“Muito feliz de fazer parte dessa história”: Ana Botafogo comemora os 140 anos do Teatro Guaíra em entrevista exclusiva

Ana Botafogo em "Giselle" nos anos 1970. Foto: Arquivo CCTG.
Foto: Arquivo CCTG

Grandes nomes das mais diferentes expressões artísticas não apenas passaram como também iniciaram suas carreiras no Teatro Guaíra. A bailarina Ana Botafogo, uma das mais renomadas bailarinas no Brasil, é uma dessas artistas. Depois de completar sua formação na Europa, foi no palco do teatro curitibano que ela estrelou sua primeira protagonista. Nessa entrevista exclusiva para o Curitiba Cult, comemorando os 140 anos do Teatro Guaíra, Ana Botafogo relembra momentos marcantes da sua carreira e suas passagens pelo centro cultural.

1 – Como começou sua história com o Teatro Guaíra?

Eu fui convidada pelo Teatro Guaíra para fazer minha primeira protagonista. Tinha recém chegado da Europa e a dança no Rio de Janeiro estava um pouco estagnada. O Theatro Municipal estava fechado para obras e o balé não dançava. Surgiu a oportunidade de eu dançar com o Teatro Guaíra – primeiramente apenas alguns espetáculos do balé “Giselle”, que foi minha primeira protagonista. Assim começou minha história. Fizemos no Teatro Guaíra, depois fizemos um pouco de interiorização da cultura, não só com “Giselle”, mas com outro programa. E eu fui lançada em várias capitais como a bailarina protagonista do balé “Giselle”. Fomos dançar em São Paulo, e viemos dançar no Rio. Assim, minha primeira aparição como bailarina profissional no Rio de Janeiro foi com o Teatro Guaíra. Meu encantamento com todos do Guaíra e com essa companhia jovem, que se renovava naquele momento, me fez querer muito continuar os trabalhos com o Balé Teatro Guaíra, e acabei ficando dois anos. Minha participação foi em 1977, 78 e 79.

Ana Botafogo em "Giselle" nos anos 1970. Foto: Arquivo CCTG.

Ana Botafogo em “Giselle” nos anos 1970. Foto: Arquivo CCTG.

2 – Você fez parte da sua formação no grupo do Teatro. Quais momentos marcantes dessa formação?

A Companhia do Teatro era uma companhia profissional, então foi minha primeira companhia profissional no Brasil, o primeiro contrato que assinei no Brasil foi com o Balé Teatro Guaíra. De momentos marcantes, diria que foi minha estreia no balé “Giselle”, que foi minha primeira protagonista, e depois, dançar esse balé em capitais, me lançando, assim, no circuito cultural da dança no nosso país.

3 – Você voltou diversas vezes para o Palco do Guaíra apresentando diversos espetáculos. Quais os mais marcantes?

Depois do Guaíra, voltei para o Rio de Janeiro, onde dancei na Associação de Balé do Rio de Janeiro e, um pouco depois, fiz uma audição e entrei já como primeira bailarina para o Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Depois dessa etapa, eu fui muitas vezes chamada a participar de temporadas do Teatro Guaíra. Eu diria que os mais marcantes foram “O Quebra-Nozes”, “Dom Quixote”, que eu fiz que eram grandes clássicos que fiz junto com a companhia. Numa época em que a companhia dançava contemporâneos e neoclássicos do coreógrafo Carlos Trincheiras, diretor da companhia, mas nos grandes clássicos, eles me convidavam. E tive a oportunidade de convidar o Jair Moraes para dançar no Theatro Municipal no Rio de Janeiro – ele que era o primeiro bailarino do Teatro Guaíra anos depois da minha saída.

4 – Como é para você fazer parte da história do Teatro?

Muito feliz, porque o Guaíra foi responsável pela minha introdução na área artística aqui no Brasil. Fico muito feliz de fazer uma parte dessa história. O Teatro Guaíra me lançou nacionalmente com minha primeira protagonista no balé. É muito relevante dentro da minha história. Um teatro que tem tanta história, que formou grandes artistas. Fico muito feliz de poder não só ter levado um pouco o nome do Guaíra nacionalmente, como muitas pessoas, como sabiam que eu tinha começado no Teatro Guaíra, achavam até que eu era paranaense ou curitibana, por eu ter começado, ter despontado aí. Foi sempre muito estimulante saber que eu fazia parte da história desse teatro, e também de um corpo de baile que, naquele momento, era muito jovem, que recebeu e que abraçou uma bailarina jovem também em início de carreira fazendo um primeiro papel.

5 – Como vê a importância da existir um centro cultural como o Guaíra para a arte e cultura do Paraná?

A importância do Teatro Guaíra como um centro cultural e como um difusor das artes, da dança, da música e também do canto (apesar de não ter um corpo estável de coral), sobretudo para a região Sul do país, foi uma referência. Muitos artistas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina tinham oportunidade ou chegavam mais facilmente ao Teatro Guaíra, e fizeram suas carreiras. Então é uma importância para a arte e para a cultura, e uma importância regional. O Teatro foi muito responsável, durante um determinado momento, de fazer a interiorização da cultura. Eu mesma viajei muito para o interior do Paraná, fosse aos teatros, fosse em palcos montados em praças, onde fosse possível levar nossa arte para que pudesse educar o povo do interior do Paraná.

6 – Você já foi preparadora de cena de espetáculos como “Dom Quixote”. Qual a diferença de se apresentar no palco como bailarina e o preparo de corpo artístico para se apresentar no Guaíra?

No ano passado, tive a oportunidade de dirigir, junto com Nicole Vanoni, diretora da Curitiba Cia de Dança, uma suíte de “O Quebra-Nozes” que foi encenada no Teatro Guaíra com muito sucesso de público, da crítica curitibana. Qual a diferença? Como bailarina, tive grandes emoções, tenho memórias e recordações desse público querido que ainda me recebe muito bem por conta de tudo o que já fiz em minha carreira, no Teatro Guaíra. Muitas vezes me apresentei, ou com escolas, ou com minha própria companhia, o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no palco do Teatro Guaíra. Ser preparadora é um novo momento, ser a diretora artística de um espetáculo também é o que me dá muito prazer, foi um momento de transição quando saí do palco para bastidores, atrás das cortinas. Sempre é muito bom voltar ao Teatro Guaíra, voltar a estar frente a frente com esse público que me recebe sempre tão bem. Esse ano, tive a alegria de ter sido convidada e agraciada com o título de cidadã honorária de Curitiba. E claro, o Guaíra é um dos grandes responsáveis por eu ter recebido esse título.

7 – Qual a emoção de subir ao palco do Guaíra?

É sempre uma grande emoção, um grande palco, com um grande público, e com artistas e técnicos e funcionários que sempre me acolheram com muito, muito carinho. Voltar ao palco do Teatro Guaíra é sempre voltar com alegria e voltar a relembrar grandes momentos do início da minha carreira. Em três pensamentos: coração que bate, lágrima que sobe aos olhos e a certeza de que tudo não foi em vão. Obrigada, Curitiba. Obrigada, Teatro Guaíra!

Por Brunow Camman
12/10/2024 10h00

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