Crítica – Zoom

Este é um filme dirigido por Pedro Morelli, e, de antemão, é apenas isso o que você precisa saber. Acredite, você não pode prever nada deste filme. Inclusive, a primeira informação será desmentida logo mais.

Edward (Gael García Bernal) é um famoso diretor de cinema que está produzindo o seu terceiro longa, e que, ao querer mudar seu estilo cinematográfico, é confrontado por sua produtora. Dividido entre aceitar as modificações impostas pela produtora ou perder o orçamento de sua produção, Eddie ainda tem que lidar com uma inusitada situação que impede o seu poder de persuasão e afeta sua autoestima. Talvez seja importante ressaltar: Edward é uma animação.

Não querendo mudar de estilo, mas querendo mudar de profissão, em outro contexto, temos Michelle (Mariana Ximenes): uma brasileira que vive no exterior e trabalha como modelo. Ao enfrentar o desejo de escrever um livro, e não receber apoio de seu companheiro, ela busca no Brasil o seu renascer e inspiração para sua novela. Sua trajetória fugirá de seu controle quando descobrir o quanto sua vida influencia e é influenciada por outras pessoas, que sequer conhece, – e como isso pode ser libertador para a personagem.

Emma também procura se libertar, mas de um erro recém cometido. Em busca de um corpo perfeito, assim como os que ela fabrica manualmente em uma loja de bonecas, a personagem se submete a uma cirurgia plástica que altera sua rotina. Desesperada para ter sua vida de volta, com a ajuda de Bob, Emma enfrenta seus limites éticos e legais para recuperar o que perdeu, e entregar aos outros o que havia tirado.

Esses três personagens, com suas tramas individuais, configuram três curta-metragens dentro de um só longa, que justifica com responsabilidade a razão destes serem apresentados intercalados. Cada um com sua linguagem cinematográfica, o trio tenta desconstruir temas atuais, como a imposição descontrolada da ditadura da beleza afetando o corpo, a superficialidade imagética, mercado em contraposição a arte, os padrões relacionados à autoestima/autoconfiança e até mesmo o abuso que este poder e esta imposição manifestam nos relacionamentos. Tão presente é o assunto, que JoutJout e Caio (seu namorado) gravaram um vídeo sobre o filme, confira aqui.

A metalinguagem aqui presente talvez seja um dos pontos fortes da narrativa. Apesar de apresentar um roteiro bem estruturado e diálogos precisos, são nas cenas em que o filme debocha de padrões e os abraçam segundos depois que encontramos uma poesia crítica em sua narrativa, que desde o início está muito bem articulada com a montagem.

As sequências de Edward apresentam fortes indagações ao público sobre a relação entre o mercado e a arte, levantando questões sobre o papel do diretor e sua liberdade, além de quebrar – de maneira positiva – a estética do longa. E o ponto alto de sua jornada é descobrirmos que, na verdade, este personagem assume o papel de Pedro Morelli. Mas isso só poderá ser entendido, é claro, por quem ver o filme.

O longa é uma experimentação de estilo, que funciona e impressiona, e chega aos cinemas no dia 31/03.

https://www.youtube.com/watch?v=U-LGKs6JmaE

Por Rafael Alessandro
30/03/2016 21h51