O Menino, a garça e a possível despedida de Hayao Miyazaki

Foto: Reprodução/Studio Ghibli

Hayao Miyazaki treinou de fato a sua audiência. É impossível entrar numa sala de cinema para assistir um de seus filmes sem esperar algo grandioso e ainda assim sensível. Com O Menino e A Garça não seria diferente.

Para mim, todo o ritual de ir ao cinema faz parte da jornada que o diretor quer nos levar. Algo estrondoso como Duna pede uma sala tecnológica como o IMAX, mas os filmes do Studio Ghibli são íntimos e delicados. Desta vez o Cineplex Novo Batel, com suas cortinas vermelhas e corredores com cheiro de pipoca de rua, ambientaram o que talvez possa ser a última vez que assisto um filme do Miyazaki pela primeira vez nas telonas.

E essa sensação de adeus acompanha o espectador a cada cena. Mahito, o nosso protagonista, dá adeus a sua mãe durante a guerra, a sua cidade ao se mudar para o interior e a normalidade ao descobrir o mundo entre os mortos e os vivos.

Diferente de muitos que possam estar lendo, minha história com os trabalhos do diretor ou do estúdio não começou até poucos anos atrás. Acredito que poucos dos filmes do diretor são de fato infantis e me espanto quando me dizem que assistiram A Viagem de Chihiro sem parar quando crianças.

De onde vejo, Hayao entende a infinidade de possibilidades da animação e a sua capacidade poética singular que excede a ideia de “filme de criança” quando se fala de animação. Em O Menino e A Garça sinto que visualmente o criador traduz todos os seus pensamentos mais mirabolantes, como se seus maiores medos, ansiedades e aspirações fossem colocados em tela.

No enredo, Mahito ao também dar adeus a sua infância e encontra um vida pautada no dever e honra, espelha a história do próprio diretor. E apesar de encontrar um mundo onde tudo é de certa forma perfeito para ele, o menino prefere deixar tudo de lado, e abrir espaço para novas coisas. Talvez – e espero que não – essa seja sua carta de despedida e um convite aos novos criadores.

O Menino e A Garça é o que a animação deve ser. Apesar de experimental e instigante, o filme consegue, com um roteiro intencionalmente convoluto à primeira vista, se agarrar ao tradicional onde importa e tecer uma história que será lembrada por gerações. Depois de ver a Disney definhando ao relançar as mesmas histórias e sugar franquias ao ponto de exaustão é comovente ver os caminhos que ainda podem ser trilhados com o gênero.

E se você não entendeu muito sobre o filme com o que falei por aqui, ótimo! É mais importante que você o sinta e tire suas próprias conclusões. Minha única recomendação é que você o assista.

Por Deyse Carvalho
21/02/2024 12h37

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