Emocional e imaginativo, “Maria Callas” resgata trajetória de cantora lírica

Filme Maria Callas. Foto: Divulgação Reprodução.
Foto: Divulgação/Reprodução

Entre o delírio e a melancolia, “Maria Callas” mergulha no íntimo da cantora lírica que foi um marco da música. O filme estreia nesta quinta-feira (16/01) nos cinemas brasileiros. O longa-metragem de Pablo Larraín tem se destacado em festivais e premiações, com destaque para a performance de Angelina Jolie no papel-título.

A estrutura da história segue o estilo de outras produções do diretor chileno, como “Spencer” e “Jackie”. Tanto que o nome original traz apenas o primeiro nome “Maria”, uma forma de aproximar a figura retratada. Essa jogada percorre o longa, com a cantora caminhando entre ser Maria e ser “La Callas”, a mulher e a diva. O filme começa com o dia da morte da cantora, em 1977, voltando uma semana no tempo, acompanhando a sua jornada descendente.

Viciada em remédios, Maria (nascida Maria Anna Cecilia Sofia Kalogerópulos) vive isolada em Paris, em um apartamento gigantesco com muita mobília e poucos funcionários. Suas interações são majoritariamente com a auxiliar Bruna (Alba Rohrwacher) e o mordomo Ferruccio (Pierfrancesco Favino), em complexas relações. O mordomo adora a cantora, que por vezes o trata com elegante desprezo quando ele questiona sua relação com os remédios.

Delírio

Outra relação marcante é com Mandrax (Kodi Smith-McPhee), uma personificação do medicamento que causa alucinações. Ela o vê como um jornalista interessado em sua vida, para o qual decide revelar detalhes como a paixão por Aristotle Onassis (Haluk Bilginer) e seu passado. Maria era vendida a oficiais nazistas pela mãe, e a memória a aterroriza. Só os alucinógenos conseguem mantê-la sã, esquecendo o tratamento derrogatório da própria mãe ou até o desmerecimento do homem que ama.

O filme consegue revelar os talentos da cantora, apesar de focar mais no seu final de vida. O começo de “Maria Callas” é pouco criativo, mas logo a trama encontra sua voz. As cenas do início servem como contexto, relembrando o auge da cantora, mas são desnecessárias. São mais potentes as lembranças dela depois, se revisitando em grandes palcos, contrastando com suas tentativas de voltar à ativa mesmo depois de perder a voz.

Jornada

A visão melancólica de Maria Callas sobre a própria música consegue ser transposta para as telas pela visão de Larraín. A iluminação é marcante, especialmente dentro do apartamento. Quando Maria segue para os ensaios no teatro, também traz uma aura esperançosa, nos enquadramentos e luz, sempre com um tom de tristeza. A realidade fica à espreita, prestes a acabar com os poucos momentos de alegria da cantora.

Contrastando com “Spencer” e seu tom quase claustrofóbico e escuro, “Maria Callas” busca nos espaços amplos e no poder da luz revelar a solidão e a escolha de perecer, tomada pela cantora. O filme consegue homenagear uma figura, não muito próxima das novas gerações, de forma sensível. Pouco preocupado em tentar fazer Angelina Jolie se parecer fisicamente com a retratada, o diretor escolhe uma persona da grande diva, destacando mais a jornada emocional do que o rigor histórico. Fugindo do didatismo das cinebiografias, decisão acertada vista em outros trabalhos de Larraín, instiga a conhecer mais de La Callas artisticamente, enquanto revela aos poucos as angústias de uma das mais poderosas vozes do século XX.

Por Brunow Camman
16/01/2025 09h00

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