Sentei e senti algo fofo demais para estar tudo bem

Reprodução.

Na semana passada uma pessoa me disse que minha coluna da semana retrasada estava ruim. E que eu estava sem inspiração. Hum… concordo. Foi uma coluna meia boca mesmo.

Mas a crítica ardeu. Puta, que saco, to grandinha já, com 44, e as críticas ainda vêm como um chicote nas minhas costas. 

Não que eu não saiba reconhecer a minha mediocridade. Ou que prefira não ser criticada. Quero as críticas, sim. Quando elas não vêm espontaneamente, eu busco. Gosto e valorizo demais o retorno das pessoas, sobre tudo: do meu café ao meu planejamento estratégico anual de marketing da empresa. Faço questão de saber se deixei a desejar, se errei no sal, se estou com bafo, gosto de saber tudo que pensam de mim.

O problema é a minha intolerância comigo mesma sobre ser meia boca de vez em quando.

Sou daquelas metidas a besta que quer ser o ó em tudo que faz. Se eu decido cozinhar para uma pessoa, meu plano sempre será servir o néctar dos deuses do Olimpo. Coisa que qualquer mortal chama de janta, mas eu vou fazer tudo que não tiver ao meu alcance para ser a refeição mais inesquecível da vida da criatura. 

Louca? Sim. Muito louca. Louca, desumana e exausta.

Não sei de onde veio essa mania de desejar ser perfeita. Sei que não sou. Nem perto de ser. Mas sou dura com minhas pequenezas, meus limites, meus erros e fico o tempo todo querendo ser melhor.

Não sei exatamente por quê. Mas, se a Pitty estiver certa, eu vivo a eterna busca do que fazer pra você admitir que você me adora (ouh, oouh, ah, ah). Que me acha foda (ouh, oouh, ah, ah)…

Velho tema de terapia. Vivo tentando desfazer a ideia de que ninguém vai me amar se eu for imperfeita. Mas a verdade nua e crua que está vindo como um chute na minha canela é que quem não me ama imperfeita sou eu.

É. Porque a minha mãe me ama. Eu pego os tupperwares dela, devolvo tudo sem tampa, faço farelo de bolo no sofá dela, não sigo os conselhos que ela me dá e depois fico chorando. E ela, mesmo assim, me ama.

Meus filhos me amam. Eu já esqueci eles na escola, faltei na reunião de pais, surtei e arremessei objetos (inofensivos) na frente deles e eles continuam fazendo cartões de amor no Dia das Mães.

Meu cachorro me ama. Eu nunca tive paciência de ensinar ele a jogar bolinha, não dou comida de humanos para ele e já esqueci ele trancado pra fora de madrugada. Mas o bicho continua abanando o rabo pra mim.

A pessoa que criticou minha coluna esperava mais de mim, mas também me ama, que eu sei muito bem. 

Mas, então, que merda é essa projeção onipotente que faço de mim mesma? Isso vem de anos. Uma vez, num aniversário, eu sentei na nega maluca da festa. Imagine: em 1985 mais ou menos, a nega maluca era a estrela de qualquer aniversário, junto com os canudinhos de maionese. E, eu, correndo desvairada pela sala, com mais umas 16 crianças, sentei para descansar da brincadeira e senti algo muito macio no meu traseiro. Era a nega maluca.

Saí sorrateira, fui pra casa, troquei de roupa, lavei minha calça e voltei para a festa. Quando retornei, já tinham percebido que alguém tinha sentado na nega maluca, mas não conseguiam identificar o culpado porque todas as bundas estavam limpas.

Me aproximei da minha mãe, contei o que tinha acontecido e tentei me redimir dizendo que eu já tinha até lavado a minha calça suja de chocolate. Ela riu. Todos riram.

Mas eu passei meses me sentindo a estragadora de eventos. Hoje eu me pergunto, por que me cobrei disso por tantos anos? Aquela nega maluca não tinha nada que estar em cima do sofá, na sala que as crianças estavam brincando. 

Ou,

será que eu deveria ter olhado se tinha um bolo na poltrona antes de sentar? Será que desapontei meus amigos quando parei de brincar e fui sentar um pouco? Será que eu devia ter ido naquela festa? Será que eu é que sou maluca?

Por Luciane Krobel
18/10/2021 14h10

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