A magia da curadoria audiovisual: O sucesso de “Ainda Estou Aqui” e os bastidores invisíveis do entretenimento

Ainda Estou Aqui. Foto: Divulgação.
Foto: Divulgação

Quando Fernanda Torres apareceu em “Ainda Estou Aqui, muitos foram cativados por sua atuação brilhante e pela profundidade emocional da trama, que a levou à merecida indicação ao Oscar. O filme, que explora a delicada jornada de uma mulher redescobrindo seu passado através de memórias fragmentadas, é mais do que uma obra de arte cinematográfica. Ele é um testemunho do poder da curadoria visual: fotos antigas, vídeos caseiros e trechos de arquivos que pontuam a narrativa, levando o público a uma conexão visceral com a história.

Por trás de cada uma dessas imagens aparentemente simples há um trabalho meticuloso de curadoria. Afinal, uma fotografia de infância, um vídeo capturado em uma câmera antiga ou até mesmo um pequeno trecho de uma canção podem carregar mais emoção do que palavras jamais poderiam transmitir. Essas escolhas não são feitas ao acaso; elas são cuidadosamente selecionadas para dialogar com o público, para evocar memórias e criar empatia.

Direitos autorais

No entanto, há uma camada invisível, muitas vezes ignorada, desse processo: os créditos. O reconhecimento de fotógrafos, cinegrafistas, músicos e artistas cujos trabalhos são reutilizados é essencial não apenas por ética, mas por força da lei de direitos autorais. No Brasil, a legislação é clara: qualquer utilização de material protegido por direitos autorais deve ser precedida de autorização ou estar amparada em exceções legais, como o uso jornalístico ou acadêmico. Quando falamos de obras no cinema ou na televisão, o terreno é ainda mais delicado, pois envolve questões de exclusividade, royalties e até mesmo a perpetuação da memória cultural.

Em “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Ana Lúcia Barreto, a curadoria visual é uma aula de sensibilidade. Cenas em que a personagem de Fernanda revisita seu passado são tecidas com vídeos caseiros (reais e simulados), fotos envelhecidas e recortes de jornais fictícios. Não é apenas uma escolha artística, mas uma estratégia para transformar a história em algo tangível. O uso dessas imagens exigiu uma equipe dedicada à pesquisa e ao licenciamento, garantindo que todos os materiais fossem utilizados legalmente e com os devidos créditos.

Impacto

O impacto disso é duplo. Por um lado, valoriza-se o trabalho dos criadores originais, algo que o público raramente vê ao ler os créditos finais (sim, eles são importantes!). Por outro, cria-se uma narrativa rica e autenticamente emocional, onde o espectador é transportado para dentro da história. Como não se emocionar ao ver as fotos desbotadas da infância da protagonista, emolduradas por uma trilha sonora nostálgica? Esse é o poder da curadoria audiovisual bem feita.

Mas, e se os créditos fossem ignorados? A ausência deles não apenas desrespeita os direitos dos autores, mas também abre precedentes para disputas judiciais, algo que nenhum projeto artístico merece enfrentar. Mais que uma exigência legal, creditar o trabalho criativo é uma forma de reconhecer o valor do passado na construção de histórias do presente.

No cinema e na vida, imagens e vídeos são pontes que conectam tempos e sentimentos. “Ainda Estou Aqui” é a prova de que a curadoria cuidadosa pode transformar uma boa história em uma experiência inesquecível. É também um lembrete poderoso de que, por trás de cada imagem que nos emociona, há um criador que merece ser lembrado.

Então, da próxima vez que você assistir aos créditos finais de um filme, resista à tentação de sair da sala. Ali estão as pessoas que tornaram possível não apenas a mágica da tela, mas também o respeito às histórias por trás dela. Afinal, o cinema, como a vida, é uma obra coletiva.

Texto produzido por PINC.

Por Brunow Camman
03/12/2024 17h06

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