O Nosso norte é o Sul: cinco documentários latino-americanos

É com pesar que a partir de agora invertemos a nossa posição geográfica: invertemos a nossa América. Por infortúnios políticos inúmeros, agora voltamos a falar grosso com a Bolívia e a Argentina e fino, bem fino com os Estados Unidos da América. Infeliz América Latina, tão rica culturalmente, tão potente no que diz respeito à sua integração regional, agora entregue uma vez mais às garras da rapina estadunidense.

Insatisfeitos com os destinos do Brasil e imersos no calabouço mais profundo, numa miríade ampla de desígnios perversos, à beira da barbárie a cada dia que passa, trago para vocês, caros leitores do Curitiba Cult, uma breve linha condutora de documentários para ocuparmos as nossas cabeças atormentadas pela política nacional e latino-americana.

Aqui, a cultura hermana será um de nossos principais assuntos, por isso agrupamos cinco diferentes documentários capazes de invertermos novamente a nossa posição geográfica e ideológica, pontuando os que são, em minha opinião, os melhores até o momento.

O primeiro deles é o argentino Mercedes Sosa: A Voz da América Latina (Rodrigo H. Vila, 2013), onde a vida e obra de uma das maiores interpretes latino-americanas são narradas pelo seu filho em um belíssimo documentário com a presença de grandes personalidades da música Sul-Americana de protesto.

Depois, o Massacre no Estádio (Bent-Jorgen Perlmutt, 2019), contando a história do assassinato do cantor chileno Victor Jara pelos oficiais da ditadura de Augusto Pinochet e a luta de sua esposa por justiça e indenização. Jara, um dos maiores cantores populares de sua época, morreu após ser preso e torturado pela canalha ditatorial;

Já o longa-metragem Chico: Artista Brasileiro (Miguel Faria Jr, 2015) conta sobre a trajetória e canções – com muitas risadas e anedotas – de um dos maiores compositores e cantores nacionais, Chico Buarque de Hollanda, narradas pelo próprio Chico de forma, simplesmente, inesquecível;

E da música para a literatura, Gabo: a Criação de Gabriel García Márquez (Justin Webster, 2015), contando a história prodigiosa de um dos maiores escritores de nosso continente, o colombiano aguerrido, politicamente combativo e ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1982;

Por último e não menos importante, Uma Noite em 67 (Renato Terra e Ricardo Calil, 2010) relembrando através de uma série de depoimentos – Gil, Caetano, Chico, Gal, Milton, etc. – a saudosa era dos festivais da TV Record, precisamente o 3º Festival de Musica Popular Brasileira.

Exilados, perseguidos, presos e/ou torturados pelas ditaduras que grassaram o Cone Sul durante as décadas de 1960 a 1980, o comum entre todas as figuras citadas são a luta constante pela democracia inclusiva, uma verdadeira justiça social, amplos direitos humanos e a integração e solidariedade entre os povos latino-americanos. Por isso, novamente, propomos inverter a nossa posição geográfica do Norte para o Sul.

A partir de alguns poucos documentários premiados mundialmente – e de muitos livros e canções que veremos neste espaço – conhecemos um pouco mais sobre a nossa rica história cultural, história essa que vem nos mostrar que o nosso norte é, de fato, o Sul. E é por Nuestra América que devemos lutar e defender unidos até a vitória final.

Hasta la victoria, siempre.

Poder & Entretenimento

A coluna de um historiador insatisfeito com os rumos de seu continente, que preza pela solidariedade entre os povos e compreende a importância da luta política e ideológica contra as classes dominantes de um mundo injusto e desigual. Um professor de História que encontrou entre os caminhos e descaminhos da América Latina, uma das mais extraordinárias culturas da Terra.

Por Luis Felipe Genaro
26/04/2021 16h15