Sinceridade sempre faz bem. Será?

Temos dezenas de razões para ter pirado com a chegada da quarta temporada de Atypical. Mais do que falar sobre o autismo com sensibilidade, a trama questiona: que família não é atípica? E a cada episódio, joga no meio das nossas cobertas no sofá, reflexões sobre abandono, infidelidade, controle, sinceridade.

Da pra ter DRs de respeito e redigir, pelo menos um texto, sobre cada um desses temas, que são mais do que typical na vida da gente.

Hoje, escolho o que mais me encanta: a sinceridade do Sam, que rende momentos hilários à série. Pois uma das características do jovem que possui espectro de autismo é a comunicação literal e sem melindres. Ele fala o que pensa e o que sente, sem se preocupar com a expectativa do outro ou com as consequências do que diz.

*Spoiler*

Em uma cena da última temporada, sua professora sugere que ele comemore uma conquista com quem mais ama e ele escolhe o Stump, um pinguim que vive em um aquário, para decepção da sua namorada.

Fico imaginando como o mundo seria se todos fossem francos o tempo todo, como o Sam.

– Por que você decidiu vender esse carro?

– Porque não aguento mais ficar na rua com ele. Toda semana vai pra oficina. O motor aquece, ele morre e não pega mais. Fica mais no conserto do que comigo. Preciso me livrar dele.

– Por que você quer dar um tempo?

– Porque não tenho coragem de dizer que quero terminar. Quero ficar com outra pessoa, mas não sei se vai dar certo. Então, estou pedindo um tempo, pra você não ficar tão pra baixo e para eu poder voltar atrás caso me arrependa.

– Estou bem com essa roupa?

– Não. Você comprou um número menor? Essa calça ta tão apertada que parece que você costurou ela no corpo. E seus peitos, provavelmente, vão ser ejetados pra fora do seu decote na primeira lombada que você passar na rua.

– Deus, sempre que eu venho aqui é para pedir alguma coisa e fazer promessas que o Senhor sabe que não vou cumprir. E dessa vez não vai ser diferente. Mas preciso demais da sua ajuda.

– Acha que devo postar essa foto?

– Nem parece que é você. Tem muito filtro. Seu rosto está tão suavizado que seu ossinho do nariz desapareceu. E essa make está tão falsa que os cílios estão passando por cima da sua franja. Tira os filtros pra postar. Você é mais bonita do que isso.

– Por que estou sendo demitida?

– Você começou a se destacar muito no nosso setor. A cada projeto fica mais claro que você é muito mais competente do que eu. Como quero manter o meu cargo na empresa e você é uma ameaça pra mim, tomei a decisão de mandar você embora com a desculpa de que seu perfil não se encaixa mais aos novos desafios da companhia.

– Você já vai dormir?

– Não. Só estou cansado de falar com você e tem uma menina nova lá do escritório que está me chamando para conversar.

E aí? Será que estamos prontos para lidar com as verdades dos outros? Será que damos conta de arcar com as consequências das nossas próprias verdades?

Por Luciane Krobel
12/07/2021 17h42