Cadê o estilingue?

Que atire a primeira ametista quem está conseguindo se manter zen nessa vida. Eu tenho a terrível fama de ser uma pessoa zen. Péra que vou explicar a razão de achar isso terrível. Teoricamente, é bacana ser uma pessoa good vibes, mas, na prática, é um problema: quem é zen não têm o direito de surtar e isso ser encarado como uma coisa normal. Afinal, zen é equilíbrio, é paz interior, é harmonia.

As pessoas me perguntam como eu faço pra não surtar. Como assim, não surtar? Você quer ter um ataque cardíaco? Está disposto a andar dopado vendo criaturinhas brilhantes? Não tem como não surtar. Acho que a pergunta mais humana é: como lidar com o surto? Com amor, com respeito e compreensão com você mesmo. Se está se sentido meio mal, graças a Deus, você está vivo e verdadeiramente em sintonia com o Cosmos. O Planeta não está bem. Então, o que podemos fazer de mais legal com a gente mesmo e com os que estão isolados desfrutando compulsoriamente da nossa companhia? Surtar de duas a três vezes por semana (ou conforme as orientações da sua mente). Fecha os vidros do carro e grita. Chora no chuveiro. Sai correr. Briga. Reclama. Soca almofada. Depois respira. Se precisar pedir desculpas a alguém, pede. Mas lida com suas angústias, seus medos, suas loucuras. Além, é claro, de aceitar também os surtos alheios.

Qual o problema de alinhar os chakras com o martelo de vez em quando?

Tem dias que simplesmente não dá para acalmar a mente com serenidade. Tentei. Há quase dois anos, domingo é dia de ficar em casa. Ontem, ao invés de passar o dia de pijama, resolvi me arrumar quando acordei. Tomei banho, vesti uma roupa de sair, sequei o cabelo, passei batom e o meu perfume favorito. Favorito, mas a tampa não fecha direito. Toda vez que vou tampar, ela não encaixa e fico me batendo até conseguir. Hoje fiz a tampa voar na parede. Quebrou, é óbvio. Mas nunca mais vou me irritar tentando fechar essa m*. Um pouco de brutalidade e os meus chakras ficaram mais enfileirados que o pessoal de 48 na fila da vacina.

Meu vizinho, cada vez que me vê, fala que sou um ser de luz. Eu agradeço e penso: “o senhor nunca me viu em curto-circuito.” Acho que todo mundo, #forabolsonaro, faz o possível pra ser luz. Ninguém quer passar pela vida sem deixar um brilhinho. E cada um segue sendo a luz que consegue ser: um dia holofote, outro abajur. Um dia sem bateria, outro ligada no 220.

O fato é que está todo mundo buscando equilíbrio e harmonia para manter a esperança. Cada um se apega ao que tem acesso e fé: meditação, oração, sono, vinho, conversa, esporte, energização. Opa, quase me esqueci das pedras energéticas. Se eu procurar, encontro aqui em casa vários tipos de gemas e cristais. Na minha cabeceira tenho uma turmalina negra, que purifica o ambiente e combate sentimentos negativos. Na mesa do trabalho, tenho um quartzo rosa, que é a pedra do amor e da confiança. Na minha gaveta de bijus, tenho citrino, ametista, ágata, água marinha, jaspe, ônix e várias outras. Mas a pergunta que não quer calar é onde eu guardei meu estilingue?

Por Luciane Krobel
28/06/2021 17h27