O Solar no Palco é um evento que acontece todas as manhãs no Solar do Rosário durante o Festival de Curitiba. Lá ocorre um encontro com profissionais do teatro e imprensa para entrevistas e uma troca de ideias descontraída. O Curitiba Cult teve a oportunidade de conversar com o diretor da (tragi)comédia “Urinal – O Musical”, Zé Henrique de Paula, e Fernanda Maia, responsável pela direção musical do espetáculo.
“Urinal” é, na verdade, uma montagem brasileira da peça norte-americana vencedora de três prêmios Tony “Urinetown”, dos diretores Greg Kotis e Mark Hollmann. O espetáculo se passa em um futuro distópico no qual uma seca de 20 anos – período chamado de “Anos Fedidos” – resulta em uma crise insustentável. A solução foi cruel: os banheiros privados são abolidos e a população é obrigada a pagar taxas exorbitantes para usar banheiros públicos gerenciados pelo Patrãozinho, que é dono da empresa corrupta Companhia da Boa Urina (CBU). Caso alguém se recuse a pagar para fazer necessidades biológicas, a pessoa é presa e enviada para um lugar misterioso chamado Urinal, de onde ninguém jamais volta. A história acompanha a luta do personagem Bonitão contra o sistema e a favor da liberdade.
Zé Henrique de Paula já tinha participado da produção de musicais no Núcleo Experimental, um grupo teatral de São Paulo fundado em 2005. Zé trabalhou com a interação da linguagem da música e do teatro em espetáculos como “Senhora Dos Afogados”, obra de Nelson Rodrigues transformada em musical, e “As Troianas – Vozes da Guerra”. O musical “Urinetown”, que estreou na Broadway em 2001, despertou um interesse em Zé Henrique que durou mais de uma década. Seria a primeira vez que o diretor trabalharia com um texto pronto, mas ele desejava abordar os temas principais do musical por serem muito pertinentes à realidade brasileira. “Essa peça diz muito para nós hoje, mesmo sendo de 15 anos atrás. No ano passado, por exemplo, São Paulo viveu uma situação muito difícil com a crise hídrica e os racionamentos”, explica o diretor. O texto também se espalha para outros aspectos como a corrupção e a relação nociva entre o governo e grandes corporações. Era uma série de assuntos que Zé Henrique de Paula queria analisar e expor em forma de musical, flertando também com o teatro do absurdo.
Apesar de ter ficado em cartaz na Broadway, a peça original possui um formato muito mais inspirado em Brecht do que nos musicais tipicamente americanos. Segundo a diretora musical Fernanda Maia, a versão brasileira, que estreou em 2015 pelo Núcleo Experimental, buscou trabalhar com uma tríade, “nós queríamos experimentar fazer um texto que é um musical americano, inspirado em Brecht e de uma maneira brasileira”. Fernanda explica que, como a peça bebe na fonte de Brecht, o texto “não é meramente visto como entretenimento. Ele proporciona uma tensão entre o espetáculo e o público, além de propor um questionamento”.
Mas nem só de temas vive um musical. Há outros elementos que foram igualmente importantes para conquistar o sucesso em público e crítica de “Urinal – O Musical”, que recebeu 21 indicações a prêmios. Para o cenário, por exemplo, foi feita uma extensa pesquisa para criar uma atmosfera distópica e coerente com o contexto dos personagens. Quem assina a cenografia do espetáculo é o diretor Zé Henrique de Paula, que usou como referência várias imagens de estilos diferentes de Gotham City, becos vitorianos e banheiros públicos pelo mundo. Com essas inspirações, Zé Henrique montou no cenário o banheiro público número 9 e outros espaços com escada e níveis, aumentando as possibilidades de encenação. “A peça sugere um clima muito urbano, mas decadente por causa da sujeira, degradação e abandono do poder público. É um futuro distópico em que alguma coisa deu errado”. Zé afirma que o período da arquitetura vitoriana na Inglaterra também foi de grande inspiração, isso explica os tijolos à vista e as poucas aberturas que criam um clima maciço. Outro recurso arquitetônico usado foram as tubulações, que se estendem por todo o cenário. “Há muitas tubulações enferrujadas, tudo muito decadente e corroído pelo tempo. É quase como uma lembrança da época em que água passava por essas tubulações”, analisa o diretor.
Já a produção no aspecto musical do espetáculo é, segundo Fernanda Maia, diferente de alguns musicais que estão sendo montados em São Paulo ultimamente. Um dos motivos é que a produção buscou atores que não estavam tradicionalmente acostumados com o musical. Muitos atores que fazem parte do elenco não estavam familiarizados com o canto e, dessa forma, foi feito um trabalho sonoro respeitando as individualidades de cada um. Mesmo assim, Fernanda lembra que trabalhar com as músicas de Urinetown não foi uma tarefa fácil. “Esse é um musical com um material muito difícil. Não são músicas que se acomodam dentro de um gênero. Elas têm dissonâncias e a construção delas é feita para causar estranheza, justamente por se tratar de uma de uma sociedade distópica”, diz a diretora, apontando essa característica brechtiana (estranheza) que dialoga diretamente com o conteúdo da peça.
No livro “História Mundial do Teatro”, de Margot Berthold, há um tópico dedicado ao dramaturgo Bertold Brecht afirmando que ele acreditava na capacidade crítica do espectador. Como “Urinal” é inspirado no teatro de Brecht, o musical tenta, por meio da sátira, tirar o público de um estado de anestesia causado pela rotina e desprendimento da realidade. Isso reforça o papel determinante que o teatro exerce na vida das pessoas. “ A arte de um modo geral é algo transformador. E é preciso que os artistas se coloquem nessa posição de provocadores”, diz Fernanda Maia.
Esse fator provocador que o musical tem aborda de maneira irônica vários temas que estão em constante debate na atualidade: o comportamento de revolta do ser humano, perda de liberdades individuais e a insustentabilidade, só que um pouco mais exagerado. “É claro que na peça esses temas são tratados com cores muito mais fortes, pois ser proibido de fazer uma necessidade biológica é uma premissa absurda. Esse formato serviu para criar um clima de alegoria que passa a seguinte mensagem: o que a gente vive hoje pode, por nosso próprio descuido, ser distorcido para uma situação em que a gente perca até uma liberdade biológica”, fala o diretor Zé Henrique.
“Urinal – O Musical” certamente não é nada otimista em sua versão de um futuro distópico. E a razão disso, na visão de Fernanda, é o próprio ser humano e sua relação com o coletivo e um líder. “A peça dialoga com a necessidade que as pessoas têm de depositar sua fé, esperança e responsabilidade em um herói que terá o dever de libertar a todos. Não interessa em qual lado esse herói esteja, isso não funciona. O coletivo deve se organizar, conscientizar e parar de colocar suas decisões nas mãos de quem quer que seja”, opina Fernanda. Ela ainda comenta que uma possível saída para a humanidade evitar um futuro decadente está no trabalho coletivo, assim como acontece no teatro – uma arte essencialmente coletiva.
No Festival, o espetáculo teve duas apresentações nos dias 26 e 27 de março na Ópera de Arame. O musical continuará em temporada no Teatro Porto Seguro, em São Paulo. Continue acompanhando o Curitiba Cult para conferir outras matérias especiais da 25ª edição do Festival de Curitiba.
Foto destaque: Lina Sumizono
Data de Lançamento: 21 de novembro
Retrato de um Certo Oriente, dirigido por Marcelo Gomes e inspirado no romance de Milton Hatoum, vencedor do Prêmio Jabuti, explora a saga de imigrantes libaneses no Brasil e os desafios enfrentados na floresta amazônica. A história começa no Líbano de 1949, onde os irmãos católicos Emilie (Wafa’a Celine Halawi) e Emir (Zakaria Kaakour) decidem deixar sua terra natal, ameaçada pela guerra, em busca de uma vida melhor. Durante a travessia, Emilie conhece e se apaixona por Omar (Charbel Kamel), um comerciante muçulmano. Contudo, Emir, tomado por ciúmes e influenciado pelas diferenças religiosas, tenta separá-los, o que culmina em uma briga com Omar. Emir é gravemente ferido durante o conflito, e Emilie é forçada a interromper a jornada, buscando ajuda em uma aldeia indígena para salvar seu irmão. Após a recuperação de Emir, eles continuam rumo a Manaus, onde Emilie toma uma decisão que traz consequências trágicas e duradouras. O filme aborda temas como memória, paixão e preconceito, revelando as complexas relações familiares e culturais dos imigrantes libaneses em um Brasil desconhecido e repleto de desafios.
Data de Lançamento: 21 de novembro
A Favorita do Rei é um drama histórico inspirado na vida de Jeanne Bécu, filha ilegítima de uma costureira humilde, que alcança o auge da corte francesa como amante oficial do rei Luís XV. Jeanne Vaubernier (interpretada por Maïwenn) é uma jovem ambiciosa que, determinada a ascender socialmente, utiliza seu charme para escapar da pobreza. Seu amante, o conde Du Barry (Melvil Poupaud), enriquece ao lado dela e, ambicionando colocá-la em um lugar de destaque, decide apresentá-la ao rei. Com a ajuda do poderoso duque de Richelieu (Pierre Richard), o encontro é orquestrado, e uma conexão intensa surge entre Jeanne e Luís XV (Johnny Depp). Fascinado por sua presença, o rei redescobre o prazer da vida e não consegue mais se imaginar sem ela, promovendo-a a sua favorita oficial na corte de Versailles. No entanto, esse relacionamento escandaloso atrai a atenção e o desagrado dos nobres, provocando intrigas e desafios que Jeanne terá de enfrentar para manter sua posição privilegiada ao lado do monarca.
Data de Lançamento: 21 de novembro
Em A Linha da Extinção, do diretor Jorge Nolfi, nas desoladas Montanhas Rochosas pós-apocalípticas, um pai solteiro e duas mulheres corajosas se veem forçados a deixar a segurança de seus lares. Unidos por um objetivo comum, eles embarcam em uma jornada repleta de perigos, enfrentando criaturas monstruosas que habitam esse novo mundo hostil. Com o destino de um menino em suas mãos, eles lutam não apenas pela sobrevivência, mas também por redenção, descobrindo a força da amizade e o poder da esperança em meio ao caos. Essa aventura épica revela o que significa ser família em tempos de desespero.
Data de Lançamento: 21 de novembro
Baseado no musical homônimo da Broadway, Wicked é o prelúdio da famosa história de Dorothy e do Mágico de Oz, onde conhecemos a história não contada da Bruxa Boa e da Bruxa Má do Oeste. Na trama, Elphaba (Cynthia Erivo) é uma jovem do Reino de Oz, mas incompreendida por causa de sua pele verde incomum e por ainda não ter descoberto seu verdadeiro poder. Sua rotina é tranquila e pouco interessante, mas ao iniciar seus estudos na Universidade de Shiz, seu destino encontra Glinda (Ariana Grande), uma jovem popular e ambiciosa, nascida em berço de ouro, que só quer garantir seus privilégios e ainda não conhece sua verdadeira alma. As duas iniciam uma inesperada amizade; no entanto, suas diferenças, como o desejo de Glinda pela popularidade e poder, e a determinação de Elphaba em permanecer fiel a si mesma, entram no caminho, o que pode perpetuar no futuro de cada uma e em como as pessoas de Oz as enxergam.
Data de Lançamento: 20 de novembro
No suspense Herege, Paxton (Chloe East) e Barnes (Sophie Thatcher) são duas jovens missionárias que dedicam seus dias a tentar atrair novos fiéis. No entanto, a tarefa se mostra difícil, pois o desinteresse da comunidade é evidente. Em uma de suas visitas, elas encontram o Sr. Reed (Hugh Grant), um homem aparentemente receptivo e até mesmo inclinado a converter-se. Contudo, a acolhida amistosa logo se revela um engano, transformando a missão das jovens em uma perigosa armadilha. Presas em uma casa isolada, Paxton e Barnes veem-se forçadas a recorrer à fé e à coragem para escapar de um intenso jogo de gato e rato. Em meio a essa luta desesperada, percebem que sua missão vai muito além de recrutar novos seguidores; agora, trata-se de uma batalha pela própria sobrevivência, na qual cada escolha e cada ato de coragem serão cruciais para escapar do perigo que as cerca.