uma leva mais forte que veio daqui.
Você é pernambucano. Como você observa a produção cinematográfica no âmbito queer nas outras regiões do país?
Parece-me um movimento mais homogêneo. Vejo filmes fortes de cunho queer vindos de outros lugares também, seja o Nova Dubái, de Gustavo Vinagre, e os filmes de Marcelo Caetano de SP. Will Domingos, Leandro das Neves mais a galera do Casarão no Rio. Aqui no nordeste tem esses diretores exibidos na mostra. Enfim, me parece que uma nova forma de representação LGBT vem sendo experimentada nos últimos anos, em vários locais do Brasil, não somente por aqui.
Do movimento queer aos dias de hoje, em relação ao cinema, qual é a principal característica você destacaria sobre o cinema produzido na década de 1980 e os filmes realizados atualmente?
Acho que na década de 80 rolava muito uma postura de enfrentamento ao status quo, um certo orgulho das margens, mas ainda muito centrado nas identidades lésbica e gay e nas questões relativas a elas naquele momento (com alguns pontos de fuga, caso do Paris is Burning e Go Fish [não exibidos na mostra], em que a própria noção de identidade essencialista é questionada).
Hoje vejo um descentramento destas identidades, com uma maior aposta na transgeneridade e na exploração dos limites do corpo e das práticas eróticas, na tentativa de transcender as identidades hegemônicas. Por outro lado, e mais importante, vejo também um afastamento das questões LGBT propriamente ditas em direção a questões políticas mais amplas, seja a relação dos indivíduos com a cidade, com questões sociais/raciais, com a cultura etc.
Particularmente, qual filme brasileiro você define como o estopim do cinema queer e do NQC?
Madame Satã, do Karim Ainouz. Acho que foi o primeiro filme da pós-retomada que abraçou de forma assumida uma identidade LGBT marginal (negra, pobre, ligada ao crime e à transgenridade) com uma postura de empoderamento.
Você considera Estudo em Vermelho um filme essencialmente experimental ou queer?
Claramente não remete à narrativa clássica, mas acho que tem um arco narrativo bem claro, não sei se poderia chamar de experimental (pela pouca ideia que tenho do que seja experimental). Acho que se aproxima bastante do NQC pelas operações de paródia, pela mistura de referências, pelo deboche.
Quais foram as produções que você realizou com a temática queer?
Em 2007 dirigi um curta superpróximo do cinema LGBT feito na época, o Doce e Salgado. Nos anos seguintes, realizei alguns mais próximos das questões queer, que foram A Banda (2010), Estudo em Vermelho (2013) e Virgindade (2015).
Quais são suas perspectivas sobre o futuro do cinema no âmbito queer no Brasil?
Acho que questões queer – bem como a reação conservadora a elas – estão bem em pauta. Imagino que a produção cresça e se diversifique nos próximos 2 anos, mais ou menos.
Assista aqui ao filme completo Estudo Em Vermelho
Assista aqui ao trailer de Vigindade
Para conhecer outros filmes do cineasta Chico Lacerda acesse o site do coletivo Surto Filmes & Deslumbramento.
Data de Lançamento: 19 de dezembro
As Crônicas de Uma Relação Passageira conta a história do romance entre Charlotte (Sandrine Kiberlain) e Simon (Vicenti Macaigne) que se conhecem em uma festa. Charlotte é uma mãe e solteira, já Simon é um homem casado e sua esposa está grávida. Eles se reencontram num bar e começam um relacionamento repleto de percalços. Ela é mais extrovertida, pouco preocupada com o que os outros pensam. Ele é mais tímido e retraído. A princípio, os opostos realmente se atraem e ambos concordaram em viver uma relação apenas de aventuras, mas tudo se complica quando os dois criam sentimentos um pelo outro e o que era para ser algo muito bom, acaba se tornando uma relação perturbadora.
Data de Lançamento: 19 de dezembro
Dirigido e roteirizado por Pat Boonnitipat, a trama dessa ficção emocionante, Como Ganhar Milhões Antes que a Vó Morra, acompanha a jornada do jovem When M (Putthipong Assaratanakul), que passa a cuidar de sua avó doente chamada Amah (Usha Seamkhum), instigado pela herança da idosa. O plano é conquistar a confiança de sua avó, assim será o dono de seus bens. Tendo interesse apenas no dinheiro que Amah tem guardado, When resolve largar o trabalho para ficar com a senhora. Movido, também, por sentimentos que ele não consegue processar, como a culpa, o arrependimento e a ambição por uma vida melhor, o jovem resolve planejar algo para conseguir o amor e a preferência da avó antes que a doença a leve de vez. Em meio à essa tentativa de encantar Amah, When descobre que o amor vem por vias inimagináveis.
Data de Lançamento: 19 de dezembro
Um aspirante a escritor utiliza um alter ego para desenvolver seu primeiro romance. Em Sebastian, Max é um jovem de 25 anos que vive como escritor freelancer em Londres trabalhando com artigos para uma revista. Ter um livro publicado fala alto na lista de desejos do rapaz e, então, ele encontra um tema para explorar: o trabalho sexual na internet. Se a vida é um veículo de inspiração para um artista, Max corre atrás das experiências necessárias para desenvolver a trama de seu livro. Com isso, durante a noite, Max vira Sebastian, um trabalhador sexual com um perfil em um site no qual se oferece pagamentos por uma noite de sexo. Com essa vida dupla, Max navega diferentes histórias, vulnerabilidades e os próprios dilemas. Será que esse pseudônimo é apenas um meio para um fim, ou há algo a mais?
Data de Lançamento: 19 de dezembro
Uma comédia em que grandes segredos e humilhações se cruzam e vem à tona. Histórias Que é Melhor Não Contar apresenta situações com as quais nos identificamos e que preferimos não contar, ou melhor, que preferimos esquecer a todo custo. Encontros inesperados, momentos ridículos ou decisões sem sentido, o filme aborda cinco histórias com um olhar ácido e compassivo sobre a incapacidade de controlar nossas próprias emoções. Na primeira história, uma mulher casada se vê atraída por um rapaz que conheceu em um passeio com o cachorro. Em seguida, um homem desiludido com seu último relacionamento se vê numa situação desconfortável na festa de um amigo. Na terceira, um grupo de amigas atrizes escondem segredos uma da outra. Por último, um professor universitário toma uma decisão precipitada; e um homem casado acha que sua mulher descobriu um segredo seu do passado. Com uma estrutura episódica, as dinâmicas do amor, da amizade e de relacionamentos amorosos e profissionais estão no cerne desse novo filme de Cesc Gay.
Data de Lançamento: 19 de dezembro
Lee, dirigido pela premiada cineasta, Ellen Kuras, vai contar a história da correspondente de guerra da revista Vogue, durante a Segunda Guerra Mundial, Elizabeth Lee Miller. O filme vai abordar uma década crucial na vida dessa fotógrafa norte-americana, mostrando com afinco o talento singular e a tenacidade dela, o que resultou em algumas das imagens de guerra mais emblemáticas do século XX. Isso inclui a foto icônica que Miller tirou dela mesma na banheira particular de Hitler. Miller tinha uma profunda compreensão e empatia pelas mulheres e pelas vítimas sem voz da guerra. Suas imagens exibem tanto a fragilidade quanto a ferocidade da experiência humana. Acima de tudo, o filme mostra como Miller viveu sua vida a todo vapor em busca da verdade, pela qual ela pagou um alto preço pessoal, forçando-a a confrontar um segredo traumático e profundamente enterrado de sua infância.
Data de Lançamento: 19 de dezembro
Prólogo do live action de Rei Leão, produzido pela Disney e dirigido por Barry Jenkins, o longa contará a história de Mufasa e Scar antes de Simba. A trama tem a ajuda de Rafiki, Timão e Pumba, que juntos contam a lenda de Mufasa à jovem filhote de leão Kiara, filha de Simba e Nala. Narrado através de flashbacks, a história apresenta Mufasa como um filhote órfão, perdido e sozinho até que ele conhece um simpático leão chamado Taka – o herdeiro de uma linhagem real. O encontro ao acaso dá início a uma grande jornada de um grupo extraordinário de deslocados em busca de seu destino, além de revelar a ascensão de um dos maiores reis das Terras do Orgulho.