Se ela é feminista, ela só pode ser…

Ela tem cabelos curtos, é gorda e odeia homens. Ela não transa. Se transa com mulheres, é porque nenhum homem fez o serviço direito. Ela não quer casar, ter filhos, incentiva a prática do aborto e ainda condena mulheres que se casam e desejam ser mães. Ah, e não gosta de lavar louça. Se ela é feminista, só pode ser tudo isso. Esse é o estereótipo da feminista para muita gente, E gente que, definitivamente, não entende NADA de feminismo.  Só acertam o fato de não gostar de lavar louça – porque, né? Quem gosta?

Não adianta querer estereotipar. Feminista pode ser o que ela quiser — e essa é a beleza do movimento. Feminismo não tem nada a ver com orientação sexual e com aparência. Para ser feminista, uma mulher pode ser gorda, magra, alta, baixa, hétero, homo, cis ou transexual.  O feminismo tem a ver com a liberdade de qualquer mulher se sentir bem com sua aparência e com sua orientação sexual, seja ela qual for. Feministas não odeiam homens – pelo menos, não todas. Entretanto, sim, odeiam o machismo e lutam todos os dias contra ele. Então, se você é machista, provavelmente vai ouvir o que não quer. E com toda razão.

O que o feminismo busca é a liberdade da mulher diante das pressões da sociedade. Que ela seja empoderada o suficiente para saber o que ELA quer e não o que os outros querem por ela. Que ela não sofra com transtornos alimentares tentando se encaixar num padrão que não é o dela, que não se case com quem ela não ama, que tenha liberdade de transar com quem ela quiser e de amar quem ela quiser – seja quem for. É poder ser mãe e exibir suas marcas do parto sem vergonha e amamentar sua filha ou filho quando e onde precisar. É não precisar ser mãe se não quiser e não ser julgada por isso. É parar de punir a mulher pobre que aborta e fingir que a rica não aborta. É tratar esse assunto como saúde pública e não questão moral e religiosa.

O feminismo é um movimento político por direitos — direito de escolha e direitos iguais, salários iguais, direito ao próprio corpo e à própria personalidade. Principalmente, por respeito às suas escolhas.

A feminista luta contra a violência. Contra as mortes que o machismo gera e o número de pessoas que ele machuca todos os dias. Contra os relacionamentos abusivos em que muitas mulheres se encontram por serem diminuídas e subjugadas, não conseguindo ver uma saída. Contra o medo que todas as mulheres sentem de serem violentadas sexualmente, fisicamente ou verbalmente e terem que pensar no tipo de roupa com que vão sair ou no batom que vão passar para não ouvir lixo de estranhos. Medo de, mesmo que pensem e resolvam sair de burca por aí, ouçam as mesmas besteiras.

Portanto…

Se ela é feminista, ela quer poder ser quem ela é, sem ninguém ficar cagando regra na vida dela. Ela quer continuar viva e não quer ouvir disparates pelas ruas — usando o que estiver usando. Ela quer ganhar o mesmo salário que um homem pela mesma função e não se preocupar em apanhar do seu companheiro e ter que enfrentar a desconfiança e a incompetência das autoridades diante das violências que poderá sofrer. Ela quer decidir sobre a sua vida por ela mesma. Se ela é feminista, ela só pode ser uma pessoa livre, que busca a mesma liberdade para suas companheiras. Ela não quer ser vítima desses estereótipos. E fim de papo.

Por Laura Beal Bordin
22/08/2015 08h00