Treze de Julho.docx

Como em um encaixe divino, segundo línguas amigas, a coluna dessa terça, treze de julho, trombou com um dia ímpar: meu aniversário. Também um dia ímpar e festivo para o rock, para o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e para outras milhares de cancerianas espalhadas pelo mundo.

Olhando no espelho pela manhã, vi em meu rosto um paradoxo etário. Junto com a pequena mecha do lado direito do cabelo, desenhada pelos fios brancos – que apareceram muito antes da hora, talvez por alguns genes ansiosos pela maturidade – e junto com algumas marcas de expressão gritando que o meu De Repente 30 já chegou faz um par de anos – ou uma pandemia praticamente inteira – me aparece uma espinha quase no queixo, também do lado direito.

Não sei se esse terrorismo da aparição da espinha no meio da cara, como aconteciam nos filmes e histórias de High School americano, também amedronta a Geração Z. Mas na nossa adolescência, espinha era um fato relevante. E até hoje, por mais que não tenha tido problemas pessoais com a temática, quando aparece uma espinha, me vem a saudosa adolescência. Era um claro marcador daquele período. E não um marcador que a galera queria ter, como colocar aparelhos nos dentes atestando o Sou Adolescente.

Pensando nessa adolescência e em outros tempos remotos, caminho pelo meu rosto examinando traços do que já vivi. Chego no nariz. Ele eu já quebrei duas vezes. Não quebrei braço, perna, dedo, nem nada que precisasse engessar. Mas, o nariz que não é com gesso que arruma? Foram duas. Os dentes? Também sem gesso. Quatro. E braço quebrado para assinarem o gesso na escola, que era algo que eu realmente almejava? Nenhuma.

Certa vez, comprovada por fotos recém tiradas de dentro do baú, cheguei a enfaixar o punho esquerdo, sem ter torcido ou machucado, só porque era super cool aquele visual. Mas, mesmo tendo passado algumas vezes por um triz de ter um gesso no braço – super assinado e desenhado, com canetas coloridas, e mensagens hoje extremamente cringes (será que usei certo?) – esse desejo infantil, inconsequente e dolorido, não realizei. Ainda bem. Os sonhos mudam, os desejos mudam. Se não mudassem, eu estaria agora em uma cápsula fazendo viagens espaciais, talvez com o braço enfaixado. E só de imaginar aquele espaço minúsculo, me dá falta de ar e o coração palpita.

Apesar de todos os caminhos previsíveis e imprevisíveis que fui seguindo, olho fundo nos meus olhos, em um momento reflexivo de final de ciclo, e percebo que aqui dentro ainda moram todos os eus que já vivi – e como os vivi. E agora, pelo espelho, enxergo meu sorriso abrindo para essa nova idade. Com minha calça Skinny, meu cabelo para o lado, feliz com esse trajeto, hoje assopro a vela. Espero que no próximo ano, em cima do bolo. 😂

Por Raisa Gradowski
13/07/2021 17h43