Nessa última semana tivemos o retorno de dois anos represados do Festival de Curitiba. A edição que comemora os 30 anos do maior festival de artes cênicas da América Latina veio depois de dois anos pandêmicos e, como quem trabalha com cultura com certeza já percebeu, veio em um ano em que as pessoas voltaram com tudo para a plateia. Reservas esgotadas, espetáculos lotados e até um pouco de frustração para aqueles que não conseguem garantir um lugar no teatro após a sensação de dois anos de espera na fila.
Escrevi parte deste texto nas escadas das Ruínas de São Francisco enquanto esperava a peça de meio-dia de domingo (3) começar. Comigo estavam vários amigos, todos animados com a perspectiva de passar o dia pelo Centro da cidade procurando peças e atividades do Festival. Ao longo de toda a última semana revi pessoas, encontrei o trabalho de artistas que já conhecia e conheci artistas novos. Fui em espaços culturais pela primeira vez e revisitei com outro olhar espaços nos quais vou todos os dias.
A cidade parece que começa a respirar novamente e o ar está cheio de arte.
Neste ano, o Festival reduziu a quantidade de peças – e mesmo assim há mais peças do que seria possível uma só pessoa ver. O Fringe, que antes recebia artistas locais e de outras cidades, está suspenso e foi substituído pelo Circuito Espaço Aberto. A programação na rua está muito maior do que nos anos anteriores e é composta exclusivamente de artistas locais. Há também mostras independentes ocorrendo paralelamente além, é claro, da Mostra Lúcia Camargo, que traz as apresentações selecionadas pela curadoria do Festival.
O Festival de Curitiba é uma vitrine importante para o teatro local e nacional. Ame ou odeie, é inegável que o Festival traz consigo um pico de interesse por espetáculos e a oportunidade de cultivar esse interesse no público ao longo do ano. Tive a oportunidade de ver um pouco de tudo que anda acontecendo e deixo aqui um relato do front para quem ainda não se mexeu. Temos mais uma semana de Festival pela frente, mas nenhum dos artistas e espaços citados aqui desaparecerão em uma dobra no tempo quando o Festival acabar. Fica a dica para conhecer seus trabalhos também ao longo do ano.
Foto: Maringas Maciel
A programação começou cedo em São Luiz do Purunã, no Campo das Artes. Antes mesmo do Festival de Curitiba iniciar oficialmente, as peças da Mostra do Pôr do Sol já estavam levando o público para conhecer esse lindo espaço. As peças já estão com reservas esgotadas, mas vale ficar de olho na programação no site para oportunidades futuras.
O teatro fica em uma localização privilegiada. Olhando para um lado, você vê a Serra do Mar e as luzes de Curitiba, do outro, o Pôr do Sol. Durante a programação da Mostra do Pôr do Sol há um ônibus gratuito que sai da Praça Santos Andrade às 17h para levar o público até lá. O retorno também pode ser realizado com o mesmo ônibus.
Tive a oportunidade de assistir à peça O Malefício da Mariposa, da trupe Ave Lola, no dia 18 de março. Experiência completa, com direito a ida e volta de ônibus, peça e jantar no Restaurante Girassol, da chef Rosane Radecki, que agora funciona também no Campo das Artes em dias e horários selecionados.
O Campo das Artes é um projeto do ator Luís Melo, que também mora ali por perto. Além das peças de teatro, o espaço também recebe artistas para oficinas, visitação de escolas e está sempre de braços abertos para os moradores da região.
Em 2022, a mostra oficial do Festival de Curitiba presta homenagem à Lúcia Camargo, jornalista, produtora e gestora cultural. Na curadoria estão 26 peças de várias cidades Brasileiras, incluindo algumas estreias e pré-estreias nacionais.
Até agora, pude comparecer a quatro espetáculos da mostra: Conselho de Classe (Rio de Janeiro/Cia. dos Atores), Cura (Rio de Janeiro/Cia. Deborah Colker), Mona Lisa Vs Adolph Hitler (Curitiba/Grupo Delírio Cia. de Teatro) e Sem Palavras (Curitiba/companhia brasileira de teatro).
Espetáculos bem diferentes e, na esmagadora maioria das vezes, trazendo temas tão atuais que é impossível não se envolver com o que está acontecendo no palco.
Em Conselho de Classe, vemos um grupo de professoras interpretadas por atores que, até a primeira meia hora de peça, é possível jurar que são professores. Ter atores homens interpretando personagens mulheres é algo que ressoa historicamente no teatro e não de uma forma positiva. No teatro grego e na era de ouro de Shakespeare, mulheres não eram bem vistas na função de atriz e por vezes nem ao menos autorizadas a estar no palco. O próprio termo, “atriz”, traz uma carga histórica negativa sob a perspectiva de alguns estudiosos da área.
Contudo, os atores em Conselho de Classe não buscaram a sátira do feminino em suas interpretações. Não usaram vozes agudas, linguagens corporais cheias de mãos, dedos e movimentos nas pernas. O elemento cômico estava, sim, presente, mas direcionado para a crítica à maneira como o sistema educacional brasileiro é conduzido, mensagem principal da peça.
Cura/Foto: Lina Sumizono
Em Cura, da Cia. Deborah Colker, dois aspectos me chamaram mais a atenção: o tema do espetáculo e o sincretismo nas coreografias. Resgatando as raízes de contos religiosos de matriz africana, Cura fala sobre Obaluaê, orixá que tem o poder de causar epidemias, mas também de curá-las.
As canções falam sobre doença e sobre cura e assim também são os movimentos dos bailarinos. Pouco após a metade do espetáculo, há a música Ana El Na Refa Na La, canto hebraico de cura. Enquanto os bailarinos montam um muro no palco, uma alegoria ao muro das lamentações, eles também trazem movimentações das danças africanas.
Nas danças das religiões de matriz africanas, cada orixá possui sua própria coreografia. Elas honram a figura e o poder do orixá pelos gestos alegóricos. Mãos que abrem caminhos, que simulam o movimento das águas, que mostram o lado da vida e da morte. Cada gesto é específico ao seu orixá. Em Cura, eles aparecem como referência, misturados aos movimentos da dança contemporânea.
Os espetáculos acima vieram do Rio de Janeiro, mas Curitiba também está muito bem representada na mostra. Mona Lisa Vs Adolph Hitler fala sobre a história do general alemão que não implodiu Paris antes do término da Segunda Guerra Mundial. Sem Palavras fala sobre identidade e vivências.
Sem Palavras/Foto: Humberto Araújo
Quando retirei meus ingressos para Sem Palavras, fui alertada: “é teatro contemporâneo. Nós aqui na bilheteria não sabemos o que esperar”.
É uma peça cheia de alfinetadas, de indiretas e de críticas bem diretas também. É também uma peça em que há nudez, mas não a nudez de qualquer corpo, a nudez de corpos femininos, cis e trans. Dada a amplitude do alcance do Festival e o conservadorismo de parte do público curitibano, é compreensível o alerta. Apesar de que, na humilde opinião desta que vos escreve, tal parcela do público poderia se beneficiar muito se conseguisse, por 120 minutos, embarcar na discussão que Sem Palavras propõe.
O texto brinca com o “você”, utilizado como sujeito indeterminado da frase com o qual todos se identificam, e o “eu” que, quando aparece, causa no mínimo um ruído entre os mais desatentos. Fala-se sobre a necessidade de estímulos externos que possuímos e como essa necessidade encontra espaço nas compras online e nas redes sociais. Fala-se sobre a rotina de trabalho, sobre como é possível se perder nessa rotina, esquecendo completamente que a vida não se resume às contas que temos para pagar. Os risos do público eram risos de identificação: “eu já passei por uma situação como essa”, ou então “eu conheço alguém que é exatamente assim”.
Até agora, as peças que assisti na Mostra Lúcia Camargo mostram uma curadoria acertada. São espetáculos que conversam com a nossa realidade, uma realidade bizarra que às vezes parece saída de um livro de distopia, mas uma na qual seguimos sobrevivendo.
A programação de teatro na rua já é tradição do Festival. Em 2022, porém, a mostra ocorre com os artistas locais que iriam participar da edição 2020. No último domingo, passei o dia na rua com onze amigos. Gosto muito de acompanhar a programação do Festival, mas desde 2013 não me propunha a ir atrás da programação de rua. Pensava: ano que vem eu faço, ano que vem eu vou. Depois do trauma de 2020, agora a gente vai e faz na hora.
Nosso ponto de escolha foram as Ruínas de São Francisco. No entanto, quando chegamos lá descobrimos, pelas redes sociais do Festival, que a programação havia sido alterada. A primeira peça que vimos foi o monólogo Eu Não Sou Cachorro, do Grupo Cambutadefedapada. Esta peça deveria ser à noite, porém foi transferida para as 11h da manhã.
Se fosse em um teatro, a peça consta no guia do Festival com a classificação indicativa 14 anos, mas é muito difícil, para não dizer impossível, controlar a classificação indicativa em um espaço aberto em meio a feirinha de domingo do Largo da Ordem. Vimos algumas pessoas com crianças irem embora no meio da apresentação, ao descobrirem a classificação da peça.
Em compensação, vimos também outras crianças brincarem de pega-pega atrás do palco e, inclusive, uma criança que decidiu se posicionar bem em frente ao palco e comentar a peça. “Eu não sou cachorro”, dizia o ator. “Não mesmo. Só ele que é”, respondia a criança, apontando para os cachorros que estavam na plateia.
Esses são os desafios do palco aberto. Quando apresentamos uma peça ao ar livre em espaço público, a obra de arte é ressignificada. Seja pela criança, pelo cachorro ou pela movimentação espontânea do público, que já está acostumado a ocupar aquele espaço. É preciso criar uma relação mútua de compreensão entre artista e plateia para que todo mundo possa viver a experiência sem dor de cabeça. O palco aberto não tem muito espaço para quem se ofende facilmente (de novo, artista e plateia).
A peça das 16h (que deveria ter sido às 11h), em compensação, acabou reunindo mais pessoas, creio que justamente pela proposta. Era Jam – Cenas Improvisadas, da Cia. do Arvoredo. O público que chegou cedo tomou chuva, mas a cooperação foi linda de ver. Eram panos, rodos e até casacos distribuídos para ajudar a secar as escadarias e as cadeiras. Meu guarda-chuva te incomoda? Sem problemas! Troque de lugar comigo. Inclusive, pegue o meu guarda-chuva, por favor, tenho uma sombrinha na bolsa.
Os atores começaram o improviso antes mesmo do show, conversando com o público que chegou cedo e pedindo para não irem embora, apesar da chuva, durante a passagem de som.
As risadas do improviso atraíram mais e mais pessoas. Quando olhei para trás na metade do espetáculo, as escadarias estavam cheias até o alto. No final, abriu sol e até São Pedro ganhou agradecimento.
Espetáculo Gran Circo Stopim/Foto: Nilton Russo
Ainda sobre as manifestações artísticas da última semana, temos também as programação ocorrendo no Circuito Espaço Aberto e as que correm independentes do Festival.
No Circuito Espaço Aberto, as companhias locais se apresentam em seus próprios espaços. Dentro desse circuito está a Mostra Seu Nariz, da Cia. dos Palhaços. As 13 apresentações ocorrem no Espaço Fantástico das Artes e na Praça João Cândido. As reservas para as apresentações no teatro podem ser feitas pelo Sympla.
Ainda não consegui ir a uma das apresentações da Mostra, mas já tive a oportunidade de comparecer ao Concerto em Ri Maior da companhia neste ano. Sou suspeita para falar, pois amo o circo desde criança, mas acredito que às vezes não há nada melhor do que poder rir da realidade. As apresentações da Mostra Seu Nariz são uma boa programação para adultos e crianças.
Lados Lados/Foto: Luiza Guimarães
O Museu Oscar Niemeyer também está com programação nova! O artista plástico curitibano André Mendes abriu, na última quinta-feira (31), a exposição Lados Lados. São obras que brincam com texturas, com a luz e até com realidade virtual.
Cada um dos espetáculos e eventos que mencionei aqui renderia seus próprios textos, suas próprias análises. No entanto, este texto tem um objetivo maior do que falar sobre uma ou outra obra. Se você chegou até aqui, vá ao teatro. Aproveite o Festival. Em matéria de acesso à arte, acredito que estamos vivendo as duas semanas mais ricas do ano. Não perca esta oportunidade de ir conhecer o trabalho de artistas que você ainda não conhece e descobrir novas realidades, novas histórias e novas vivências. O Festival dura apenas duas semanas, mas o trabalho desses artistas é contínuo e está presente durante todo o ano. Seja público, utilize a vitrine que o Festival oferece porque, depois, você poderá ir direto à fonte.
Data de Lançamento: 27 de junho
Divertidamente 2 marca a sequência da famosa história de Riley (Kaitlyn Dias). Com um salto temporal, a garota agora se encontra mais velha, com 13 anos de idade, passando pela tão temida pré-adolescência. Junto com o amadurecimento, a sala de controle mental da jovem também está passando por uma demolição para dar lugar a algo totalmente inesperado: novas emoções. As já conhecidas, Alegria (Amy Poehler), Tristeza (Phyllis Smith), Raiva (Lewis Black), Medo (Tony Hale) e Nojinho (Liza Lapira), que desde quando Riley é bebê, eles predominam a central de controle da garota em uma operação bem-sucedida, tendo algumas falhas no percurso como foi apresentado no primeiro filme. As antigas emoções não têm certeza de como se sentir e com agir quando novos inquilinos chegam ao local, sendo um deles a tão temida Ansiedade (Maya Hawke). Inveja (Ayo Edebiri), Tédio (Adèle Exarchopoulos) e Vergonha (Paul Walter Hauser) integrarão juntos com a Ansiedade na mente de Riley, assim como a Nostalgia (June Squibb) que aparecerá também.
Data de Lançamento: 04 de julho
Ainda Temos o Amanhã situa-se na Itália, em uma Roma do pós-guerra dos anos 1940. Dividida entre o otimismo da libertação e as misérias, está Delia (Paola Cortellesi), uma mulher dedicada, esposa de Ivano (Valério Mastandrea) e mãe de três filhos. Esses são os papéis que a definem e ela está satisfeita com isso. Enquanto seu marido Ivano age como o chefe autoritário da família, Delia encontra consolo em sua amiga Marisa (Emanuela Fanelli). A família se prepara para o noivado da filha mais velha, Marcella (Romana Maggiora Vergano), que vê no casamento uma saída para uma vida melhor. Delia recebe uma dose de coragem extra para quebrar os padrões familiares tradicionais e aspira a um futuro diferente, talvez até encontrar a sua própria liberdade. Tudo isso após a mesma receber uma carta misteriosa. Entre segredos e reviravoltas, este drama emocionante explora o poder do amor e da escolha em tempos difíceis.
Data de Lançamento: 04 de julho
Entrevista com o Demônio é um longa-metragem de terror que conta sobre o apresentador de um programa de televisão dos anos 70, Jack Delroy (David Dastmalchian), que está tentando recuperar a audiência do seu programa, resultado da sua desmotivação com o trabalho após a trágica morte de sua esposa. Desesperado por recuperar o seu sucesso de volta, Jack planeja um especial de Halloween de 1977 prometendo e com esperanças de ser inesquecível. Mas, o que era para ser uma noite de diversão, transformou-se em um pesadelo ao vivo. O que ele não imaginava é que está prestes a desencadear forças malignas que ameaçam a sua vida e a de todos os envolvidos no programa, quando ele recebe em seu programa uma parapsicóloga (Laura Gordon) para mostrar o seu mais recente livro que mostra a única jovem sobrevivente de um suicídio em massa dentro de uma igreja satã, Lilly D’Abo (Ingrid Torelli). A partir desse fato, o terror na vida de Jack Delroy foi instaurado. Entrevista com o Demônio entra em temas complexos como a fama, culto à personalidade e o impacto que a tecnologia pode causar, tudo isso em um ambiente sobrenatural.
https://www.youtube.com/watch?v=JITy3yQ0erg&ab_channel=SpaceTrailers
Data de Lançamento: 04 de julho
Nesta sequência, o vilão mais amado do planeta, que virou agente da Liga Antivilões, retorna para mais uma aventura em Meu Malvado Favorito 4. Agora, Gru (Leandro Hassum), Lucy (Maria Clara Gueiros), Margo (Bruna Laynes), Edith (Ana Elena Bittencourt) e Agnes (Pamella Rodrigues) dão as boas-vindas a um novo membro da família: Gru Jr., que pretende atormentar seu pai. Enquanto se adapta com o pequeno, Gru enfrenta um novo inimigo, Maxime Le Mal (Jorge Lucas) que acaba de fugir da prisão e agora ameaça a segurança de todos, forçando sua namorada mulher-fatal Valentina (Angélica Borges) e a família a fugir do perigo. Em outra cidade, as meninas tentam se adaptar ao novo colégio e Valentina incentiva Gru a tentar viver uma vida mais simples, longe das aventuras perigosas que fez durante quase toda a vida. Neste meio tempo, eles também conhecem Poppy (Lorena Queiroz), uma surpreendente aspirante à vilã e os minions dão o toque que faltava para essa nova fase.