Moonfall – Ameaça Lunar é uma perigosa “jornada do herói” de um pseudocientista

Foto: Reiner Bajo

Em tempos de terraplanistas e antivacinas, Moonfall – Ameaça Lunar é quase uma piada de mau gosto à comunidade científica. O novo-com-cara-de-velho longa de Roland Emmerich, estrelado por Halle Berry e Patrick Wilson, tenta usar todos os artifícios a seu favor, desde drama barato aos clichês de ficção científica, mas falha e entrega um roteiro desinteressante embrulhado de efeitos especiais mal acabados.

No filme, a Nasa recebeu a assustadora notícia de que a Lua saiu de órbita. As catástrofes relacionadas ao acontecimento preocupa as autoridades americanas e cabe à diretora da agência espacial, Jo Fowler, personagem de Halle Berry, encontrar uma solução. Ela se reúne com o “Dr.” KC Houseman (John Bradley) e o astronauta renegado Brian Harper (Patrick Wilson) em uma jornada para salvar a Terra.

Apesar das promessas, o filme não consegue entreter o suficiente. Com um roteiro simplório e um elenco desperdiçado, o longa constantemente subestima o espectador ao forçar relacionamentos rasos e ao explicar o óbvio. Todos os relacionamentos dos coadjuvantes ─ exceto a família de Fowler ─ tem o único objetivo de gerar empatia no público com os protagonistas, mas falham miseravelmente por serem basicamente centralizados em daddy issues.

Já o núcleo central é uma decepção à parte. A personagem de Halle Berry ocupa a mais prestigiada posição na Nasa, e mesmo assim a sensação que fica é a de que ela está sempre seguindo ordens, seja do seu marido, seus colegas e até mesmo do pseudocientista. Neste papel de mulher indefesa Berry excedeu as expectativas, infelizmente isto não era preciso na produção.

Foto: Reiner Bajo

Falando em pseudociência, o personagem de John Bradley irá se tornar o herói dos fanáticos avessos a fatos que estão surgindo por aí. Diferente de Não Olhe Para Cima, onde o filme escancara os problemas causados pela dúvida à ciência, Moonfall parece abraçar a comunidade dos terraplanistas e derivados ao dar um arco de triunfo a um “megaestruturista”. 

Inclusive, o desfecho criado pelos roteiristas com o objetivo de elevar a narrativa foi um show de horror por si só. O enredo cansado da rivalidade entre o homem e a máquina só se torna extraordinário em raras ocasiões, e não foi o caso do filme de Emmerich. Pelo contrário, a tentativa do diretor de criar um novo apocalipse depois de anos destruindo a Terra é medíocre. 

Patrick Wilson infelizmente é o elo mais fraco do trio de protagonistas. Além do fato de ter sido traído pelos seus empregadores (choque) e ter decepcionado seu filho, nada mais agrega na construção do personagem. Em nenhum dos intermináveis 124 minutos de filme sabemos algo da vida pessoal do personagem. Além disso, a atuação do ator piorou consideravelmente no terceiro ato. 

Com isso, o filme falha na sua única tarefa de entreter. Ao invés disso, o longa é apenas uma desculpa para ficar 2h numa poltrona de cinema. 

Por Deyse Carvalho
03/02/2022 20h30

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