Arcos e Iris.docx

Foto: Reprodução

O feixe colorido rasgou o céu totalmente desprovido de nuvens daquele fim de tarde. Logo antes de rodar pelos milhares de stories que tomariam conta das redes nas próximas horas, também postei a explosão de cores. Era quatro de maio, quarta. 

Tomava o último gole d’água antes de sair, quando através da janela da cozinha as sete listras coloridas fisgaram meu olhar. Aquele pedaço de arco-íris terminando quase no terminal de ônibus do outro lado da rua, marcava o céu tão forte como luzes de palco em um show. Protagonizavam, o laranja e o vermelho acendendo aos olhos. Foi aí que com toda minha aptidão, cliquei em algum lugar certamente errado da tela do celular para focar em um ponto, e fotografei. A foto não captava nem um terço da beleza que eu via, mas como o trocadilho terminando no terminal estava dado demais, não consegui resistir e postei.

Minutos depois, tirava o carro da garagem e assim que virei a rua, estava lá ele de novo. E maior. Ia crescendo e desenhando um arco no céu (fazendo valer seu nome), como se riscando pinceladas com as sete cores de tinta da direita para a esquerda em busca de completar a volta. Almejava ser um arco-íris de Google ou de desenho animado. Não bastava o brilho e nitidez das cores, queria fechar o ciclo. 

O trânsito congelado do centro naquele fim de tarde nem parecia tão entediante com a presença ilustre do arco-íris cinematográfico. Alternava entre as três rádios procurando a melhor trilha para o espetáculo luminoso que só de cruzar os olhos já levantava o arco também do sorriso. A cada sinal vermelho, me contorcia dentro do carro para ver o traçado colorido cortado pelos prédios. Os pedestres do caminho levantavam a cabeça dos celulares para o céu. 

E em um desses cruzamentos que o sinal abre e fecha e abre e fecha e dá até preguiça de pisar no acelerador de tão nada que anda, distraída entre a luz do arco-íris e as notícias do rádio sobre o último dia para a regularizar o título eleitoral e o boom no número de cadastros de eleitores facultativos, errei o peso do pé e dei um totozinho no carro da frente.

Já esperando no mínimo um xingão pesado, gelei a espinha e arregalei os olhos quando o cara desceu do carro. Coloquei a cabeça para fora da janela, enquanto ele olhou o para-choque traseiro do carro dele. Deu um tapa para baixo no ar e falou Tá tranquilo. Não fez nada. Entrou no carro, e o trânsito finalmente fluiu – com o arco-íris acompanhando o trajeto até o destino final como se festejando o dia.

Por Raisa Gradowski
10/05/2022 17h52

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