Sabe-se que o patriotismo norte americano é sempre exaltado e explorado em diversas produções hollywoodianas. O American Way of Life, que se firmou após as duas guerras mundiais, pregava um modelo ideal de vida com padrões de comportamento relacionados ao consumo, religião e principalmente nacionalismo. Décadas depois tal estilo de vida continua sendo refletido no cinema, colocando o estadunidense constantemente na pele do herói e sendo exaltado perante outras nacionalidades. Essa fórmula tão repetitiva ao longo de décadas vem sendo abraçada pela The Academy (sim, aquela que seleciona os finalistas e vencedores do Oscar) e não é difícil imaginar o porquê.
O fato é que graças a alguns diretores, que optaram por retratar outras narrativas e ampliar nossas perspectivas, podemos acessar uma realidade norte-americana, que por conveniência é frequentemente esquecida. Conheça a seguir 03 produções que trazem protagonismo para os excluídos da América.
Provavelmente o mais popular da lista, seja pela excelente direção e roteiro de Sean Baker, ou pela indicação de William Dafoe ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, o filme traz um retrato cru e muitas vezes incômodo sobre a vida de algumas famílias que vivem em móteis pela estrada que leva até o parque Walt Disney World. São prédios multicoloridos, esteticamente atraentes, batizados com nomes como “Magic Castle”, por exemplo, mas que escondem tanta pobreza e insalubridade que acabam fazendo um contraste curioso com o “lugar mais feliz da Terra”.
As personagens centrais da história são Moonee (Brooklin Prince), uma garotinha de 6 anos e sua mãe Halley (Bria Vinaite), que juntas dispõem de uma química tão verossímil em cena, que às vezes o filme parece ter um caráter documental. O fato é que há um certo encanto na vulgaridade expressa pelos personagens, que nos conquistam simplesmente por serem humanos. Moonee é jovem demais para entender o seu lugar no mundo, mas já parece ter sagacidade o suficiente para saber como encarar sua própria realidade. Por outro lado, Halley exala falta de maturidade, mas talvez seja isso que a aproxima tanto da filha. A narrativa é emocionante e mostra que em meio ao caos e a anarquia, ainda há um pouco de empatia. O destaque para o personagem de Dafoe como síndico, talvez seja por sua presença paterna figurativa para diversas famílias encabeçadas por mães solteiras que vivem ali, sendo uma referência de autoridade, mas também de humanidade.
O filme está disponível no Brasil, através da plataforma Amazon Prime.
Inicialmente parecemos estar diante de mais um filme adolescente, que irá abordar à sua maneira as trivialidades e dificuldades de se atravessar a fase escolar, onde haverá um final celebrando alguma lição de maturidade, mas na verdade é muito mais do que isso, ou nada disso. Sem muito aprofundamento, o filme começa retratando um dia corriqueiro em uma escola pública de Portland, chamando atenção para tópicos como bullying, ansiedade social e bulimia. Uma série de cortes nos faz ir acompanhando, até então sem razão específica, a rotina de alguns alunos através de uma perspectiva subjetiva, é como se estivéssemos seguindo cada um deles de maneira discreta e observando todos os seus passos.
Aos poucos a narrativa se centraliza entre dois personagens centrais, Alex (Alex Frost) e Eric (Eric Deulen), uma dupla de amigos que compartilha da mesma rejeição e dificuldade de se encaixar na escola e provam como o saldo disso pode ser de extrema gravidade. Com uma espantosa praticidade, Alex e Eric decidem comprar armas pela internet e é aí que tudo parece começar a se desenrolar. O diretor Gus Van Sant decide falar sobre o “elefante na sala” e faz referência ao massacre de Columbine, quando dois jovens invadiram a própria escola armados e executaram 13 pessoas antes de tirarem suas próprias vidas. O filme tem um caráter intimista, por isso acaba focando muito mais nas ações e comportamentos do que em diálogos, proporcionando cenas com muita potência.
O filme foi premiado no ano de seu lançamento no Festival de Cannes por sua direção e encontra-se disponível no Brasil através da HBO Go.
Se você tem estômago fraco, esse filme não é para você. O filme altamente transgressor e quase distópico de Harmony Korine traz um retrato pouco palatável do que é ser um white trash, termo utilizado para se referir a classe de pessoas brancas marginalizadas e com pouca ou nenhuma instrução. A narrativa está ali, mas não há necessariamente um caminho. O que existe é uma sucessão de enredos que testam o nível de repulsa do espectador e nos fazem questionar os limites do ser humano quando ele sente que não tem nada a perder. O cenário é uma cidade que “sobreviveu” após a passagem de um furacão e ao longo do filme acompanhamos um dia corriqueiro de dois amigos que dividem seu tempo entre usar droga barata e cometer crimes contra animais. A exploração sexual e assédio também são abordados ao longo do filme, que abre mão de qualquer filtro ou pudor para nos poupar de algum desconforto, pelo contrário, esse parece ser o efeito a ser instigado. Pode soar como sadismo indicar para alguém esse filme, o fato é que o cinema em sua condição de Arte, não deve necessariamente ser um objeto de contemplação, ele pode servir como um instrumento de denúncia ou representação pura de uma sociedade. Podemos facilmente ignorar a obra de Korine, mas não é tão simples ignorar a realidade.
O filme encontra-se disponível somente na Amazon Prime estadunidense.
Se você também é fã de música e cinema, essa coluna é ideal pra você. Se às vezes bate aquela dúvida sobre qual filme assistir ou aquele cansaço de ouvir sempre as mesmas cinco músicas da sua playlist, então toda quarta, quem sabe, eu possa te ajudar. Cada semana vai ter um texto novo sobre aquele filme que você precisa ver, um artista que mais gente precisa conhecer, ou um álbum que você vai gostar de ouvir. Ah! E a coluna se chama Discolagem, salva aí pra não esquecer.
Data de Lançamento: 21 de novembro
Retrato de um Certo Oriente, dirigido por Marcelo Gomes e inspirado no romance de Milton Hatoum, vencedor do Prêmio Jabuti, explora a saga de imigrantes libaneses no Brasil e os desafios enfrentados na floresta amazônica. A história começa no Líbano de 1949, onde os irmãos católicos Emilie (Wafa’a Celine Halawi) e Emir (Zakaria Kaakour) decidem deixar sua terra natal, ameaçada pela guerra, em busca de uma vida melhor. Durante a travessia, Emilie conhece e se apaixona por Omar (Charbel Kamel), um comerciante muçulmano. Contudo, Emir, tomado por ciúmes e influenciado pelas diferenças religiosas, tenta separá-los, o que culmina em uma briga com Omar. Emir é gravemente ferido durante o conflito, e Emilie é forçada a interromper a jornada, buscando ajuda em uma aldeia indígena para salvar seu irmão. Após a recuperação de Emir, eles continuam rumo a Manaus, onde Emilie toma uma decisão que traz consequências trágicas e duradouras. O filme aborda temas como memória, paixão e preconceito, revelando as complexas relações familiares e culturais dos imigrantes libaneses em um Brasil desconhecido e repleto de desafios.
Data de Lançamento: 21 de novembro
A Favorita do Rei é um drama histórico inspirado na vida de Jeanne Bécu, filha ilegítima de uma costureira humilde, que alcança o auge da corte francesa como amante oficial do rei Luís XV. Jeanne Vaubernier (interpretada por Maïwenn) é uma jovem ambiciosa que, determinada a ascender socialmente, utiliza seu charme para escapar da pobreza. Seu amante, o conde Du Barry (Melvil Poupaud), enriquece ao lado dela e, ambicionando colocá-la em um lugar de destaque, decide apresentá-la ao rei. Com a ajuda do poderoso duque de Richelieu (Pierre Richard), o encontro é orquestrado, e uma conexão intensa surge entre Jeanne e Luís XV (Johnny Depp). Fascinado por sua presença, o rei redescobre o prazer da vida e não consegue mais se imaginar sem ela, promovendo-a a sua favorita oficial na corte de Versailles. No entanto, esse relacionamento escandaloso atrai a atenção e o desagrado dos nobres, provocando intrigas e desafios que Jeanne terá de enfrentar para manter sua posição privilegiada ao lado do monarca.
Data de Lançamento: 21 de novembro
Em A Linha da Extinção, do diretor Jorge Nolfi, nas desoladas Montanhas Rochosas pós-apocalípticas, um pai solteiro e duas mulheres corajosas se veem forçados a deixar a segurança de seus lares. Unidos por um objetivo comum, eles embarcam em uma jornada repleta de perigos, enfrentando criaturas monstruosas que habitam esse novo mundo hostil. Com o destino de um menino em suas mãos, eles lutam não apenas pela sobrevivência, mas também por redenção, descobrindo a força da amizade e o poder da esperança em meio ao caos. Essa aventura épica revela o que significa ser família em tempos de desespero.
Data de Lançamento: 21 de novembro
Baseado no musical homônimo da Broadway, Wicked é o prelúdio da famosa história de Dorothy e do Mágico de Oz, onde conhecemos a história não contada da Bruxa Boa e da Bruxa Má do Oeste. Na trama, Elphaba (Cynthia Erivo) é uma jovem do Reino de Oz, mas incompreendida por causa de sua pele verde incomum e por ainda não ter descoberto seu verdadeiro poder. Sua rotina é tranquila e pouco interessante, mas ao iniciar seus estudos na Universidade de Shiz, seu destino encontra Glinda (Ariana Grande), uma jovem popular e ambiciosa, nascida em berço de ouro, que só quer garantir seus privilégios e ainda não conhece sua verdadeira alma. As duas iniciam uma inesperada amizade; no entanto, suas diferenças, como o desejo de Glinda pela popularidade e poder, e a determinação de Elphaba em permanecer fiel a si mesma, entram no caminho, o que pode perpetuar no futuro de cada uma e em como as pessoas de Oz as enxergam.
Data de Lançamento: 20 de novembro
No suspense Herege, Paxton (Chloe East) e Barnes (Sophie Thatcher) são duas jovens missionárias que dedicam seus dias a tentar atrair novos fiéis. No entanto, a tarefa se mostra difícil, pois o desinteresse da comunidade é evidente. Em uma de suas visitas, elas encontram o Sr. Reed (Hugh Grant), um homem aparentemente receptivo e até mesmo inclinado a converter-se. Contudo, a acolhida amistosa logo se revela um engano, transformando a missão das jovens em uma perigosa armadilha. Presas em uma casa isolada, Paxton e Barnes veem-se forçadas a recorrer à fé e à coragem para escapar de um intenso jogo de gato e rato. Em meio a essa luta desesperada, percebem que sua missão vai muito além de recrutar novos seguidores; agora, trata-se de uma batalha pela própria sobrevivência, na qual cada escolha e cada ato de coragem serão cruciais para escapar do perigo que as cerca.