De biarticulado, o veículo mais romântico da época

Chove não molha

Quem foi adolescente nos anos 80/90 não sabe o que é ter um crush na vida. Mas isso não quer dizer que essa geração não tenha boas histórias pra contar.

Certa vez uma donzela estava sendo cortejada. Não tratava-se de um duque, obviamente. Mas o cavalheiro tinha seus encantos.

Ela fazia cursinho no Largo da Ordem e ele se ofereceu para levá-la até em casa. De carro? De Uber? Nãooooo. De biarticulado, o veículo mais romântico da época.

No dia marcado, ao final da aula, lá estava ele, encolhido debaixo do beiral do prédio para se proteger da chuva torrencial daquela manhã, enquanto esperava a amiga.

Do lado de dentro do prédio, estava ela, tão ansiosa quanto desesperada com aquela chuva toda. Naquela época também não se usava a palavra frizz, mas as garotas sabiam muito bem o que era um cabelo espiga de milho debulhado pelo ar úmido. Sinal de mau agouro para um primeiro encontro.

Finalmente se encontraram. E o cavalheiro, como quem saca uma espada, empunhou seu guarda-chuva modelo automático. Ao apertar o botão mágico para acionar a armação da cobertura que protegeria o casal até o tubo da bela Carlos Gomes, viu seu guarda-chuva ser ejetado e sair quicando pela praça no meio do temporal.

O príncipe, que segundos atrás orgulhava-se da sua arma, ficou totalmente sem graça, só com o cabo do guarda-chuva na mão.

A donzela educada tentou, se esforçou, disfarçou, mas não conseguiu conter o riso. Uma risada tão gostosa, com os cabelos tão arrepiados, que a amizade, que nunca foi colorida, se eternizou nesse dia.

Fim