Você já salvou alguém hoje?

Eu gosto e prefiro falar divertidamente, debochar de mim mesma, achar graça nas desgraças. Mas, hoje, sinto que preciso e devo reproduzir, com toda minha seriedade e respeito, um texto que convida a uma reflexão importante sobre transtornos que estão muito mais presentes em nossas vidas do que a gente pode, ou quer, imaginar.

Então, ao invés de tentar fazer você rir das coisas que eu faço, vejo e vivo, quero te convidar pra vir comigo e pensar em como a gente pode agir para colocar uma risada na carinha de alguém que realmente está precisando encontrar motivos para sorrir.

Esta é uma carta aberta a você, que convive com alguém que tem medo porque não reza, que encontra problema onde não existe, que vive triste porque não dá valor no que tem.

A primeira coisa que eu gostaria de dizer é que a probabilidade de estar enganado sobre suas definições é grande. Síndrome do pânico, depressão, ansiedade e outros transtornos psicológicos e emocionais NÃO SÃO FRESCURAS. São doenças. Só no Brasil, mais de 11,5 milhões de pessoas estão sofrendo com algum destes problemas neste momento, segundo a OMS. Ou seja: tem muito mais gente, pois a maioria das pessoas sofre solitariamente e sem diagnóstico.

A depressão, o pânico, a ansiedade doem na alma, isolam, desesperam, paralisam. A sensação é de estar só passando pela vida e não vivendo.

E sabe o que mais corrói? A solidão. Arrisco dizer que a maioria das pessoas que sobrevive com esses problemas, encara seus monstros sozinha, rindo na janela e se descabelando no chuveiro.

Como se não fosse o bastante o medo de morrer, de perder alguém, do avião cair, do seu bebê ser picado por uma aranha marrom enquanto você cochila, de tudo dar errado, tem ainda o medo de ser julgado e deixar de ser amado. Sim, a insegurança é tamanha que o próprio paciente faz autojulgamento e, muitas vezes, experimenta a sensação de estar com raiva de si mesmo, porque nada faz sentido dentro da sua cabeça e do seu coração.

Eu não convivo com alguém assim. Mas falo sem medo (uau! sem medo) porque fui alguém assim. Tive síndrome do pânico e depressão e mantenho meu tratamento de manutenção até hoje. Já fui no fundo do poço algumas vezes. E, em 2015, passei do fundo. Achei que não conseguiria subir de novo. Foi quando cheguei mais perto de perder completamente o controle. Não perdi. Graças a Deus, porque eu rezo sim. Graças à minha condição privilegiada, porque tive acesso a terapias, medicamentos, tratamentos alternativos. E graças a ter conseguido romper a barreira da falta de esperança e enxergar o valor de tudo que tenho. Ou melhor, de todos que tenho. Porque foi meu amor pelas pessoas importantes pra mim que me deu coragem para continuar a nadar. Falo do meu amor por elas, porque, em muitos momentos difíceis, não vi o amor deles se materializar em atitudes ou gestos, mesmo tendo certeza absoluta que sou muito amada. Não acho que foi maldade, é óbvio que não, mas foi um reflexo claro de que as pessoas simplesmente não sabem como lidar. E, sem saber lidar, banalizam, diminuem, julgam, fingem que não enxergam.

Por isso, peço: ouça, acolha, abrace, esteja perto. Você não precisa saber lidar, tampouco resolver as dores emocionais do outro. Você só precisa dizer que acredita, respeita e que está ali porque quer estar e faz questão de ficar. Isso pode salvar vidas. <3

Por Luciane Krobel
06/09/2021 14h25