Um ano atrás, em 11 de março de 2020, foi confirmado o primeiro caso de covid-19 em Curitiba – e as consequências que outros lugares do mundo já enfrentavam há algum tempo chegaram à cidade. Nesse contexto, vidas e empregos se perderam, relações mudaram fundamentalmente e a incerteza tomou conta de nossas vidas. Por outro lado, a música se manteve ao lado de muitos, produzida por pessoas submetidas ao mesmo medo imposto pelo novo coronavírus a nós. Artistas, afinal, também temem.
“Tentamos seguir com a vida”, contaram Rodrigo Salles e Jessica Waltrick, da Cloud in Tears, em entrevista ao Curitiba Cult, que não ficaram imunes à proximidade das desgraças e sequelas da doença que tomou conta do planeta. Jessica, por sua vez, afirma: “Relatos mexem muito comigo. Acabo refletindo o que sinto com o que outros sentem.”
A ausência do contato com o público é suprida de outras maneiras, sejam virtuais, a exemplo da experiência de Salles com realidade virtual, ou de momentos intimistas, solitários. “Apago as luzes, deito-me em minha cama, fecho os olhos e canto como se estivesse em um palco”, exemplifica Jessica. “O palco é o ápice do ser artístico, o ponto mais sincero entre o artista e o fã”, acredita Siamese, em outro bate-papo com nossa equipe. Palco que, agora, em meio à pandemia, é uma casa, um quarto.
Facilidades do distanciamento físico, ainda que não desejadas, tornaram mais fluida a produção de conteúdo, reduzindo o trabalho envolvido em gravações e na execução de ideias, limitadas apenas fisicamente. Infelizmente, incorporar necessidades tão duras se traduziu em cansaço físico e mental. “Fazer cada coisinha cansa 10 vezes mais que antes”, lamenta Rodrigo.
Uyara Torrente, vocalista d’A Banda mais Bonita da Cidade, revela que passou por um período sem esperanças ou otimismo, o que a impossibilitou de empreender ações com o grupo, pois se negava a transferir ao público um sentimento que não gostaria de ter.
Então, em um processo de autodescoberta, se perguntou: “É isso o que temos? Como nos encontramos nesse lugar diferente?” A partir disso, tanto ela quanto Eduardo Rozeira, Vinícius Nisi, participantes da entrevista, e outros integrantes decidiram focar naquilo que poderiam fazer e diante do que tinham.
Todo o exercício aplicado em introspeção, comum aos entrevistados, aplicado nos últimos 365 dias e em contínua renovação, resultou em diálogos com outros artistas e formatos inéditos de expressão, lives produzidas em meio ao caos e ressignificação. À plateia, novos mundos, surgidos tanto a partir de si mesma quanto de quem se dedica a expressar o seu.
Não pense que o play que você dá em apresentações virtuais é tão simples quanto a entrega de quem as executa. A Banda Mais Bonita da Cidade, por exemplo, para lidar com a diferença temporal que existe entre o show e o feedback, explica que, além do desafio da autocrítica, um verdadeiro “rolê de guerrilha” deve ser superado, já que há menos espaço para o acaso. Assim, pesquisas técnicas extensas é que permitiram a criação de um novo método de confraternização, no qual também há uma troca de ideias com espectadores, uma taça de vinho e toda uma preparação para um evento caseiro.
Quanto à Cloud in Tears, descobriu a possibilidade de gravar músicas a distância ou, quando encontros são inevitáveis, com no máximo três pessoas, distantes umas das outras, algo que consideravam inviável antes da pandemia. “Conseguimos trabalhar e resolver mais coisas separados do que juntos”, brincam Jessica e Rodrigo, não sem um olhar pesado. Afinal, vêm à mente todos os planos cortados, as ideias de shows mirabolantes postergadas e o adiamento de eventos cancelados. “Experiências novas trazem mais inspiração. Estamos fechados em nossos mundos”, destaca Waltrick. O que não quer dizer que o novo normal ficará restrito ao agora. “O aprendizado vai se estender”, defende Salles.
Siamese assina embaixo. Isso porque respira arte e se inspira por cada luz em seu ambiente, dizendo que o importante é se reconectar ao que é mais urgente, às novas atitudes para um mundo mais plural, já que o social interfere nas particularidades. A imposição de padrões no cotidiano, ressalta, elimina a livre expressão. “Bora enviadescer, assumir o protagonismo. Cada vez mais ocupar os espaços. Temos que nos ver em todos os lugares. Nos mantermos orgulhosos de que quem somes e de onde nascemos.” Uyara complementa: “O risco é bonito.”
Quanto a você, que os acompanha ou a tantos outros, se faça presente com seus feedbacks, consuma e divulgue o trabalho de seus artistas preferidos, troque energia, compartilhe experiências. Se nada há de concreto para o fim de uma situação que nos soca a cada dia com toda a violência que carrega, “seja forte, em algum momento acaba”, aconselha A Banda Mais Bonita da Cidade. “Valorize seu conterrâneo enquanto ele promove cultura dentro da cidade”, indica Siamese. “A expectativa é o pós-pandemia”, conta Jessica.
Dê atenção a quem está presente na tela de seu celular, em sua caixinha de som, em seu fone de ouvido, que teme tudo quanto você e, ainda assim, é capaz de se estender. “É o que move a gente. É o que a gente sabe fazer”, finaliza Uyara.
Acompanhe os artistas entrevistados e não deixe de prestar seu apoio.
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Por fim, um recadinho de Jessica Waltrick, que conta com sua ajuda:
Pessoal, estou fazendo uma vaquinha pra ajudar com um tratamento. Tive várias convulsões no último mês e estou bem fraca. Então tive dificuldade pra trabalhar. Além disso, estou tendo muito gasto com médico, exames de alto custo, remédios etc. Domingo é meu aniversário, então se você quer me presentear e me ajudar nesse tratamento, pode doar pela vaquinha! Porém a vaquinha só aceita a partir de 25 reais 🙄 então se você preferir, pode enviar pelo PIX que aceita qualquer valor.
Meu pix: [email protected]
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