20 anos sem Mamonas Assassinas

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Assusta pensar que faz 20 anos que os Mamonas morreram. Assusta porque faz duas décadas e isso parece tanto na soma que esqueço que o tempo escorre pelas mãos e vira marca no nosso rosto e dores nas costas. Mas assusta ainda porque, desde então, paira uma pergunta que ninguém terá a resposta: teriam eles mantido a estratosférica carreira nos anos seguintes ao estouro de 1995/1996? Eu, que não sou teórico cultural, nem integrante do showbizz, não sou capaz de opinar, mas, como jornalista, curioso e, principalmente, consumidor da cultura pop, não deixo de pensar sobre a carreira artística da banda.

Nunca se questionou o talento dos Mamonas Assassinas. E quando falo do questionamento, eu falo é que a alegria, a irreverência e a espontaneidade dos rapazes sempre ficou acima da obra deles ser boa ou não, isso é, não se discutia a qualidade sonora dos garotos. Tenho várias ressalvas ao álbum que levou os rapazes à fama, mas o conjunto da obra é bom porque é diversificado e não faz parecer ser sério – mas no fundo é. O que a indústria cultural nos anos 90 entregava eram bandas de axé e duplas sertanejas, enquanto os Mamonas apareceram com um contrassenso de trazer um rock despretensioso, grosseiro, menos crítico do que o das bandas dos anos 80 e mais plural que todas as que vieram depois. O cenário foi propício.

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É difícil imaginar como a produção dos Mamonas estaria hoje. Suponho que seria algo menos escatológico e até mais autoral; a tentativa da antiga banda do Dinho já tinha premissa similar, mas, como sabe-se, não foi adiante. Talvez com a garantia do sucesso astronômico, a banda teria liberdade de tentar, em discos futuros, essa alternativa. Até porque estariam mais velhos, longe dos 20 e poucos anos. Eu lamento não poder ver os Mamonas sem as roupas de super-herói, as piadas infantis, incorretas e a extravagância nos maneirismos. No fundo, ao ouvirmos o álbum lançado – e eu faço isso agora, enquanto escrevo, até como um ato saudosista – é possível identificar uma variedade sonora incrível que não pôde ser explorada.

Esse meu desejo de conferir algo diferente deles é de hoje, pois na época, eu então com sete anos, queria era mais do hoje eu digo ser o mesmo. O acidente trágico e repentino foi meu primeiro contato com a morte de um grande ídolo nacional – não tenho memória para lembrar da morte do Senna, mesmo sendo pouco antes. A edição do Fantástico daquele final de semana é ainda muito clara na minha mente, com recortes de imagens de fãs aos prantos, simulações do acidente e imagens de arquivo da banda. Tudo tinha um sabor amargo e desconhecido, uma aura soturna e sombria em uma realidade que, até então, não permitia tristeza. Uma geração de moleques chorou pela primeira vez a morte de seus ídolos. Talvez daí a necessidade de se lembrar sempre dos Mamonas como irreverentes, engraçados, divertidos,… no fundo, que seja essa a memória que trazemos juntos, mesmo há 20 anos.

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Por William Saab
02/03/2016 20h21