CPF na nota? Teu c*

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Há anos comecei a colocar meu CPF nas notas fiscais. Virou um hábito e a maioria dos estabelecimentos que vou regularmente já nem pergunta se quero e coloca direto. Com isso, me sinto agindo corretamente. 

Mas acabei de tomar conhecimento de um fato que está me levando a pensar se vou continuar com esse hábito politicamente correto. Você sabia que cada vez que coloca o seu CPF na nota, todos os dados daquela compra ficam registrados? Não apenas o estabelecimento, a data e o valor da compra. Numa nota de mercado, por exemplo, aparece discriminado o que você comprou. Vinho, macarrão, tomate, manjericão, vela, óleo de massagem, camisinha, café solúvel, torradas e manteiga. Tudinho. O Estado fica sabendo das suas mudanças de status de relacionamento, emprego, cidade antes do Mark Zuckerberg (isso sim é falta de privacidade rs). É pra ficar p da cara mesmo.

Se fuçar no lixo de uma pessoa permite que você descubra quase tudo sobre a vida dela, saber o que ela compra diariamente, onde, a que horas e como ela efetua o pagamento é um verdadeiro scan no cidadão. 

Não estou criticando o conceito data driven. Pelo contrário, a inteligência no cruzamento de informações faz parte do meu dia a dia de trabalho e acho isso o máximo. O que questiono é em benefício de quem os nossos dados de consumo podem ser utilizados. Grandes marcas, candidatos políticos, indústria das multas? Sim. Provavelmente sim.

O genial mesmo seria transformar isso em serviço para a população.

Lucia Rosa, 65 anos, comprou apenas 4 litros de leite, 300g de queijo e nenhum iogurte neste mês. 

Cuidado com a osteoporose, Dona Lucia. Lembre-se sempre de ingerir alimentos ricos em Calcio, como leite e seus derivados, brócolis, grão de bico… e de realizar o exame de densitometria óssea a cada dois anos, pelo menos.

Daniela, 32 anos, comprou um teste de gravidez em maio e não comprou mais absorvente de lá pra cá. 

Você sabia que pode realizar seu pré-natal gratuitamente nos Postos de Saúde da sua cidade, Daniela? Se você está grávida e ainda não está fazendo o acompanhamento com um obstetra, clique aqui e agende uma consulta pertinho da sua casa.

Davi, 40 anos, pai do João de 8 anos, fez uma grande compra de roupas e calçados infantis.

Que tal doar roupas e calçados que não servem mais a famílias carentes da sua cidade? A Prefeitura tem um serviço de coleta de doações com hora marcada. Clique aqui e saiba mais.

Tanta coisa útil poderia ser feita com nossos dados. Mas não é. E isso me deixa mais braba do que ter descoberto que minhas futilidades, loucuras, gulodices e vícios são devassados pelo governo. 

Por Luciane Krobel
11/10/2021 16h00

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