Sobre estereótipos, tensões raciais, culturais e históricas entre o continente africano e o território brasileiro: qual África te habita?
Já dizia Emicida “Só é feliz, quem realmente sabe que a África não é um país”, esse é um trecho da letra de Mufete, faixa que integra o álbum Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa (2015).
Em busca de sua ancestralidade e do resgate de uma história que não é contada nos livros de escola, Emicida embarca em uma viagem de cerca de 20 dias por Angola e Cabo Verde, lugar onde grande parte das faixas do álbum citado foram gravadas, e mesmo as que foram em solo brasileiro, possuem forte presença de referências africanas daqueles países, seja nos arranjos, ou nas suas composições.
Em entrevista ao Laboratório Fantasma, o artista revela que o título do álbum faz referência às imagens que marcaram sua visita ao continente, “crianças sorrindo, quadris dançando, pesadelos em volta deles, tentando roubar a alegria que lhes restou, e no meio de tudo isso cada um cumpria suas obrigações, fazia sua lição de casa”. Todo o processo de produção deste trabalho revelou várias formas de fusões entre as histórias e culturas de África e Brasil, que permeiam o trabalho do rapper.
É, a gente sabe que a África não é um país, mas às vezes, esquece. A nossa forma de ver o outro, baseado apenas em estereótipos, contribui – de forma intencional ou não – na disseminação e manutenção de uma série de pré-conceitos.
A complexidade cultural e histórica de indivíduos – ou de um povo – é imensa, e o não reconhecimento dessas características abrem margem para o que Chimamanda Adichie chama de “O perigo de uma única história”. Chimamanda é uma mulher nigeriana e uma das principais e mais influentes escritoras de seu país.
Aos 19 anos Chimamanda inicia seus estudos em uma Universidade nos Estados Unidos e se depara com uma colega surpresa por, “apesar de ser africana, falar inglês tão bem”. Pois é, o que a colega não sabia é que o inglês é uma das línguas oficiais da Nigéria, veja só!
A África que a colega de Chimamanda conhecia era a de uma história única, uma história marcada por catástrofes, guerras e pobreza, e “nesta história única não havia nenhuma possibilidade de os africanos serem semelhantes a ela”.
Romper com ideias e pensamentos que transmitem histórias únicas é um trabalho difícil, mas nós, enquanto cidadãos que buscamos uma sociedade justa e igualitária, temos um papel fundamental nesse processo, que é o de não perpetuar uma visão unilateral sobre o outro e toda a sua complexidade.
Nesse sentido, outro papel fundamental é o do sistema educacional: O Brasil é o segundo país com o maior número de habitantes negros, e ainda assim existe um déficit grande na produção de conteúdo acadêmicos resultantes de estudos que tragam a relação entre África e Brasil no cerce de sua discussão e, consequentemente, na formação de profissionais da educação com o tema.
Com o intuito de trazer para a realidade as várias relações socioculturais e históricas presentes nesse contexto, em 09 de janeiro de 2003, foi sancionada, pela presidência da república, a lei de nº 10.639, que altera as diretrizes e bases da Educação Nacional trazendo para o currículo da Rede de Ensino escolar a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”.
No entanto, na prática, vemos esses conteúdos sendo trabalhados – quando são – apenas na semana da consciência negra, e trazem a história contada do ponto de vista europeu, novamente uma história única.
O continente Africano é vasto em cultura, religião, idioma, política, e por aí vai. Na mesma linha de artistas como Emicida e Chimamanda, que buscam por ancestralidade, resgate cultural e histórico, o fotógrafo César Fraga e Maurício Barros de Castro, escritor e professor pesquisador da diáspora africana, percorreram vários povoados e cidades do continente africano, buscando lugares de memórias do tráfico transatlântico e da herança da escravidão colonial.
Foram 9 países visitados, e todas as experiências, sensações, e emoções são registrados no documentário Sankofa – a África que te habita, disponível na Netflix.
O documentário tem 10 capítulos e cada um deles trata da expedição a um país, passando por pontos de partida onde os africanos foram sequestrados e trazidos em direção às Américas, lugares de memórias de um não-retorno.
Além das experiências vivenciadas por Fraga e Castro, o documentário traz ainda uma série de outras informações sobre a Rota dos Escravos trazidos ao Brasil, a ressignificação desses espaços, a assimilação cultural entre esses países, promovendo um rico diálogo entre pesquisadores de diversas áreas como antropologistas, historiadores, linguistas, entre outros pesquisadores.
O documentário é emocionante, a fotografia lindíssima, e o conteúdo é muito rico pois traz várias visões diferentes sobre uma história que ainda é muito fragmentada.
Mas, afinal, o que é Sankofa?
É um dos mais conhecidos símbolos Adinkra, que são ideogramas relacionados ao povo da etnia Akan, e que atualmente ocupam os territórios de Gana e Costa do Marfim. Os símbolos Adinkra representam um conjunto de valores, que vão de provérbios, ideias, conceitos e aforismos.
Sankofa é simbolizado graficamente por um pássaro com a cabeça e o olhar voltado para trás, e que representa o retornar ao passado, aprender com ele para ressignificar o presente e, então, [RE]construir o futuro.
Para o professor Maurício Sankofa “Quer dizer que quando você se esquece de algo é preciso retornar ao lugar onde o acontecimento foi esquecido para recuperá-lo. Cabe como uma luva para os brasileiros em busca de suas raízes ancestrais na África contemporânea.”.
Sankofa é um símbolo, é um ideograma, é uma forma de comunicar significados ancestrais, é um documentário, e é também o nome do nosso espaço quinzenal aqui no Curitibacult, até porque não consegui pensar em um título melhor ao iniciar esse projeto!
Agora, conta aqui: gostou do nosso espaço Sankofa?
No dia 26/04 temos mais um encontro por aqui, com muito mais conteúdo.
Então fica ligado aqui no Curitiba Cult e até lá!
Aqui embaixo vou deixar mais alguns links pra que quem se interessou possa acessar.
Axé =)
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O álbum do Emicida foi uma parceria entre a produtora Laboratório Fantasma e Natura Musical. Tem mais detalhes técnicos sobre o processo de produção e um poema lindíssimo – também sobre o álbum – do Sérgio Vaz que podem ser acessados aqui.
O TED da Chimamanda – que depois acabou se tornando um livro com o mesmo título – pode ser encontrado aqui, com um valor bem acessível!
A rota dos escravos é um projeto da Unesco (1994), te convido a conhecer um pouco mais sobre o projeto através do portal Geledés.
Se você ficou curioso pra saber um pouco mais os símbolos Adinkra, aqui tem algumas informações bem legais.
Meu nome é Kessianne, sou graduada em Letras pela UFPR, e pós-graduanda em História e Cultura Afro-Brasileira. Apaixonada por plantas, música, literatura, gatos e pessoas, não necessariamente nessa ordem. Eterna aprendiz nesse paradoxo que é a “divina comédia humana”, penso que informação é uma das melhores ferramentas para romper estereótipos e mudar a nossa forma de ver o outro, ampliando nosso conhecimento sobre o mundo, ressignificando-o. Neste espaço, falaremos sobre o tráfico transatlântico, história e cultura africana, sua relação e importância na construção e manutenção cultural brasileira.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Em A Última Sessão, acompanhamos o menino Samay em sua descoberta do mundo mágico do cinema. Nessa história sensível, em uma cidade no interior da Índia, o menino de 9 anos assiste um filme no Galaxy Cinema e sua vida muda completamente e uma paixão feroz começa. Samay passa a faltar às aulas do colégio e a roubar um pouco de dinheiro da casa de chá de seu pai para assistir filmes. Com um desejo enorme de se tornar cineasta, Samay conhece Fazal, o projecionista do cinema e os dois fazem um acordo: Samay traz para Fazal as deliciosas comidas preparadas por sua mãe, enquanto Fazal permite que Samay veja infinitos filmes todos os dias na sala de projeção. Uma amizade profunda é forjada pelos dois e, logo, é colocada a teste graças a escolhas difíceis e transformações nacionais importantes. Agora, para perseguir seu sonho, Samay deve deixar tudo o que ama e voar para encontrar o que mais deseja.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Em Marcello Mio, Chiara (Chiara Mastroianni), filha dos icônicos Marcello Mastroianni e Catherine Deneuve (Catherine Deneuve), é uma atriz que vive um verão de intensa crise existencial. Insatisfeita com sua própria vida, ela começa a se questionar sobre sua identidade e, em um momento de desespero, afirma a si mesma que preferiria viver a vida de seu pai, uma lenda do cinema, do que enfrentar a sua realidade. Determinada, Chiara começa a imitar Marcello em tudo: veste-se como ele, adota seu jeito de falar, respira como ele. Sua obsessão é tamanha que, com o tempo, as pessoas ao seu redor começam a entrar nessa sua estranha transformação, passando a chamá-la de Marcello. Em um jogo de espelhos entre passado e presente, Marcello Mio explora a busca por identidade, legado e o impacto da fama na vida pessoal de uma mulher perdida em sua própria sombra.
Data de Lançamento: 11 de dezembro
O grupo de K-pop NCT DREAM apresenta sua terceira turnê mundial nesse concerto-documentário único. Gravada no icônico Gocheok Sky Dome, em Seul, a apresentação reúne um espetáculo vibrante, com coreografias e performances extraordinárias. O filme ainda conta com cenas de bastidores, mostrando o esforço depositado para dar vida a um show dessa magnitude. O concerto se baseia na história do Mystery Lab, um conceito cunhado pelo grupo. NCT DREAM Mystery Lab: DREAM( )SCAPE dá o testemunho de uma grandiosa turnê.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Queer é um filme de drama histórico dirigido por Luca Guadagnino, baseado na obra homônima de William S. Burroughs e inspirado em Adelbert Lewis Marker, um ex-militar da Marinha dos Estados Unidos. A trama segue a vida de Lee (Daniel Craig), um expatriado americano que se encontra na Cidade do México após ser dispensado da Marinha. Lee vive entre estudantes universitários americanos e donos de bares que, como ele, sobrevivem com empregos de meio período e benefícios do GI Bill, uma lei que auxiliou veteranos da Segunda Guerra Mundial. Em meio à vida boêmia da cidade, Lee conhece Allerton (Drew Starkey), um jovem por quem desenvolve uma intensa paixão. O filme explora temas de solidão, desejo e a busca por identidade em um cenário pós-guerra, com uma ambientação que retrata fielmente a atmosfera da Cidade do México nos anos 1950.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
A Different Man, é um thirller psicológico, dirigido e roteirizado por Aaron Schimberg, terá a história focada no aspirante a ator Edward (Sebastian Stan), no qual é submetido a passar por um procedimento médico radical para transformar de forma completa e drástica a sua aparência. No entanto, o seu novo rosto dos sonhos, da mesma forma rápida que veio se foi, uma vez que o mesmo se torna em um grande pesadelo. O que acontece é que, por conta da sua nova aparência, Edward perde o papel que nasceu para interpretar. Desolado e sentindo o desespero tomar conta, Edward fica obcecado em recuperar o que foi perdido.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
As Polacas é um drama nacional dirigido por João Jardim e selecionado para o Festival do Rio de 2023. O filme é inspirado na história real das mulheres que chegaram ao Brasil vindas da Polônia em 1867 com a esperança de uma vida melhor. Fugindo da perseguição aos judeus e da guerra na Europa, o longa acompanha a saga de Rebeca (Valentina Herszage), uma fugitiva polonesa que vem ao Brasil com o filho, Joseph, para reencontrar o esposo e começar a vida do zero. Porém, as promessas caem por terra quando, ao chegar no Rio de Janeiro, a mulher descobre que o marido morreu e, agora, está sozinha em um país desconhecido. Até que seu caminho cruza com o de Tzvi (Caco Ciocler), um dono de bordel envolvido com o tráfico de mulheres que faz de Rebeca seu novo alvo. Refém de uma rede de prostituição, Rebecca se alia às outras mulheres na mesma situação para lutar por liberdade.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Do aclamado diretor Alejandro Monteverde, conhecido por Som da Liberdade, Cabrini, narra a extraordinária jornada de Francesca Cabrini (Cristiana Dell’Anna), uma imigrante italiana que chega a Nova York em 1889. Enfrentando um cenário de doenças, crimes e crianças abandonadas, Cabrini não se deixa abater. Determinada a mudar a realidade dos mais vulneráveis, ela ousa desafiar o prefeito hostil em busca de moradia e assistência médica. Com seu inglês precário e saúde fragilizada, Cabrini utiliza sua mente empreendedora para construir um império de esperança e solidariedade. Acompanhe a ascensão dessa mulher audaciosa, que, enfrentando o sexismo e a aversão anti-italiana da época, se torna uma das grandes empreendedoras do século XIX, transformando vidas e deixando um legado de compaixão em meio à adversidade.
Data de Lançamento: 12 de dezembro
Em Kraven – O Caçador, acompanhamos a história de origem de um dos vilões da franquia Homem-Aranha. De origem russa, Kraven (Aaron Taylor-Johnson) vem de um lar criminoso e de uma família de caçadores. Seus poderes nascem de uma força sobrenatural e super humana que o faz um oponente destemido e habilidoso. A relação complexa com seu pai Nicolai Kravinoff (Russell Crowe) o leva para uma jornada de vingança e caos para se tornar um dos maiores e mais temidos caçadores de sua linhagem. De frente para questões familiares, Kraven mostra sua potência nesse spin-off.