O Curitiba Cult está sempre atrás de novidades para trazer para vocês. A Bienal Internacional de Curitiba, por exemplo, proporciona a possibilidade de conferir diversas atrações em vários pontos da cidade, e você já pode ler uma matéria superdivertida aqui. O titulo da edição de 2015, “Luz do Mundo”, foi extraído do romance do autor islandês Halldór Laxness, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1955.
Na matéria de hoje, revisitamos algumas exposições que estão no Museu Oscar Niemeyer e conferimos outras, trazendo material fotográfico e vídeos inéditos, apresentação da obra, impressão e comentário do estudante de Artes Visuais Renan Archer. Quer saber o que esperar de sua visita? Continue a leitura e boa informação!
Não é à toa que o artista Julio Le Parc foi o homenageado da vez. Sua arte cinético-luminosa converge para um mesmo ponto diversas conquistas tecnológicas e novas configurações teórico-conceituais sobre a ideia da arte. Não é difícil se sentir hipnotizado enquanto caminhamos pelos espaços escuros com pontos iluminados que trazem efeitos de distorção e novas projeções. A grandiosidade de algumas peças, inclusive, causa o efeito awe no espectador, que se sente maravilhado e intrigado com a composição.
Renan Archer: Pode ser complicado encontrar o que falar do homenageado num evento desse porte. O próprio diretor desse evento chegou a dizer que, essa pessoa em questão é um dos poucos grandes mestres que ainda vivem.
Quando se iniciou a Bienal, no início de outubro, confesso que duvidei sobre a capacidade, do evento e sua proposta, de poder cativar e satisfazer público de todos os gostos e classes. Não que a necessidade disso estivesse clara, mas, afinal, trata-se de um evento que é realizado em locais públicos. Não apenas a luz norteia a Bienal de Curitiba esse ano, mas o que a luz pode causar. Ouvi que um dos objetivos de mostrar esses trabalhos para o público era fasciná-lo, deixá-lo relacionar-se através de seus sentidos com o que estivesse à sua frente, fazendo do resultado algo prazeroso.
Duvidei porque, bem, não é tão comum para muitos que arte pode ser algo que ultrapasse uma ideia pré-concebida de beleza visual; também pode ser que determinados trabalhos só possam ser conhecidos em sua relevância e criar aquela tal fascinação caso o espectador tenha uma bagagem no assunto. Pensei ainda que as palavras de um mediador do museu, respondendo à típica pergunta “ok, mas o que isso quer dizer?”, vinda de um espectador, pudessem ser interpretadas sempre como uma “viagem”. Talvez eu já tenha ido com minhas pré-concepções. Mas, de fato, quando fui à prévia da Bienal, no dia 3 do Outubro, e subi até o museu do olho, toda e qualquer concepção, ideia, conhecimento, julgamento sobre o que viria ficaram mudos. O sentir fez-se ali, e a beleza se mostrou. Olhos eram as pontes entre o que se via e o interior do ser, que dançou entre várias sensações, deliciosas e perturbadoras, mas sempre inspiradas em algo poderoso que estava à frente. O trabalho de Le Parc, então, para mim, desfez dúvidas que pareciam até preconceituosas. Para todos, com certeza, ele consegue ser fascinante.
A artista curitibana Eliane Prolik traz “uma instalação onde a presença insistente da dimensão pública da luz, e de uma luz em particular, a vermelha, é personagem central e tão intensa que toda individualidade é anulada em favor do comando social por ela representado e que não pode ser contestado”. Com seus jogos de luzes e efeitos, a obra questiona a matéria e a confunde com um cenário curioso de imagens.
Trazendo uma combinação de tecelagem tradicional e tecnologia contemporânea, Jeongmoon Choi apresenta um dos espaços mais impressionantes da mostra. Os corredores iluminados por luz ultravioleta criam um ambiente em que teias ilustram a beleza escondida pela iluminação natural, proporcionando, inclusive, perspectivas geométricas.
Foto: Alex Franco/Curitiba Cult
Renan Archer: Jeongmoon Choi disse, enquanto falava de seu trabalho para uma pequena plateia, um dia antes da pré-abertura dessa bienal, que o que a fez trabalhar da maneira que se vê hoje foi o desejo de poder entrar em suas obras, percorrê-las fisicamente. Ela iniciou seus trabalhos como pintora de telas e hoje pinta o espaço escurecido com suas hipnotizantes estruturas. Do que se vê no seu espaço, a arquitetura é sua. Na sala em questão, em meio ao breu, é a intenção de Choi que introduz o que será visto, e o que ela materializa é sua espécie de arquitetura, que torce e contorce as possibilidades, meios e fins. A fragilidade dos fios de algodão que usa na elaboração parece ser uma espécie de contraponto para o forte poder de atração de seu trabalho.
Criando um corredor espiralado em uma sala com espelhos, a artista Helga Griffiths, com seu conteúdo genético, presente em potinhos pendurados e fosforescentes, brinca com sua própria cadeia de DNA, causando encantamento. Trata-se de outra obra extremamente delicada e de muito bom gosto.
Foto: Alex Franco/Curitiba Cult
Renan Archer: Poucos dias antes da abertura do evento, Helga recebeu, na sala onde hoje está seu trabalho, um grupo de pessoas constituído por futuros mediadores e possíveis futuros mediadores do projeto educativo da Bienal de Curitiba 2015. Ali estava ocorrendo a pré-montagem de seu trabalho, onde ela e uma assistente, pouco a pouco, enchiam e posicionavam dezenas e mais dezenas de tubos de ensaio preenchidos com um material-chave de seu trabalho. Ela estava recriando ali, sob outra linguagem, parte de seu código genético. Depois de perceber a intenção do seu trabalho, confesso que me senti um pouco invasivo. Uma coisa boba. O que Helga faz, de certa forma, é expor-se ao público. Ela usa sua linguagem biológica como fio condutor na criação de uma estrutura que é capaz de fornecer uma viagem incrível aos nossos olhos. Não só aos nossos olhos, mas uma viagem através de nós mesmos. Helga lembrou que a maior parte do código genético humano é compartilhada entre todos os seres, e uma pequena porcentagem é diferenciada entre cada um de nós. Ela tenta tornar visível, através de sua linguagem, algo invisível que norteia a nossa existência. Algo que, inclusive, compartilhamos em grande quantidade. Centenas de tubos de ensaio com sua substância fluorescente, formando uma estrutura em espiral. Parece um passeio por dentro de um capítulo que fala sobre genética, extraído um livro de ciências. É algo deslumbrante o que Helga oferece, nos permitindo transitar por algo que representa grande parte de nós mesmos. E, aqui, o “nós” é um.
Nascido em Estocolmo, Lars Nilsson, em espaços completamente brancos, propõe a retirada da luz de suas esculturas, sendo que as figuras humanas demonstram angústia, talvez pelo espaço negro que representam. Não é difícil de pensar em enredos ou simbologias para cada uma delas.
Foto: Alex Franco/Curitiba Cult
Renan Archer: Teixeira Coelho (o curador geral do evento) comenta que as esculturas de Lars pareceriam figuras humanas se delas fosse retirada toda a luz. São figuras ausentes de luz, antiluz. Eu diria que são seres que parecem protagonizar um pesadelo. Não apenas, talvez, por suas formas, mas pela inquietação que causam. É curioso entrar na imensa sala 2 do MON, tão branca que faz cerrar os olhos, e encontrar, em meio a tanta claridade, formas que parecem ter saído das sombras, ou até do próprio chão. São espectros, ameaçando cair, divididos pelo chão, mas nunca enfraquecidos pela claridade que paira sobre toda motivação que os trouxe até ali. Na verdade, suas formas escuras parecem enfatizar ainda mais a luz que os rodeia, não de modo a criar um confronto, mas a pensar na interdependência desses fatores para que sejam relevantes. A sombra que só o é pela luz que a circunda; a luz que só carrega seu sentido pela escuridão que expulsa. No espaço expositivo, as esculturas de Lars desafiam e convivem com a luz, imóveis, trazendo à rotina dos passantes uma escuridão que se mostra.
Quer saber o que mais tem? Consulte a programação oficial e continue acompanhando nosso site. Esperamos que tenha gostado da matéria!
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