Glúten Fake News: a experiência de viver 7 dias na dieta sem glúten

Operação Linda no Verão: Perca 7 Kg já cortando o glúten!

Barriga Chapada: como conquistar o corpo perfeito com alimentos sem glúten.

Sem Glúten e Sem Lactose: Acabe com o inchaço! Tirar as substâncias do cardápio ajuda a emagrecer e favorece a digestão.

Essas são três manchetes reais de revistas de dieta sobre a eliminação ou redução de alimentos que contém glúten no dia a dia. Encantadoras, a princípio. Afinal, todo mundo quer favorecer a própria digestão, ter a barriga chapada e ser linda no verão com 7 Kg a menos.

E as afirmações não chegam a ser mentirosas. Mas o problema está no modo como é vendida essa ideia. E aí começam as fake news da dieta gluten-free.

Perca 30 Kg em 30 dias sem comer nada” também é uma manchete que condiz com a verdade. Você realmente vai emagrecer se fizer uma dieta que não envolva nenhum alimento. Mas a parte de ficar doente, ir parar no pronto socorro e possivelmente morrer fica implícita de uma maneira, no mínimo, irresponsável.

O glúten se tornou o vilão atual na alimentação e um dos principais vendedores de revistas. Mas é preciso entender exatamente o que ele é e porque essa onda #semglúten começou.

Glúten é uma proteína formada por outras duas proteínas, a gliadina e glutenina, e é encontrado no trigo, no centeio e na cevada. Como o trigo é o alimento mais produzido no mundo, a maior parte da nossa dieta diária é composta por seus derivados e, consequentemente, por glúten. Pão contém glúten. Bolo, massa e cerveja também. Biscoito e bolacha, que são duas coisas totalmente diferentes, também estão na lista.

Como a etimologia da palavra sugere, o glúten cola os alimentos e dá elasticidade a eles. Por isso, também é utilizado pela indústria alimentícia em certos produtos processados, como batata congelada, sorvete e ketchup. Ou seja, a gente come mais trigo do que imagina. E como uma parte das pessoas (numa estimativa de cerca de até 2% da população mundial) são vítimas de doença celíaca, uma condição genética de hipersensibilidade ao glúten que causa irritação no intestino, todas as embalagens de alimentos processados vêm com um aviso na parte de trás sobre a presença ou não da proteína.

Então, se você é celíaco, o glúten realmente vai te fazer mal. Mas e para o restante das pessoas?

Numa enquete acirrada feita em meus stories do Instagram sobre qual dieta as pessoas tinham mais curiosidade, a sem glúten foi a mais votada. As pessoas ouvem e leem sobre isso o tempo todo e as perguntas ficam. Então resolvi passar por uma dieta totalmente sem glúten durante 7 dias para entender quais as consequência e benefícios que essa mudança alimentar traria. Antes de começar, eu pouco sabia acerca do tema e não tinha opinião sobre. Assim seria uma descoberta a cada dia, sem preconceitos prévios.

É preciso alertar que não se deve fazer nenhuma dieta sem o devido acompanhamento médico. Eu fiz sem porque sou irresponsável. Cada organismo responde diferente aos efeitos de uma dieta, por isso a dieta da revista que promete emagrecimento a curto prazo não deve ser repetida. O correto é antes de tudo entender como funciona seu corpo e quais resposta ele dá a certos alimentos e à retirada de alguns deles.

Semana Sem Glúten

No início da semana eu pesava 79 Kg de pura beleza. Segundo alguns sites e revistas, em 7 dias eu deveria perder até 3 Kg. Uma promessa que conquista muitos seguidores.

A dúvida inicial é: o que comer e o que não comer? Diferente da dieta vegana que eu fiz (aqui), eliminar o glúten da alimentação é consideravelmente simples. É só cortar derivados de trigos, cevada e centeio e ler as embalagens dos produtos. O difícil é saber o que colocar no lugar.

No primeiro café da manhã, fui a uma panificadora próxima de casa descobrir se lá havia alguma opção. O estabelecimento de fato tinha uma seção de produtos sem glúten, na qual se encontra solitário apenas uma caixa de chá de hibisco. Cozinha que prepara alimento com glúten não prepara alimento sem. Assim como no universo vegano, existe algo chamado contaminação cruzada. Os equipamentos utilizados na feição dos produtos podem conter traços de glúten, o que invalida a produção de produtos sem a proteína para celíacos. Os estabelecimentos que oferecem opção sem glúten geralmente são focados apenas nesse seguimento.

Para solucionar o problema, uma ida ao mercado. Uma pessoa me falou pelo Instagram que o supermercado Festval teria uma seção sem glúten com uma grande variedade de produtos. E realmente tem. São pães, bolos, bolachas, farinhas e outros substitutos para celíacos. Nos Estados Unidos o mercado sem glúten já fatura US$ 10 bilhões por ano. No Brasil ainda é um mercado emergente. Comprei pão e torrada para experimentar.

O pão convencional alto, crocante e macio só tem essas características por conta da presença do glúten no processo de fermentação. O pão sem glúten é denso e pequeno. Não é ruim. Mas não é bom. Funciona para matar as saudades de quem realmente não pode ingerir o convencional. Para quem só está pensando na dieta, substitutos desses são uma grande incoerência. O glúten não engorda. Pão engorda. Substituir pão por pão sem glúten, não faz o pão não engordar. A proposta vendida por revista de eliminar o glúten está dizendo na verdade para eliminar massas no geral, que é uma das principais fontes de carboidrato no dia a dia do brasileiro.

Tapioca ou trigo sarraceno são duas ótimas escolhas para incluir em toda dieta. A goma de mandioca, comumente chamada de tapioca, em duas colheres de sopa misturada com um ovo resultam numa massa gostosa chamada de crepioca. Já o trigo sarraceno, apenas misturado com um pouco de água forma uma panqueca nutritiva e vegana. O recheio pode ser o clássico manteiga, queijo e presunto ou algo fit, como queijo branco, folhas ou até mesmo frutas. Iogurte grego é uma fonte rica em proteína e sem glúten que deve entrar no cardápio de café da manhã. Oleaginosas, tipo nozes, castanhas e avelã, também são bons aliados, servindo também como pequenos lanches durante o dia.

O almoço ideal é aquele que você está com vontade de comer. No entanto, é interessante seguir alguns fundamentos: legumes e saladas, cruas preferencialmente, leguminosas, como feijão, lentilha e grão-de-bico, carboidrato, que pode ser arroz ou batata, e uma fonte de proteína, carne vermelha, frango, peixe, tofu ou cogumelos.

O interessante de fazer uma dieta restritiva é que você começa a prestar mais atenção a todo o restante. Ninguém precisa e nem deve comer lasanha, pizza e macarronada todos os dias. E uma visita ao sacolão te mostra uma infinidade de sabores incríveis e texturas lindas a serem desbravados. Apenas 30 minutos são necessários para preparar um peixe grelhado acompanhado de batata doce, cozida por 15 minutos e finalizada na frigideira com azeite, e uma salada de grão-de-bico cozido, tomate, ervilha, cenoura, couve-flor e limão. Ou apostar num prato de frango grelhado, temperado com sal, pimenta, páprica defumada e alho, com batata rústica e tomate à provençal (cortado ao meio, temperado com azeite, sal, pimenta e alho e assado no forno por 25 minutos). O custo direto desse último, inclusive, foi de pouco mais de R$ 06,00.

Formar combinações assim realmente não é algo complexo. Há sites e mais sites com ideias de cardápios. Contudo, se acostumar à ausência do glúten não é tarefa fácil. Ou melhor, das massas.

O Terrível Glúten Implica com o Cérebro

O trigo que consumimos hoje não é o mesmo que nossos antepassados consumiam. Por conta das modificações transgênicas e cruzamentos de espécies diferentes, a quantidade de glúten presente no trigo pode ter aumentado em até 400% desde os anos de 1960. E essa quantidade é um dos motivos do glúten ser nocivo a nossa saúde, indo desde casos de obesidade até problemas neurológicos. Isso é o que afirmam alguns pesquisadores, como o americano William Davis, autor do livro Barriga de Trigo, que já vendeu mais de 2 milhões de cópias.

 

Mas não há pesquisa que comprovem essas afirmações. São teorias apenas.

Entretanto, algumas coisas são certas e comprovadas. O açúcar causa dependência similar à da cocaína. Cientistas da Universidade de Queensland, na Austrália, revelaram que os efeitos do consumo de açúcar no cérebro são parecidos com o mecanismo responsável pelo vício em drogas pesadas. O corpo libera dopamina no processo de digestão de açucares, proporcionando uma sensação de prazer no organismo. Consumindo produtos desse tipo a longo prazo diminui a liberação de dopamina, o que faz a pessoa querer ingerir mais alimentos ricos em açúcar para voltar a ter a sensação de prazer. E o trigo serve para produzir massas, que são carboidratos, que vira açúcar dentro do organismo. Então tirar massas do menu é algo que exige esforço parecido com um processo de reabilitação. Por essa razão é fácil encontrar a afirmação de que alimentos com glúten viciam. E isso é verdade? De certa forma, sim. Mas é preciso entender o quadro geral. Dizer que o brócolis mata também é uma afirmação verdadeira, porque 100% das pessoas que ingerem brócolis acabam morrendo. O problema está em como essa verdade é exposta e utilizada.

E como a vida é irônica, reduzir o consumo de glúten pode causar uma maior intolerância ao glúten, especialmente em crianças. É tipo aquela frase que a avó fala sobre crianças ter que se sujar. Em contato a sujeira, ela cria os anticorpos necessários para combater bactérias e vírus. Higiene demais pode ser nociva à saúde, é o que diz a Hipótese da Higiene, formulada pela primeira vez pelo epidemiologista David Strachan, em 1989. Nos anos 80, na Suécia, o glúten virou o vilão da vez e os médicos indicaram que a proteína fosse retirada da dieta de crianças. O resultado foi um aumento de 300% da doença celíaca no país. Hoje a indicação lá é diferente.

Coma Tudo Que Tem Vontade

Desde que você mesmo prepare.

Se você não é celíaco e está realmente preocupado em ter uma alimentação saudável e equilibrada, o glúten é o menor de seus problemas. Comece diminuindo gradativamente o consumo de refrigerante, comida congelada, fast-food, temperos prontos e tudo o que for industrializado. Esses alimentos têm quantidades absurdas de sal, açúcar e gordura e são produzidos para gerar compulsão, além de estarem comprovadamente ligados ao aumento de obesidade e doenças degenerativas.

Não comece a bravejar contra o glúten enquanto toma Fanta uva e come uma pizza da Sadia. Seja coerente.

Vá à feira, aprenda a apreciar a beleza de frutas, verduras e legumes. Recupere seu paladar, perdido há tempo por causa de tanta comida processada. Cozinhe seu próprio feijão. Faça seus próprios doces. Você pode comer tudo, se preparar você mesmo. Além de saudável, cozinhar é uma experiência terapêutica de autoconhecimento melhor do que qualquer analista. E nada emagrece mais do que preparar a própria comida. A facilidade de pedir comida pelo iFood é o que realmente prejudica a saúde.

Se ainda quiser, você pode mesmo cortar o glúten do seu dia a dia. Ao longo de 7 dias, você vai sentir diminuir o inchaço corporal, perder um pouco de peso, ter uma digestão mais fácil e perder de experimentar alimentos incríveis, como o pão, que é um dos resultados tecnológicos mais importante da história da humanidade e que permitiu nossa evolução enquanto espécie. Não precisa cortar. Moderação é e sempre foi o segredo. Coma tudo, em pequena quantidade.

Sobre possíveis doenças, se vai evitar ou não alguma delas, ainda não sabemos. Mas, no final das contas, as estatísticas estão sempre certas e 100% das pessoas que ingerem alimentos acabam morrendo. O que você pode fazer é como prefere e tentar prolongar isso ao máximo.

Resumindo, em 7 dias de dieta sem glúten perdi uma semana. E você pode rever toda ela nos meus stories, com as descobertas dia a dia. É só seguir lá no @dimisssssssss que tem toda a compilação de vídeos.

Finalizando, essa experiência, com a ajuda da revista Dieta Já!, me proporcionou uma epifania! Decidi que a dieta ideal para minha vida é a do vinho. Se dá certo, eu não sei, mas o humor melhora consideravelmente.

Por Dimis
14/10/2018 16h16